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terça-feira, 30 de outubro de 2012

NACIONALIZEMOS DEUS!


Pode-se nacionalizar Deus?

Raio de questão, dirão muitos e muito bons espíritos. Talvez sim, talvez não, dá que pensar…

Num daqueles debates com que nos massacram todas noites nos canais de notícias da televisão por cabo, quando não estão dar futebol, um distinto político da nossa praça, homem influente desde os tempos do contra-prec, um distinto que dura desses esses tempos como aquele boneco que quando eu era miúdo chamávamos o teimoso, o boneco ficava sempre em pé, fizessem o que fizessem, esse distinto da nossa praça, que foi ministro e agora é empresário e homem de bastidores e fazedor de ministros e de primeiros-ministros, não vou fazer propaganda do nome, esse gajo, chamemos-lhe assim, teve uma súbita inspiração que incita, não sei se era essa sua intenção, ao debate democrático-teológico.

Percebi, mas talvez me engane, que se tratou duma espécie de revolta pessoal, o homem está e sempre esteve empenhadíssimo em ganhar muito dinheiro e influência e logicamente está a aproveitar, como muitos outros da sua laia, na sua arrogância de classe, estes tempos de desgraça, de dívida, insolvência, bancarrota para chegar lá acima, cada vez mais alto.

Na liberdade e no estatuto plenos de estrela do novo regime que consolidou graças ao estado de troika que nos governa, naquela conversa de tv onde estava vendendo o seu peixe, o homem inadvertidamente soltou uma espécie de grito de revolta contra todos quantos refilam, se indignam e se sentem humilhados. Um grito de quem se sente ameaçado num privilégio, que no seu pensamento de executivo exclusivo só pode estar ao alcance de muito poucos, aqueles que gozam do privilégio da protecção da divina providência contra quaisquer espécies de pobreza ou dificuldades.

E o homem gritou num assomo de completa sinceridade e desassombro: “há para aí muita gente que pensa que pode nacionalizar Deus!”

Não fiquei estarrecido, apenas surpreendido, confesso que nunca tinha pensado nisso, nessa solução que afinal parece óbvia. Se Deus realmente existe, por que razão é que não é há-de pertencer a todos, por que é que não se pode nacionalizar?

Saudemos então a súbita clarividência do distinto político, empresário e fazedor de ministros. Afinal, o homem, está confirmado, não é um cromo, grande crânio!

Imaginemos, por um momento, que por referendo, imaginemos que o povo decidia nacionalizar Deus.

Imaginemos que o próprio Deus ele próprio ratificava essa decisão e decidia em plena consciência pôr a divina mão por cima de todos nós, sem distinção de classe, de riqueza, pobreza, inteligência, idade, sexo, eu sei lá, de igual modo a todos nos abençoava e nos protegia dos desmandos dos poderosos, dos corruptos, dos políticos e da generalidade dos vigaristas que mandam neste desgraçado mundo.

Seria um milagre de Deus ou do povo?

Deus é grande e o povo o seu profeta.

Está visto, nacionalizemos Deus, Deus igual para todos, para ateus, crentes, agnósticos, políticos, vigaristas, ladrões, gente boa, criminosos, pobres, dementes, gente séria, gente trabalhadora, bons pais, maus filhos, leiam as páginas amarelas.

Reino de Deus, democracia, a ideia geral é essa.

 

 

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