PEDALAR É PRECISO!

sábado, 29 de junho de 2013

PARA ONDE É QUE CAMINHAMOS?


Sejamos realistas, lúcidos e realistas.

Isto vai de mal a pior e tão cedo não vai deixar de continuar assim. O Cavaco fala do pós-troika, qual prós-troika, daqui a 60 anos, se ainda cá estivermos, a gente volta a falar, para confirmar ou não. Vai-se caminhando, caminhando não se sabe para onde, todos os dias a cacofonia política das palavras, das promessas, das previsões enganadas e desonestas vai aumentando.

O Coelho, a Merkel, o Gaspar, o Hollande, aquele gajo com nome esquisito holandês que manda nas finanças dos países sequestrados pela troika, toda essa malta anda a gozar connosco. Gente sádica, gananciosa, incompetente, pior ainda, prepotente, o mundo é deles, a democracia uma quimera, a união dita europeia é pior do que a união soviética.

O Barroso chama reaccionários aos franceses, os franceses mandam-no à merda, o ministro Montebourg acrescenta que ele, o Barroso, é o combustível da extrema-direita em França. Retorque o cherne que a esquerda é a mesma coisa que a extrema-direita, porque ambas são reaccionárias, não gostam da mundialização. Acrescento eu: também eu sou contra a mundialização, contra a China que num ápice tomou conta da energia e dos painéis solares e da África para onde exporta as suas indústrias e a sua mão de obra,  a China, a Índia, o Brasil, eu sei lá quantos países que exploram miseravelmente os seus trabalhadores, fazem dumping social e destroem as economias e as fábricas europeias, roubam as invenções, traficam, etc.

Dirá o sr. Barroso que, já que eu me atrevo a pensar estas e muitas outras coisas deste jaez, não posso deixar de ser um gajo de extrema-direita, quem sabe até talvez de extrema-esquerda. Às tantas, ainda me vai denunciar aos espiões da NSA do sr. Obama.

Onde é que isto tudo vai parar? Caminhamos para onde?

No dia da greve geral, um grupo meio surrealista de manifestantes lisboetas, seriam de esquerda, seriam de direita, seriam de parte nenhuma, quem sabe, essa malta contra quem não me move nenhuma antipatia, antes pelo contrário, decidiu e caminhou para bloquear a ponte. Imagem perfeita do desnorte a que isto chegou. Deviam ter na ideia a memória do bloqueio contra o Cavaco por causa do aumento das portagens.

Também é verdade que, se tivesse resultado, este projectado e falido bloqueio podia ter sido aquele rastilho de que estamos todos à espera para que acabe de vez toda esta cena macabra em que vivemos desde o pânico do Guterres com o pântano.

O Mário Soares convocou a malta de esquerda, qual esquerda, quais esquerdas, não se sabe o que é isso, convocou a malta para a aula magna da universidade de Lisboa. Apareceram por lá os porta-vozes do costume, uns mais conhecidos, outros nem por isso, o do partido socialista bem que gostaria de saber onde é que desencantaram o homem. Deu em quê a reunião? Alternativas, acordos pré-eleitorais, comité insurreccional, apelo à revolta ou, pelo menos, apelo à indignação?

Andamos todos nisto, é uma brincadeira pegada. O pessoal da tal tentativa de tomada da ponte, parece que duzentos e tal, deduzo que se assemelhassem a uma espécie de pacífico rebanho de ovelhas silenciosas. Não sei se tinham pastor, mas para ali ficaram ordeiramente quietos, cheios de paciência à espera que a polícia lhes preenchesse e lhes entregasse as intimações para se apresentarem no dia seguinte no tribunal. Cena surrealista, no mínimo.

Tudo isto me cheira mais a tragédia.

Tragédia de um país que perdeu a soberania e que anda a mando dum bando de salteadores internacionais.

País que é directamente en su sitio controlado por outro bando, mais assanhado ainda e mais medíocre do que o dos invasores.

Bando que é comandado por um desgraçado manga-de-alpaca que, quando muito, poderia ter aspirado a ser chefe de secção numa qualquer repartição pública, uma manga-de-alpaca sem qualquer talento, sem inteligência, gajo ignorante e inebriado pela sua ignorância e pelo lugar que a divina providência, provavelmente com a ajuda da senhora que apareceu na azinheira, se dignou conceder-lhe.

Habeas corpus, não sei se é assim que se diz, libertem este homem completamente incapaz para a época, para a situação, para as responsabilidades que é suposto ser capaz de resolver, este tipo sem qualquer tipo de preocupação ou de compaixão (será que palavra figura no seu limitado dicionário), este tipo sem compaixão para com quem está desempregado, mais de 40% de jovens desempregados, de gente a quem cortam o subsídio de desemprego, o rendimento mínimo, gente condenada a procurar comida nos contentores, gente condenada ao ostracismo total e definitivo, gente que perdeu toda e qualquer esperança de um dia poder alcançar ou recuperar uma vida digna. Compaixão, solidariedade, respeito, ò Coelho percebes de que é que eu estou a falar?

Sopa dos pobres, pobres envergonhados, miúdos que vão para a escola em jejum, consegues dormir, costumas confessar-te ao sr. padre de Massamá?

Somos um país pacífico, o país preferido do dr. Salazar, ele amava Portugal por ser um país de brandos costumes. Mas, antes dele subir ao trono, tivemos as guerras liberais, antes disso a resistência aos invasores franceses, não foi brincadeira, os franceses foram para o maneta, tivemos o sr. D. Miguel que queria mandar em tudo e que também foi para o maneta em Évora Monte, tivemos o sr. D. Carlos e o seu herdeiro com triste destino selado ali no Terreiro do Passo, depois disso, na República aconteceram muitas outras coisas. Houve uma época em que os comboios circulavam com soldados, os atentados eram frequentes. País de brandos costumes?

Provavelmente, é capaz de ser verdade, brandos costumes, espero que não morra ninguém.

O fascismo é uma palavra fora de moda. Governo, políticos e muitos jornalistas pós-modernos execram tal designação, como os compreendo. Para onde é que caminhamos?

 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

REFORMA DO ESTADO E EUTANÁSIA

 

A canção do ceguinho da reforma do Estado, essa lenga lenga já dura há demasiado tempo, todos os dias nos vêm alugar e massacrar os ouvidos com essa mirífica história. A televisão, os jornais, os tipos do governo invocam todos os dias o tema e lá temos que os ouvir.

A última peripécia desta história que não é propriamente uma história no sentido literário do termo, porque não tem nem princípio, nem meio, nem fim, esse episódio, chamemos-lhe assim, começou há pouco mais de um ano quando o bando de salteadores do passos coelho nos ameaçou com o saque de quatro mil milhões de euros, quatro mil milhões, imaginam onde é que cabe tal quantia? Talvez nos bolsos do Ricardo Salgado ou doutro banqueiro devidamente credenciado para tal saque.

Quatro mil milhões de euros representa o quê? Estou a interrogar-me, a propósito dum número de tal grandeza, sobre a vida de quantos milhares, quantos milhões de pessoas desempregadas, ou com rendimento mínimo, ou sem subsídio de desemprego, ou simplesmente na miséria, essa arrogância de quatro mil milhões que têm que ser cortados com o pretexto da reforma do Estado, isso representa o quê?

Quantos desempregados da função pública, quantos aumentos de impostos sobre quem trabalha e não consegue fugir para os benditos offshores de quem tem muito dinheiro e recursos, quantos 10+10+10% de cortes nas reformas de quem andou a trabalhar toda a vida com a serena esperança de mais tarde, quando já faltarem poucos anos para ir desta para a melhor, e poderem ainda, ou finalmente, ter a oportunidade de uma vida mais ou menos digna sem precisar de andar a fazer contas para pagar a renda da casa, os remédios, os enlatados, a ajuda aos filhos…

Reforma do Estado, reforme-se o Estado, em que é consiste isso?

Para a gente que tem andado a mandar – não estou falar de governar, que isso é outra coisa – o sinónimo de reformar o Estado é óbvio que tem a ver com cortar, castigar, destruir. Vendaval, tornado americano, não ficará pedra sobre pedra. Só se safam os que estão acima dessas pequenas contingências da natureza rebelde.

Esses reformadores, confortavelmente instalados nos comandos do poder, são uma espécie de lobos que atacam os rebanhos indefesos na serra onde há os pastos e ninguém para os defender.

As ovelhas, as vacas, as cabras à procura de pasto somos nós, estou falar das desgraçadas vítimas das alcateias estatais. Esses lobos são os gajos que de repente, graças à lei do mais forte, nos cortam a jugular, o pescoço, o resto, não fica nada.

A alcateia desses animais é actualmente chefiada por um tipo cujo nome é conhecido, toda gente sabe quem é.

Mas o ataque já vem de longe.

Não falemos do dr. Salazar, era um tipo que apreciava a pobreza, os pobres agradeciam o carinho, mas depois começaram a ir para a França, para a Alemanha, and so on. E mandaram o dr. Salazar à merda.

Deixemos lá o Salazar, falemos de coisas mais recentes.

A grande reforma do Estado começou com o Sócrates, não o de Atenas, estou-me a referir àquele tipo da Cova da Beira, célebre autor de extraordinários projectos de arquitectura serrana.

Homem do interior, homem coerente, o sr. Sócrates desatou a fechar serviços públicos no interior, não tinham clientes dizia ele, não eram rentáveis, os centros de saúde, as maternidades, as estações de correio, os comboios. No seu esclarecido pensamento, eram coisas desnecessárias nos tempos modernos em que vivemos. Terá razão, quem poderá contestá-lo, uma mulher em trabalho de parto, vivendo no interior do Portugal deserto e sem maternidade próxima, tem sempre a internet em casa, basta ligar o computador.

Reforme-se o Estado, avançou essa luminária governamental da Cova da Beira.

Façamos então um pequeno balanço da extraordinária reforma do estado em curso, para abreviar, designemos essa tal reforma por REC.

Balanço não exaustivo até à data e completamente inexaustivo em relação ao que virá ainda a passar-se, sendo que o que vem a seguir é muito mais importante e significativo quanto aos efeitos e patriótico alcance da REC.

Por decisão do sr. Coelho, aumentaram os impostos, o IVA, o IRC, o imposto sobre os automóveis e mais não sei quantos. Resultado: diminuiu a receita fiscal, aumentou a dívida pública, deixo os pormenores aos economistas encartados, liberais, neo-liberais, clássicos, ou o que lhes quiserem chamar.

O sr. Coelho introduziu portagens em auto-estradas que anteriormente não as tinham. Resultado: as ditas estradas ficaram quase vazias, os tostões amealhados nas tais portagens mal dão para pagar as máquinas de cobrança. Mas as empresas das respectivas PPP continuam a receber o seu. No problem, o Estado paga, o governo paga, ninguém se queixa. A única coisa que o governo não paga são as suas dívidas aos milhares de empresas que vão, entretanto, entrando em falência.

Salários do pessoal da função pública e pensões dos antigos funcionários, o sr Coelho descobriu aqui um verdadeiro maná, os cortes nos salários, os cortes nas pensões, nada disso dá grande trabalho, não é preciso inventar nada, é só escrever um despacho em meia dúzia de parágrafos, ele escreve o despacho e, ao fim da tarde, o homem lá vai para Massamá, janta em família e dorme descansado.

É o grande projecto de futuro, o pessoal da chamada Função Pública, funcionários, professores, jardineiros, motoristas, tantas e tantas e profissões, essa malta tem que ser devidamente castigada, já usufruíram de demasiados privilégios.

Objectivo da reforma do Estado, não vale apena estendermo-nos muito mais sobre essa lenga lenga, objectivo incontornável de salvação nacional: na próxima década, os que dependem da função dita pública, se não querem ser empurrados para dormir num vão de escada e terem ainda alguma coisinha para comer, esse pessoal vai ter que trabalhar até morrer.

Essa ideia fantasista de haver um direito à idade da reforma, isso acabou, passou à história, acabou enquanto conceito jurídico. Estamos no limiar de novos tempos, tempos excitantes, que nos desafiam a contribuir até à exaustão pelo bem do “nosso” país. Os drs. Salgado do BES e Ulrich do BPI agradecem.

 Em vez de pretender à reforma, quem se quiser retirar, poderá escolher a idade da eutanásia que mais lhe convier, para isso será devidamente assistido, tudo será grátis. Tal direito fica desde já reconhecido como direito fundamental.

Um novo direito, tomemos nota dos novos tempos, um direito inalienável que justifica e legitima plenamente perante qualquer tribunal a recusa individual dos caixotes de lixo. Ninguém será castigado.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O RASTILHO TURCO

 


Se há no mundo um país que exige a nossa atenção, principalmente durante estes conturbados dias, esse país é a Turquia.

A Turquia, desde há muitos séculos, sempre assombrou a Europa.

Na corte de Louis XIV, Lully escreveu a famosa marche à la Turque em que gozava com os turcos. A corte e o rei apreciaram, além do mais a música era genial. Outros compositores seguiram o exemplo.

Os europeus sempre olharam a Turquia de lado, porque no fundo, tinham medo desses orientais que eram ao mesmo tempo tão longínquos e tão próximos dos europeus, e, principalmente, não sabiam muito bem como lidar com a sua própria identidade. Alguém devia ter as culpas disso, questão supérflua que não lhes aflorava as mentes.

A Turquia foi há muitos séculos o Império Romano do Oriente e, entre esse Império do Oriente e o Império do Ocidente houve sempre uma espécie de guerra larvar, se bem que, com a queda, no séc. V, do império do ocidente, ou seja, o império romano propriamente dito, quem passou a ficar na mó de cima foi o pessoal de Constantinopla.

É uma história tão longa, não esquecer a longa noite medieval, não há tempo para falar dela.

Do que vale a pena falar é dos laços que perduraram ao longo de séculos e séculos entre os cristãos do ocidente e os otomanos do oriente. O que é que resta actualmente dos otomanos no ocidente?

Temos os imigrantes turcos na Alemanha, por exemplo, muitos deles trucidados por grupos neo-nazis, ou por outros germânico-racistas.

Na mesma linha de pensamento, também constatamos a persistente rejeição da entrada dos turcos na união europeia.

O que é que resta dos cristãos no ex-império otomano?

Lá continua o estreito do Bósforo que separa a Turquia europeia da Turquia asiática.

E resta-nos a memória do grande Kemal Atartuk que impôs à Turquia nos anos 20 a ideia europeia de laicidade.

Resumamos, temos ainda e não é coisa pouca, a rivalidade, para não dizer coisa pior, da Turquia em relação à Grécia e vice-versa.

A propósito, comparemos a Turquia com a Grécia.

A Grécia é o país mais desgraçado da união europeia e fica ali, numa zona de alto interesse político-estratégico, mesmo em frente à Turquia.

Mas, enquanto a Turquia tem uma economia próspera, se perfila como uma grande potência regional e até como exemplo para os países recém-entrados no ciclo infernal da primavera árabe, e que, por tudo isso, é recebida com calorosas palmas nas costas pelo presidente dos USA, a Grécia, coitada, provavelmente graças à sua pertença à máquina de destruição maciça chamada união europeia, nunca mais voltará a ser um país digno dessa designação.

Podem-se tirar algumas conclusões? Sim, hipotéticas conclusões.

Se a Turquia tivesse entrado para a união dita europeia ou, na pior das hipóteses, para o euro, neste momento, a sua economia seria pior do que é a da Alemanha, que não está em grande estado.

Temos, pois um primeiro ponto, favor da Turquia: ainda bem que a Alemanha e a França não quiseram os turcos na união europeia.

Segunda conclusão, será a Turquia um bom exemplo para a Tunísia e o Egipto, países-vanguarda da chamada primavera árabe?

Nem por sombras. A Tunísia e o Egipto ainda estão na pré-história. A Turquia já está, no mínimo, a meio caminho.

Meio-caminho de quê? Meio caminho entre aquilo que poderá ser uma eventual sociedade laica, cuja religião maioritária é o islão, mas que respeita convictamente a liberdade individual e os direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e uma sociedade de dominância fundamentalista islâmica, semelhante às sociedades que, até à Revolução Francesa, eram dominantes no ocidente europeu cristão.

E daqui decorre a seguinte e muito crucial questão: poderá alguma vez a Turquia fazer a síntese pacífica, construtiva e de futuro entre o antigo império romano do oriente, mais tarde otomano, e o império romano do ocidente, mais tarde derrubado pela tomada da Bastilha?

Tudo isso está em jogo agora, por estes dias, na velha Turquia.

Turcos otomano/islamistas dum lado, turcos atartukistas/europeístas do outro. Qual é que vai ser o resultado desta batalha decisiva, vai cair do lado de cá do Bósforo ou do lado de lá?

Questão última e não menos importante: poderá o rastilho turco iluminar as almas indecisas do lado de cá do Estreito, deste lado decadente do antigo ocidente cristão, agora transformado numa espécie de cemitério europeu?

Poderá esse rastilho iluminar essas almas para se libertarem das novas ditaduras romano-germânicas que destroem a Europa?