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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OUTONO QUENTE, OUTONO FEMININO?



Depois das tristezas eleitorais, temos o privilégio de um Outono quente. Oferta enigmática e quiçá inquietante.
Como interpretar este aquecimento climático, serão os trinta graus um mau prenúncio? Será que a nomenklatura socialista vai continuar a massacrar-nos, ou será que o "jovem" Sócrates vai finalmente descobrir que nem tudo o que luz é ouro?
Anuncia-se menos pobreza, mais alegria, mais justiça, mais respeito, menos arrogância?

No meio desta perplexidade outonal, a televisão, por uma vez, contribuiu para me dar algum alento. É que me foi dado ver algumas das novas deputadas que se vão sentar nos cadeirões de S. Bento.
Num dia outonal como os de antigamente, isto não teria qualquer espécie de interesse.
Mas de repente no dia de hoje surge qualquer coisa nova e interessante, passe a redundância, reais novidades e até alguns sinais de esperança. Ou apenas ilusão climática?


Não fixei os nomes de todas as novéis de S. Bento apresentadas pela TV.
A única personagem que consegui identificar é uma jovem mulher de cinema relativamente bem conhecida e que, aliás, mora em Paris, tem lá a sua família. Primeira novidade inquestionável, primeiro sinal de esperança: estamos mesmo a ficar cosmopolitas, o parlamento vai ter uma deputada que mora em Paris.
Assinale-se, não se trata de uma eurodeputada que durante a semana trabalha em Bruxelas e ao fim de semana vem ver a família que mora em Lisboa e arredores, ou seja, em Portugal. O caso é muito mais interessante, vislumbro aqui uma espécie de entrismo francófono de estilo trotzsquista no parlamentarismo português, soyez la bienvenue, Madame!

Das artes, vem também uma das novas deputadas do BE, tem um ar muito decidido, gostei, não fixei o nome, peço desculpa, fica para a próxima, haverá certamente oportunidade para isso.

Outras duas novas deputadas são particularmente bem vindas, são mais jovens, são especialmente bem apessoadas, dá gosto vê-las, elles ont l’air du temps, estou completamente farto daquelas chipalas manhosas que me entram pela casa dentro a propósito dos conciliábulos parlamentares. Alegria, alegria, venha a nova geração, venha gente com bom aspecto! Novas ideias, novas políticas?


Quatro novas deputadas, uma eleita pelo PS, outras pelo PSD, pelo PC e pelo Bloco, o espectro partidário, quoi! Estamos no bom caminho.
Mas, dirão, falta o CDS. Não é verdade. É que a TV também mostrou uma nova deputada, a Assunção Cristas, mas o contexto dessa apresentação foi outro, de significado mais forte.
Reparem, ela apareceu ao lado direito do Paulo Portas na cerimónia de negociações em S. Bento com o Sócrates por causa do novo governo.
Como interpretar o seu lugar nessa liturgia televisiva? Não é ousado depreender-se que ela é apresentada como o número dois do CDS. Significado óbvio: a mulher vai longe, já extravasou o grupo das jovens deputadas, vai lá mais à frente.

Mas o dia televisivo foi mesmo feminino, um dia memorável, os jornalistas às vezes conseguem acertar. É que fiquei também a conhecer duas das vinte e duas presidentes de câmara eleitas no domingo e gostei. Gostei do ar delas, gostei da mensagem subliminar, gostei que tivessem sido eleitas no mesmo dia em que a Fátima Felgueiras foi posta sobre patins.
Não me lembro que partidos as elegeram, mas no fundo isso vai sendo cada vez menos importante. Sincretismo político que, bem vistas as coisas, que sejam mais homens ou que sejam menos mulheres ou vice-versa, não deixa de me irritar.

É que estamos numa espécie de guerra social, a coisa está preta e as clivagens não passam entre homens dum lado e mulheres do outro. Qualquer que seja o sexo político nada é pacífico, podemos ser mais civilizados, isso é bom, mas cada um e cada uma têm que lutar na sua trincheira.

E provavelmente nessa guerra são as mulheres quem tem mais a ganhar.