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sexta-feira, 15 de junho de 2012

ELEIÇÕES GREGAS: A NOVA JANGADA DE PEDRA



Estamos em plena guerra europeia, a maior parte dos europeus não se dá conta disso, é uma guerra que se aproxima do seu momento de verdade. Momento do salve-se quem puder.

Não há bombas, nem artilharia nem exércitos, por enquanto é apenas uma guerra de bluffs.

O bluff do Rajoy espanhol, por exemplo. A Espanha está falida, é seguramente o país mais falido da UE, vejamos o pódio europeu dos mais falidos: medalha de ouro Espanha 25 % de desemprego, medalha de prata Grécia 23%, medalha de bronze Portugal 16%.

A Espanha, grande potência de antigamente e orgulhosa do seu milagre económico dos anos 90, descobre de repente que é o país mais falido, pede 100 mil milhões de euros a Bruxelas e o empréstimo é concedido à velocidade da luz.

A justificação para esta pressa toda são as eleições gregas.

Tudo cálculos errados.

A maneira como o misterioso empréstimo espanhol foi anunciado, empréstimo supostamente reservado aos bancos sem intervenção de qualquer troika e de um memorando de austeridade, tudo isso só veio aumentar a desconfianças da suprema autoridade metafísica que regula a finança internacional, suprema autoridade genericamente assimilada a diferentes heterónimos, mercados, agências de rating, investidores, autoridades reguladoras financeiras internacionais, bolsas de valores, fundos obrigacionistas…

Os co-autores do golpe espanhol queriam evitar o contágio grego. Na volta, aumentaram a pressão sobre a própria Espanha, colocaram a Itália na berlinda e puseram também a França a tremer.

O Hollande francês ostensivamente não se entende com a chanceler alemã e aproxima-se do Mário Monti e do renitente Rajoy que se tem andado a fazer de esquisito. Este tipo menosprezou o Hollande quando este foi eleito, andou a prestar vassalagem à Merkel, que é o que o P. Coelho tem andado a fazer, e agora, como está no mato sem cachorro, começa a pedir a protecção francesa. Um verdadeiro desastre.

Todos os realinhamentos políticos de países do sul europeu, que parecem estar agora na calha, já deviam ter começado há pelo menos quatro anos.

Agora é tarde.

É tarde para toda a gente.

É tarde, em primeiro lugar, porque deixou de haver política e políticos dignos dessa função. Fim da História, diria o Fukuyama, mas não é disso que se trata. Dantes havia quem gritasse Deus está morto, era uma provocação. Para que Deus estivesse morto era necessário demonstrar que alguma vez tivesse estado vivo.

A verdade não é Deus que está morto, o que morreu foi a Política.

O lugar deste histórico defunto, nascido entre Maquiavel e a Revolução Francesa, foi ocupado agora pelos bancos e seus banqueiros, que transformaram as nossas vidas em números manipulados por engenharias e híper-corrupções, traficados por bancos e por banqueiros que ganham biliões e controlam as bolsas de Wall Street e congéneres, as bolsas de matérias primas, as bolsas dos bens alimentares, da água, da energia, as telecomunicações.

A lista do poder destes poderes ocultos não tem fim.

Estamos hoje a dois dias das eleições gregas.

Lembremos que, entre 6 de Maio e 17 de Junho de 2012, não passou sequer um mês e meio.

Em Dezembro de 2011, a Alemanha e os seus compinchas europeus obrigaram o Papandreo a renunciar ao seu referendo sobre o euro e a demitir-se. Antes disso, os irlandeses foram obrigados pela chamada “união” europeia a repetir um referendo sobre um tratado europeu, já nem me lembro qual.

Mas nunca nenhum país europeu tinha sido obrigado a repetir eleições legislativas com menos de mês e meio de intervalo.

É a união soviética europeia que temos, a união do centralismo democrático em todo o seu esplendor, que decide em nome da democracia e do povo. Sobre isso, já estamos conversados há muito tempo.

O problema é que as consequências chegaram à sua hora da verdade.

A Lagarde do FMI anunciou que só tínhamos três meses. Três meses para quê?

Sejamos realistas. Quanto ao pânico europeu acerca das eleições gregas de domingo, os resultados vão dar razão aos europeístas militantes mais pessimistas.

As eleições não vão resolver nada e nada quer dizer nada daquilo que querem os mandões que têm esmifrado o elo mais fraco da “união”, ou seja os países mais pobres e periféricos,

Os bancos alemães, o Goldman Sachs, o Morgan, o Crédit Agricole e toda a matilha de especuladores que têm apostado nos juros fabulosos que cobram aos gregos e aos periféricos e nas compras hiper-fabulosas dos restos das economias desses países, toda essa quadrilha vai entrar em pânico.

Não vão ter um parceiro que continue a fazer-lhes as vontades.

É que a lógica puramente bancária do capitalismo puramente capitalista não tem golpe de rins suficientemente ágil para discernir até que limites é que pode ir o seu terrorismo bancário. Matam o doente, quem é que lhes vai continuar a pagar os juros, quem é que lhes vai continuar a comprar as mercadorias?

Não é provável que das eleições gregas saia um governo viável e consistente. Quer seja um governo obediente à troika, quer seja um governo rebelde de esquerda.

Donde facilmente se deduz que os gregos serão chutados para fora do euro e da união soviética europeia. Coloca-se então a fatídica questão: quem é que vai governar a Grécia? Os militares?

Qualquer que seja a solução, a falência grega representará a falência da pura lógica bancária do capitalismo puramente capitalista.

Mas, por outro lado, significará o regresso da política internacional puramente política.

Os gregos ficarão a saber com que amigos é que podem contar.

Aceitam-se apostas.

Muitos novos amigos vão bater às portas da Grécia falida e expulsa do euro.

Prefigura-se neste caso uma repetição da história simbólica da jangada de pedra do Saramago. A Grécia é um conjunto de territórios rodeados de água por todos os lados. A água, o mar convidam à viagem.

Os gregos desamarram da Europa, do velho continente e rumam mais para oriente e para sul, destinos não lhes faltam. Viajam, vão conhecer esses novos destinos, a Rússia e a próxima Ásia, o Oriente médio e próximo, o Egipto e o Magreb do jasmim primaveril.

A Nato já deverá ter desculpas preparadas para minimizar as consequências da viagem dessa nova jangada de pedra.

É que, desde que foi abandonada pelo inimigo Pacto de Varsóvia e perdeu a sua razão de ser, a NATO  tem passado o tempo a descobrir novos destinos.  Persegue a Al Kaeda,  manda tropas para o Afeganistão, para o Yémen e para a Líbia. E, naturalmente, após o colapso do Kadhafi, tem planos para se instalar no Mali, no Sahara, na Costa do Marfim, sabe-se lá onde é que isso vai levar.

Segunda-feira, 18 de Julho de 2012, face à débacle grega e ao que se lhe vai seguir, continuará a haver entusiastas europeístas bem instalados na vida com razões para proclamar que não há nada de novo na frente ocidental.

Frente ocidental, frente de guerra. Quem serão os vencidos, quem serão os vencedores?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

QUEM RESGATA A ESPANHA?





Espanha é o país dos toureiros, Manolete, Dominguin e outros cujos nomes esqueci.
É o país do flamenco, Camaron de la Isla, Juanito Valderrama e quantos outros.
A Espanha é a quarta economia europeia, mas entre os séculos XVI e XVII, foi a primeira potência mundial, dominava a Europa e quase todos os caminhos que se cruzavam pelo mundo.
A França tem a “grandeur de la France” do De Gaule, a Inglaterra tem o jubileu da rainha e as memórias de grande potência pirata e colonial. Tem também a city, o que não é coisa pouca.
A Alemanha tem duas guerras mundiais e muitos milhões de mortos, torturados e perseguidos.
Todas estas grandezas estão agora a ser confrontadas com a iminência duma vergonhosa bancarrota, os chineses, os russos, os brasileiros e outros emergentes dão palmadas na barriga, acaba o ocidente imperial e colonial, ite, missa est.
Por ordem de grandeza medida de acordo com os critérios capitalistas actuais, na chamada euro-zona,  está em primeiro lugar a Alemanha, a seguir a França, em terceiro a Itália e em quarto a Espanha.
Isto não é apenas um ranking estilo livro de records.
É o ranking anunciado do descalabro da união soviética europeia. Parece que estamos em finais de 1991, quando o Ieltsin tomou o poder e percebeu que tinha de dissolver a URSS.
Quando a deliquescência do capitalismo atingiu a Itália, obrigando o poder de Berlim/Bruxelas a pôr a democracia na gaveta e nomear um funcionário do banco americano Goldman Sachs para presidir ao governo italiano, só para os profiteurs do costume é que não era óbvio que a engrenagem criada pelos tratados de Roma e de Maastrich estava a caminho da extinção.
O tsunami da crise da chamada dívida soberana foi avançando, enquanto a sra. Merkel e o sr. Sarkozy andavam a entreter os incautos e as vítimas.
Antes, falava-se da Grécia, de Portugal e às vezes da Irlanda. Passou-se a falar da Itália.
Mas os tsunamis movem-se a alta velocidade e chegaram rapidamente à Espanha. Próximos destinos? França, Holanda, Áustria, Alemanha. O último a sair que apague a luz.
A França não tem dinheiro, perdeu a indústria, foi, aliás neste domínio ultrapassada pela Itália. A Holanda tem trejeitos de grande potência euro-zona, mas não tem governo, porque não há partidos preparados para assumir os encargos políticos da austeridade. A Áustria já começou a ser atacada pelas agências de rating e foi desvalorizada, apesar de toda a sua arrogância. A Alemanha vai enfrentar uma grave contestação social por causa dos baixos salários que têm engordado o capitalismo alemão. Os bancos alemães entraram na mira das famosas agências de rating e alguns foram desvalorizados. A Alemanha destruiu a economia dos países europeus do sul e vai deixar de ter parceiros para os seus chorudos negócios.
No meio de tudo isto, não se pode perder de vista que os únicos países que estão a captar dinheiro e investimentos são os que não têm nada a ver com o euro. A Suiça e os países nórdicos é uma cena já conhecida. A principal novidade é que nas últimas semanas tem crescido o movimento de capitais para o Reino Unido, movimento que tem origem em vários países da euro-zona, principalmente da Grécia. A libra esterlina é um porto de abrigo e não é relevante para a situação financeira internacional que os ingleses estejam a viver cada vez pior. Money is Money.
Abreviemos.
A Grécia está falida, Portugal e a Irlanda também. À Itália vale-lhe que a maior parte da dívida do Estado esteja nas mãos de aforradores italianos. Quanto à Espanha, end of the road, a Espanha não tem qualquer alternativa.
O Rajoy não sabe o que é que há-de fazer com os bancos espanhóis, estão falidos. Não é apenas o Bankia. Quer que a UE abasteça esses bancos falidos. Quer que a UE  assuma as responsabilidades, porque o governo espanhol não tem a coragem de pedir o tal de resgaste troikiano, que nós, os gregos e os irlandeses tivemos de pedir.
Não tem coragem porquê? É simples: se pedir, vai ter uma guerra civil, com milhões de pessoas na rua. Para guerra civil já bastou o que bastou.
Principalmente, não se trata duma guerra civil propriamente dita, é mais uma guerra europeia, uma guerra que não tem a ver com motivos ideológicos. Trata-se tão somente de dinheiro, guerra financeira, guerra manipulada pelo Goldman Sachs e os seus compinchas.
É o capital desenfreado e sem quaisquer escrúpulos que quer ganhar cada vez mais dinheiro. Não é o Hitler nem o Estaline, esses ao menos sabia-se quem eram.
Agora é muito pior, quem comanda é uma poderosa nebulosa de altos interesses que ninguém, em nome da democracia, conseguirá controlar.
Venham então os toureiros.
Venham milhões para a rua.