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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ELEIÇÕES NO EIXO FRANCO-ALEMÃO




Faltam menos de oito meses para as eleições presidenciais em França. Alguns meses depois, terão lugar as eleições legislativas na Alemanha.


O eixo franco-alemão irá, pois, a votos.


Não é coisa de menor importância. É que o dito eixo tem mandado na União Europeia desde que ela existe sob sucessivas denominações, tanto quanto me lembro, Comunidade do Carvão e do Aço, Comunidade Económica Europeia, Comunidade Europeia nomes que nunca disfarçaram as verdadeiras razões geopolíticas e estratégicas que conduziram à invenção dessa perigosa utopia a que hoje chamamos união europeia. Perigosa utopia parente duma outra, felizmente já falecida, chamada união soviética.


Tal utopia foi inventada, a seguir ao fim da 2ª guerra mundial, com o objectivo nunca explicitado de impedir uma quarta guerra entre franceses e alemães.


De facto, quando, nos anos 50, franceses e alemães decidiram esboçar uma estratégia de entendimento e de aproximação, entre ambos os países já tinha havido não duas mas três guerras, guerras devastadoras no curto espaço de menos de setenta anos: 1870, 1914-18 e 1939-45.


Na primeira dessas guerras, os franceses foram esmagados pelo Bismark. Na segunda, com a ajuda dos britânicos e dos americanos, conseguiram ganhar e na terceira perderam mal a guerra começou, não tinham qualquer hipótese face ao poder bélico nazi. Foram ocupados, o Hitler desfilou sob o Arco do Triunfo, desceu os Campos Elísios. Depois, alguns franceses resistiram e, com a ajuda dos aliados, lá conseguiram pôr o Hitler a andar.


Tudo somado, a memória dos franceses em relação à “convivência” com os seus bélicos vizinhos germânicos sempre tem sido, no mínimo, completamente problemática e o povo francês, estou a falar do francês comum, mantém até hoje sentimentos muito problemáticos em relação aos alemães. Têm medo deles, os alemães não lhes inspiram especial confiança.


A política francesa de apaziguamento e de aproximação em relação aos alemães durante estes últimos cinquenta anos tem a sua origem e justificação nessa desconfiança popular em relação às potenciais ameaças alemãs. Os políticos franceses fizeram os possíveis e os impossíveis por pacificar e desarmar essa desconfiança.


Quanto aos alemães, eles entraram na lógica de aproximação com os franceses e com os europeus por razões óbvias: depois dos crimes e das guerras nazis, eles precisavam de ser “reintegrados” no mundo civilizado, chamemos-lhe assim.


Grosso modo, o eixo franco-alemão que continua a mandar na chamada união europeia, nasceu dessa convergência de medos e de desconfianças entre os dois grandes vizinhos europeus divididos pelo Reno.


Por tudo isto e pelo estado comatoso a que chegou a dita união, as eleições francesas e alemãs do próximo ano e picos é uma variável da maior importância quanto ao desenlace de toda esta tragicomédia, desta farsa trágica europeia das bancarrotas, dos défices, das dívidas públicas, das guerras sociais que se aproximam, do euro e da tal união europeia.


A Alemanha de hoje, país reunificado e economicamente poderoso, país cujos complexos de culpa nazis foram mandados para detrás das costa, país seguro de si e arrogante graças à hegemonia que conquistou face a países debilitados economicamente, países que, aliás, despreza, países meridionais de outras culturas e modos de vida, a nova Alemanha sente que já não precisa de se submeter aos rituais e obrigações da “reintegração”.


Hoje, a Alemanha só não manda no Reino Unido e na Rússia. Nas Ilhas Britânicas nunca mandará, aceitam-se apostas. Na Rússia, seu alvo a médio prazo, sabe-se lá.


A ex-Alemanha nazi continua a aspirar ser uma potência mundial, é o seu velho sonho. Sonhos que não passarão talvez de pesadelos, provavelmente os germânicos apoiantes da sra. Merkel mais uma vez escolheram a opção errada.


O problema é que as opções erradas da Alemanha sempre causaram sofrimento e desastres a vítimas inocentes.


Esperemos então, confiemos nos deuses, façamos bons prognósticos.


Imaginemos que a Alemanha volta a ser governada por alguém estilo Willy Brandt ou mesmo Helmut Kohl. Imaginemos que os socialistas franceses mandam - esperemos que não seja a dona Marine Le Pen a fazê-lo - o sr. Sarkozy para casa.


Podemos imaginar cenários positivos, mas estamos numa corrida contra o tempo. Os jogos políticos podem ser muito interessantes, mas quando está em jogo a vida de milhões de pessoas e de famílias, tudo se pode tornar trágico e imprevisível.


Continuemos optimistas, acreditemos que se consegue chegar sem prejuízos de maior até às ditas eleições no eixo franco-alemão e que os resultados destas eleições poderão abrir novas perspectivas para a Europa.


Imaginemos que até a essas eleições, não haverá bancarrota na Grécia, não haverá efeitos de dominó sobre a Itália, Portugal, Espanha, França, Irlanda…Uma espécie de miraculoso compasso de espera…


A grande incógnita é que daqui até às ditas eleições ainda falta muito tempo, que até lá muita coisa que não conseguimos imaginar poderá vir a acontecer e que as ditas eleições muito provavelmente já não virão a tempo de mudar seja o que for no pântano europeu.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

BANCARROTAS

A palavra mais soletrada ultimamente tem tido a antiga palavra bancarrota.


Palavra soletrada todos os dias a propósito da Grécia, considerada a ovelha mais ranhosa duma coisa que não existe e que se chama união europeia.


Fala-se na bancarrota grega, mas pensa-se sobretudo noutras bancarrotas principalmente mais a sul.


Estas lengalengas mediáticas quotidianas são curiosas e muito sintomáticas do racismo que criou a fronteira entre países do norte e do sul deste problemático continente europeu a que pertencemos.


Não se fala da Bélgica, que está em colapso político e que, muito provavelmente será o primeiro país da CEE a entrar realmente em bancarrota, nem da Irlanda que é o país apontado desde há muitos séculos na Europa como o protótipo do país europeu pobre e sem hipóteses.


Estas duas raridades sócio-histórico-geográficas têm a seu favor o facto de serem países do norte e, assim, são protegidas pelo preconceito dos outros países nortistas actualmente dominantes com a sua soberba de países supostamente ricos ou muito ricos, imunes a essa conversa de bancarrotas.


Pura vigarice nórdica xenófoba e racista.


É que a história das bancarrotas dá para escrever vários livros e dessa história não escapa ninguém. Não vou pormenorizar.


Apenas olhar um pouco para trás.


Na Europa, as bancarrotas de Estado foram frequentes e quase normais durante os últimos séculos.


A França, por exemplo, entre os séculos XIV e XVIII, faliu por oito vezes. No séc. XIX, a Espanha faliu sete vezes. A Grécia também não se portou muito bem. Desde que se tornou independente em 1830, a maior parte do tempo esteve falida, influências otomanas. O Reino Unido entrou em falência não sei quantas vezes, perdi-lhes a conta.


Na época da Grande Depressão, entre os numerosos estados europeus que mergulharam no abismo, o recordista foi de longe a Alemanha.


Concentremo-nos em pormenores que nos interessam agora.


Os Estados podem falir e, muitas vezes isso é óptimo para eles. “Falecem” e não pagam. Quem paga o prejuízo? Há a considerar dois tipos de pagantes.


O mais dramático é o dos desgraçados que entram no desemprego ou perdem as suas pequenas economias.


Há o outro caso, evidentemente muito mais influente, que é o dos credores.


Credores, credores é a quinta coluna dos gajos que especulam com a dívida pública, que financiam a compra de aviões, de submarinos, de mísseis, de armas, gente que empresta milhões para negócios mafiosos, essa gente não gosta de falências.


O Estado falece e essa malta não recupera nem metade.


Apetece dizer que é justo.


Certeza, certeza é que na longa duração histórica, raramente, os Estados cumpriram os seus compromissos financeiros. Os banqueiros e outros prevaricadores tinham obrigação de saber isso, não são enfants de choeur.


No caso da bancarrota anunciada da Grécia, o cenário está à vista.


Dum lado, os desempregados ou futuros desempregados, que é o principal. No mesmo campo, os pequenos aforradores que vão perder grande parte das suas economias, no caso de a bancarrota se confirmar.


Do lado extremo, temos o capital, os capitalistas internacionais no seu melhor, que, ao contrário do que diz a imprensa, são principalmente alemães. Andaram durante estes anos todos a fazer grandes negócios e agora descobrem que, afinal de contas, talvez devessem ter controlado a sua ganância. Ora, capitalista, se há coisa que não consegue controlar é a ganância…


Em que é que ficamos?
Olhando a história, percebe-se que as falências sempre foram inevitáveis acidentes de percurso, a que ninguém escapou. Portugal, 1892, 1926, só para dar dois exemplos.


Erros de percurso político, mas com consequências sociais tremendas. Particularidade, os capitalistas foram sempre capazes de tirar a seu proveito as castanhas do lume.


O que há de novo na actual crise anunciada da bancarrota dos países mediterrânicos é que o capital financeiro elevou a fasquia, passou a um estádio superior. Tendo perdido o medo das bancarrotas, uma parte do capital internacional aposta agora na falência em cadeia dos Estados do euro. Pensa essa gente que têm muitos lucros em perspectiva.


Têm expectativas, a principal é que alguém há-de pagar. São mercenários sem escrúpulos. Gente perigosa, não se vê quem é que os pode travar.


A Europa, versão união europeia tornou-se um sítio muito perigoso, um sítio indefeso. Um sítio rodeado de ameaças. Consideremos alguns cenários.


O mais óbvio, a ameaça da intervenção da tropa.


A Grécia está a ser atacada por todos os lados, a Grécia que é um arquipélago, actualmente está reduzida a ser uma ilha no centro dum furacão conduzido pelo capital financeiro internacional.


Quem defende a ilha contra o furacão?


A Alemanha? Faut pas rigoler avec des choses sérieuses.


A França, Sarkozy?...
A Itália, a Espanha, Portugal?...


Temos dois cenários, sejamos claros.


Ou a Europa, cuja versão união europeia não se vislumbra, decide declarar nula a hipótese da falência dum país do euro, toma as decisões apropriadas e põe os mercados e os especuladores capitalistas na ordem.


Ou a Europa continua a política germânica do blá-blá, quanto pior melhor, com esses senhores alemães a mandarem pôr as bandeiras dos gajos do sul a meia haste em Bruxelas e logo se vê. Pensam eles que não têm nada a perder, antes pelo contrário.


Imaginemos que, depois de todas as misérias que o actual governo Coelho e o anterior nos impuseram, entramos na engrenagem duma inevitável falência idêntica à que se anuncia agora para a Grécia. O que é que poderá acontecer quer no caso da Grécia quer no nosso caso?


A minha hipótese, hipótese que penso ser a mais provável e consistente, é a seguinte: pela minha parte, preparo-me mentalmente e fico à espera que a tropa intervenha.


Não foi isso que o Louçã anunciou para Outubro, um novo 25 de Abril?


Esperemos que seja um 25 de Abril e não um 28 de Maio.


O clima de guerra inter-europeu está cada vez mais audível. Anda para aí muita gente a brincar com o fogo.


Não existe paz perpétua.