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segunda-feira, 21 de maio de 2012

SALVAÇÃO DO EURO: DA CONTA BANCÁRIA PARA O COLCHÃO





A Espanha claudica, a Grécia afunda-se, Portugal descobre, pela voz do seu primeiro-ministro, que o desemprego afinal ajuda a mudar para uma vida melhor.


O Hollande ganhou as eleições, o Hollande e o seu governo são parvos, tem andado a proclamar no Público a voz autorizada do sr. Vasco Pulido Valente.


Portugal é um país de mentes brilhantes.


A união europeia está à beira de se desfazer, o sr. Henrique Monteiro, no Expresso, apela aos europeístas para salvarem a Europa e conjura os socialistas a demarcarem-se claramente da esquerda anti-europeia.


Pergunto, onde é que está essa tal de esquerda anti-europeia?


Os únicos anti-europeístas de que tenho notícia não são de esquerda, pelo contrário, são alguns partidos europeus da direita populístico-nacionalista, na primeira linha dos quais estão partidos holandeses, austríacos e franceses.


Mesmo a chamada esquerda radical grega tem feito um discurso pró-união europeia e pró-euro.


E em Portugal, por uma espécie de milagre das rosas, o PC e o BE mantêm-se convictamente na linha europeia politicamente correcta, a par, aliás do CDS-PP, cujos devaneios anti-CEE há muito que passaram à história.


Vejamos então o que é que coloca a união dita europeia na situação de precisar de apelos para a sua salvação.


Será a ameaça incarnada pelas direitas nacionalistas e populistas europeias?


Será alguma conspiração da chamada extrema esquerda, em cujo espectro político alguns distintos comentadores jornalísticos e do pequeno ecrã deste pequeno país incluem o Syriza grego, que, segundo as sábias palavras do sr. Monteiro, é uma espécie de bloco de esquerda?


Haverá ainda algum partido de extrema esquerda na Europa suficientemente ameaçador e perigoso que motive um apelo à salvação da Europa?


Voltemos ao princípio, voltemos ao ranking dos países que estão à beira do precipício e que, por estarem nesse lugar eminentemente perigoso, arrastam toda a Europa para a mesma vertigem do abismo.


O precipício da Grécia tem uma história e tem responsáveis óbvios, desde os capitalistas gregos que têm roubado e explorado à tripa forra, que não pagam impostos, tal como a igreja ortodoxa que mantém privilégios de séculos e muitos e muitos cúmplices e apaniguados desse sistema, até aos bancos alemães, franceses e outros, até às indústrias de armamento alemãs e outras e à Nova Democracia e ao Pasok que, desde há quase quarenta anos têm pactuado com todas essas roubalheiras e infâmias.


Esse tem sido o sistema grego. Será o sistema reformável?


Boa pergunta, boa pergunta que deve ser respondida pelos gregos. Não é assunto para a troika, para os alemães, para a burocracia de Bruxelas.


Os alemães impediram o Papandreou de fazer o referendo de Dezembro e agora vão tentar impedir as eleições gregas de 17 de Junho.


Talvez conseguiam, sabe-se lá! Entretanto, vão atirando achas para a fogueira.


Quem é que pode salvar a união europeia?


Os europeístas? Mas quem é que essa gente?


A gente que em três dias retirou mil e duzentos milhares de euros dos bancos gregos?


As pessoas que têm os seus depósitos em bancos espanhóis ameaçados de falir em cadeia, como um castelo de cartas?


Os alemães, fechados na sua arrogante supremacia de vendedores de submarinos, de piratas predadores capitalistas?


Os europeístas gregos que, segundo o sr. Monteiro, é preciso apoiar e ajudar a convencer o povo e a vencer nas urnas?


A vencer nas urnas contra quem? Contra a extrema esquerda, contra a extrema-direita, contra os coronéis?


Como cantava o Zeca Afonso, o povo é quem mais ordena.


O problema é que nesta altura, a sorte da Europa já não está nas mãos da extrema direita, nem da extrema esquerda, nem dos povos europeus, nem da sra. Merkel.


A sorte da união dita europeia passou a estar nas mãos de quem tem depósitos num banco europeu, seja ele qual for. Os eleitores gregos são a favor do euro, e como são eleitores prevenidos, mais vale ter 100 euros debaixo do colchão do que 1.000 dracmas num banco.


A opção pelo banco-colchão está, pois, de volta à actualidade.


Apesar de velha história, o colchão-banco é que vai resolver o problema do euro, não vale a pena fazer grandes conjecturas, cansar a cabeça.


Em breve, a realidade retomará o seu curso e a maior parte dos políticos europeus será arrumado nos arquivos poeirentos da história. Não salvaram o euro, não salvaram a dita união europeia, apenas desgraçaram a vida de muitos milhões de pessoas


A história, tal como no passado, continuará o seu rumo. Como de costume, por cima de muitos cadáveres.




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