A Moody’s baixou o rating da Grécia para o limiar absolutamente mínimo, abaixo do qual se deixa de estar no lixo e se entra na falência. Decreto de morte para a Grécia.
Isto acontece uma semana depois de as instâncias que mandam na união europeia terem acordado conceder à Grécia um empréstimo de quase cento e sessenta mil milhões de euros.
Vale a pena tirar daqui algumas consequências.
O capitalismo financeiro internacional chegou a um limite de total abjecção. Abjecção que nos cerca e nos quer destruir.
Com o poder absoluto que conseguiu conquistar, este supremo estádio do capitalismo digno do tribunal de Nuremberga, passou a usufruir da suprema e criminosa legitimidade que lhe permite decretar o genocídio eugenista de todos quantos considera serem incumpridores das regras neo-liberais que estão inscritas em letras de ouro na sua cartilha. A fase da absoluta hegemonia da moeda, do dinheiro, da especulação e do lucro.
O capitalismo que temos hoje passou à fase 1984 do Orwell, aquela fase que o Orwell tinha atribuído ao poder estalinista soviético e que é a do poder inteiramente discricionário, autocrático e obscuro que controla tudo e todos.
O próprio presidente dos USA está neste momento na mira do fogo das agências que servem o poder obscuro da ditadura do capital financeiro, o homem foi ameaçado pelas agências de rating.
Tudo o que vem acontecendo desde há três anos aponta para um novo espectro que ameaça muitos países, principalmente, os países europeus que foram inscritos na lista de futuros países prontos para a bancarrota.
É esse espectro que agora decide sobre os nossos salários, sobre o nossos direitos, que nos retira os subsídios de desemprego, o abono de família, que decide quantas freguesias e concelhos e que é podemos ter, que decide quem é que pode mandar os filhos à escola, que decide quem é que tem direito a um hospital ou a um médico, que decide quanto é que vamos pagar para andar de metro, de comboio ou de autocarro, que decide o que é que podemos ver na televisão ou ler nos jornais.
É um espectro, são deuses desconhecidos cujo poder omnisciente decide quem vai viver e quem vai morrer.
Esse poder omnisciente acaba de decretar, pela voz dos lacaios das agências de rating, quantos gregos deverão ser sacrificados, decidiu que a Grécia não tem futuro.
Em breve, esse decreto poderá alargar-se às vítimas que estão na lista dos futuros insolventes, Portugal, Irlanda, Itália, Espanha, Bélgica, Irlanda, Estados Unidos…
Alguém anda a conspirar, alguém anda a empurrar tudo isto para uma nova guerra de grandes proporções e não me parece que seja aquele louco assassino da Noruega.
Serão loucos, serão assassinos, mas têm outros meios.
O que é que nós vamos fazer quando esses gajos nos atirarem para o último dos últimos níveis, abaixo do qual somos declarados falidos?
Pagamos impostos, trabalhamos, não causamos distúrbios, respeitamos os direitos deste e daquele. Nem sequer manifestamos na rua.
Somos brancos, somos pretos, indianos, cristãos, muçulmanos, europeus, africanos, homens ou mulheres, crianças ou adolescentes, gays or not, trabalhamos, quando temos emprego.
Levamos os filhos à escola, à creche quando ela existe, pagamos bilhetes no autocarro, compramos o passe, pagamos as contas no supermercado, não andamos a roubar nem a matar e, então, como é que vêm estes gajos que ninguém conhece, que ninguém sabe donde é que vêm, nem quem é que os elegeu, como é que vêm esses gajos mandar na nossa vida, como é que eles nos vêm punir, castigar, reduzir-nos à miséria?
Será apenas porque resolvemos entrar para a CEE e para o euro?
A Grécia é atirada para o limiar da bancarrota pela Moody’s.
Concentremo-nos nessa gente. Quem são, quem é que os controla, o que é que os banqueiros e os capitalistas da nossa praça ganham com eles. Por alguma razão lhes pagam, devem ter algum interesse nas cabalas em que esses gajos andam envolvidos.
De que é que serviu a cimeira europeia?
Não resolveu o problema dos gregos, é o que parece.
Deu-nos a ilusão de que talvez a crise tenha solução, de que talvez não sejamos empurrados para um lugar escuro no centro da terra sem luz e sem oxigénio.
A questão é que nós portugueses, nós gregos, irlandeses, espanhóis, italianos, nós soi disant europeus, nós não decidimos nada, não controlamos nada, estamos apenas a correr atrás do prejuízo e não fazemos ideia sobre o que é que vai acontecer amanhã.
A Europa! A união europeia é uma perigosa e redundante utopia, a união europeia é um laboratório de criminosas experiências.
Larguemos a Europa e concentremo-nos em objectivos mais realistas e inteligentes.
Sejamos anti-capitalistas e anti-moody’s.
Não se poderá exterminá-los?
Era a pergunta do dramaturgo alemão Karl Valentin nos anos da grande depressão, pouco tempo antes do Hiler subir ao poder.

Olhemos para o Atlântico, somos atlânticos, não somos europeus. Somos mestiços com a África e o Brasil.
Façamos uma comunidade com os nossos irmãos atlânticos do sul, sem agências de rating. Uma comunidade de democracias, de povos inventivos, livres, solidários e livres. De gente com laços fortes entre si, de gente tolerante.
A Europa tornou-se um cemitério, um espaço de morte e de desgraças. Quais federalismos, qual o quê. Deutschland über alles?
Salvemo-nos enquanto é tempo!