PEDALAR É PRECISO!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MARIE COLVIN (1956-2012)




Mal tinha começado o dia, quando Marie Colvin caiu para sempre sob as balas assassinas das tropas sírias, nesta quarta-feira 22 de Fevereiro de 2012. Na mesma casa, juntamente com ela, morreu também o jovem fotógrafo francês Rémi Ochlik e foram gravemente feridos outros jornalistas que ali se tinham refugiado.


O sítio onde todas estas tragédias aconteceram foi o bairro de Baba Amro, que tem sido desde há várias semanas o principal alvo da fúria sanguinária do regime alauíta de Bashar Al Assad contra a cidade rebelde de Homs.


O que tem acontecido desde há quase um ano na Síria é muito mal conhecido. Não admira. É que Al Assad impôs em redor do que considera ser sua coutada privada uma cortina de ferro, que é também uma cortina de silêncio. Ninguém entra, ninguém sai, os sons, as imagens são longínquos.


As informações que têm filtrado este silêncio imposto pelo regime fascista alauíta devemo-los à devoção e ao heroísmo, em alguns casos com o custo da própria vida, de militantes sírios que lutam pela democracia no seu país.


Até há pouco tempo, nenhum jornalista tinha conseguido entrar nesse cenário de guerra das autoridades fascistas sírias contra o seu próprio povo, nesse cenário que provavelmente excede em brutalidade e em horror tudo o que se conhece sobre outros cenários de guerra europeus. Lembremos Sarajevo.


Marie Colvin percorreu praticamente todos os cenários de horror que têm atravessado o mundo em que vivemos durante este último quarto de século, Sarajevo, Grozny, Palestina, Kosovo, Harare, Líbia, Egipto and so on. Foi em Sri Lanka que perdeu o olho esquerdo.


Marie Colvin era uma lenda do jornalismo “de guerra”, era uma heroína.


Neste momento terrível, neste momento de impotência universal para se acabar com o massacre sírio, Marie simboliza todos os jornalistas que arriscam a sua preciosa vida, “apenas” por altruísmo, por amor à verdade e à justiça, por amor ao direito à informação, por solidariedade para com todos os povos que lutam pela liberdade, contra a opressão e as ditaduras.


No seu périplo pelos cenários das lutas que percorreu durante vinte e seis anos, não pode ser esquecido que, em 1999, Marie Colvin estava em Timor-Leste para testemunhar e dar a conhecer a luta dos timorenses pela sua liberdade.


Mas não se limitou a testemunhar. No auge dos ataques das milícias pró-indonésias contra o povo timorense, ela recusou abandonar um campo onde estavam cercadas várias centenas de mulheres e de crianças. Permaneceu junto delas até ao fim porque tinha a consciência de que se as abandonasse, elas seriam inevitavelmente massacradas.


Aos cinco jornalistas executados em 16 de Outubro de 1975 em Timor-Leste por tropas indonésias, os cinco de Balibó, aos muitos jornalistas a quem Timor-Leste muito deve, espero que se acrescente o nome de Marie Colvin.


O povo sírio não a esquecerá certamente, assim como a todos quantos deram ou virão a dar a sua vida para dar a conhecer a terrível história que está a acontecer a um povo heróico, que não desiste da sua dignidade, do seu direito à liberdade, que resiste à coligação sírio-russo-chinesa, que insiste em vir para a rua até ao dia em que o Assad caia do seu pedestal assassino.




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