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terça-feira, 17 de julho de 2012

APOIEMOS O RELVAS

 

Já estou um bocado farto de ouvir falar desta história do Relvas.

O Relvas é também o país que temos, é isso, já estou farto do país que temos.

Mas o Relvas é um bom pretexto para se falar desse país.

É um país de chicos espertos, mas isso já sabíamos, pelo menos desde o tempo do Sócrates.

Mandaram esta luminária para Paris, o que ele talvez agradeça, talvez agora esteja a aprender alguma coisa que valha a pena saber. Mandaram a luminária embora, mas vieram outras bem piores.

Na história da Lusófona, ainda não se falou, ou têm-se esquecido, certamente de propósito, coisas da maior importância.

O ensino superior privado foi uma invenção do sistema Cavaco nos anos 90. Muita rapaziada queria entrar para a universidade, ele fechou-se em copas, manteve a política do numerus clausus e isso foi um bom pretexto para abrir as portas ao monstro das privadas, ao pessoal do business. A pressão, aliás, já vinha de trás, as primeiras privadas que viram a luz do dia foi ainda antes do Cavaco chegar ao poder, eram uns antigos ministros do Salazar e do Marcelo que tinham sido postos a andar, estavam desempregados e meteram-se no negócio.

O Cavaco foi muito esperto, já que havia uma procura tão grande, então deixemos criar essas novas universidades privadas, nem que sejam de vão de escada, vão criar óptimas oportunidades de emprego para o pessoal que anda na política, mas que precisa de ganhar mais qualquer coisinha. E depois logo se verá.

Aliás, a história do crescimento dos politécnicos nessa época teve a mesma lógica. Eram públicos, mas quem é que foi para lá dar aulas e mandar naquilo? A maioria era gente do partido cavaquista, o PPD/PSD.

Já são histórias antigas, a que nenhum governo soube pôr cobro. É uma história comandada pelas alternâncias do bloco central.

Tem sido um fartar vilanagem, ajudado pelo famoso protocolo de Bolonha.

Não tenho pachorra nem tempo para estar a falar desse protocolo celerado.

Mas tem que ser citado, as equivalências do Relvas foram concedidas sob a divina invocação do protocolo de Bolonha. Portanto, são legais, esse é o argumento.

Argumento que torna Portugal um país de gabirus e de oportunistas. Foste presidente duma sociedade filarmónica, mais duma associação de bombeiros e duma secção da sociedade protectora de animais, tens o direito de requeres a equivalência à licenciatura no que tu quiseres. Médico, why not?

País de chicos espertos, país que glorifica a ignorância e a eleva ao supremo critério da competência para se entrar nos fechados clubes das elites que mandam - não governam, mandam - no país.

País de chicos espertos, cujo ministro da Educação que criou a reputação de político severo, disciplinador e exigente, veio à televisão com ar compungido desculpar-se que não ia pronunciar-se sobre um colega de Governo. Deve-se sentir confortavelmente acompanhado na companhia de malandros.

Lusófona, não conheço a história do monstro, deve ser uma linda história, é um império, emigrou para além-mar, criou pequenas e médias empresas de formação e outras coisas e, inclusivamente, apoiou activamente o primeiro-ministro Passos Coelho nos tempos heróicos em que este andava com o seu indefectível companheiro Relvas a fazer campanha para se tornar presidente do partido laranjinha e putativo candidato a primeiro-ministro. A sede da campanha do homem era na Lusófona.

Falam do Relvas, não falam do Coelho.

Está tudo sob controle, os serviços secretos devem estar atentos, devem fazer as suas costumeiras ameaças, ninguém toque no nosso chefe.

Não se toca no chefe, apenas no seu sargento-ajudante, o Relvas.

Eu, por mim, sou de opinião que deixem lá estar o Relvas.

Não me parece mais incompetente do que o ministro da economia ou o ministro da educação ou outros, é certamente mais esperto do que todos eles juntos e, por outro lado, quanto mais tempo ele lá ficar melhor, não é só a careca dele que fica à mostra, a do primeiro de todos os ministros também e, então, é provável que o governo não dure muito mais tempo, e é disso que o país precisa. Urgentemente.

Se convocarem alguma manifestação para apoiar o Relvas, eu lá estarei.

sábado, 7 de julho de 2012

FUTEBOL E OCUPAÇÃO ESTRANGEIRA


 
Portugal é um país sob ocupação estrangeira.

Todos sabemos isso, mas fazemos por disfarçar. Sentimo-nos portugueses quando Portugal joga contra a Alemanha ou contra a Holanda ou contra a Espanha. Nessas alturas somos patrióticos de verdade. A razão é simples, a única coisa que preocupa os portugueses é e sempre foi desde há muitas décadas o futebol. De que falam os portugueses quando se encontram no café ou no emprego ou estão em família? Falam de futebol.

Não falam dos enfermeiros que estão a ser pagos a menos de 4 euros por hora por empresas privadas que alugam os seus serviços ao Estado. A qualidade dos serviços médicos não parece preocupar muito os portugueses. E quanto a solidariedade contra as injustiças estamos falados.

Fé em Deus e bola prá frente.

Os portugueses não falam dos mais de 16% de desempregados, mais de um milhão. Deus é grande, a Igreja dará de comer a quem tem fome.

Não falam dos cortes dos salários e dos subsídios da função pública e dos reformados. Não falam dos milhares de professores que estão no desemprego e que não entram para o quadro, não falam das parcerias público-privadas e dos contratos ruinosos que essa gente impôs ao Estado para que eles possam ter lucros fabulosos.

A triste realidade é que os portugueses são um povo de parvos, gente egoísta e ignorante que só se manifesta quando lhe põem camiões pesados a passar ao pé da porta ou lhe tiram o centro de saúde. O lema dos portugueses é Deus por todos e cada um por si. O resto que se lixe.

O bom povo português preocupa-se com o futebol e confia nos seus governantes, confia no Passos Coelho, no Gaspar, no Relvas, no Portas e nessa troupe toda. Sempre foi assim, por que razão é que as coisas haviam de mudar?

Quando entrámos para a CEE, o grupo mais cínico dos nossos intelectuais apoiou fervorosamente a ideia, pôs-se inteiramente ao dispor da Europa Connosco do Dr. Soares. O argumento deles era completamente honesto. Diziam esses senhores, Portugal não tem governantes capazes, nunca teve, entremos então para a CEE, os tipos de Bruxelas hão-de pôs isto tudo na ordem, só temos de fazer o que eles mandarem. Além disso, vão-nos oferecer muito dinheiro, a gente moderniza-se rapidamente, passamos a país rico.

Foi assim que tudo começou.

Entrámos, vieram os fundos estruturais, foi um regabofe para muita gente, jeeps de alta cilindrada, casas, palacetes, cursos de formação fantasmas, tudo isto com uma contrapartida. Para a CEE, Portugal devia abrir-se ao grande espaço de comércio comum, mas não devia fazer concorrência desleal. Recebia dinheirinho fresco, mas, em troca fechava a agricultura, as pescas e a indústria. Portugal devia limitar-se a ser um país de obedientes consumidores.

Não vale a pena fazer a história disto tudo, ela é sobejamente conhecida. Falemos antes do presente.

Somos um país ocupado e não vejo como é que vamos sair disso.

As nossas elites políticas são cada vez mais medíocres. Nos últimos anos chegou a vez da geração dos jotas. São eles que nos governam. O primeiro-ministro é jota, os seus braços-direitos no partido e no governo e muitos outros à sua volta são jotas. O primeiro-ministro anterior também era jota assim como os seus assessores e ajudantes. Quem são estes jotas? São uns tipos que não estudaram ou estudaram pouco, que enfileiraram nos aparelhos partidários para ter emprego e subir na vida e que, quando chegaram aos 40 anos, perceberam que tinham que arranjar um canudo de dr. Desse por onde desse.

É essa gente que, desde o Sócrates, tem governado e vai continuar a governar este país. Não sabem nada de nada, não têm ideias próprias, não têm experiência de vida, não conhecem o país, tecnicamente são totalmente incompetentes.

Participam em reuniões internacionais, ouvem e calam, recebem ordens e obedecem. São mais provincianos do que o doutor Salazar que nunca saiu do país, a não ser para ir à fronteira encontrar-se com o general Franco. Não compreendem, nunca estudaram seriamente o que mundo em que vivem, não têm sequer um esboço de algumas ideias para defender os interesses do mais antigo país da Europa, um país com quase 900 anos.

A União Soviética Europeia que nos ocupa multiplica as cimeiras e, a cada cimeira, parece ter descoberto a pólvora. No dia seguinte, grande foguetório na comunicação social, as bolsas dão um ar da sua graça. Estas euforias têm vida curta, já estamos habituados, tudo volta ao mesmo, dito de maneira mais acertada, tudo fica pior.

Na última cimeira, parecia que a Alemanha tinha cedido à pressão dos franceses, dos italianos e dos espanhóis. Pura ilusão. A Alemanha conseguiu impor o seu pacto orçamental a toda a gente, inclusive ao francês Hollande, que andou durante meses a dizer que queria renegociar o dito pacto germânico. Na prática, italianos e espanhóis não conseguiram nada do que queriam, vão ter que apertar ainda mais o cinto, vão ter que se submeter à vontade germânica. E, quanto à Grécia, não vale a pena falar, a Grécia já passou à história, bye-bye euro.  

Servir-nos-á tudo isto de consolação? De algum modo sim.

Temos um governo de gente falhada, ignorante, provinciana e vendida aos bancos e aos grupos das PPP, vamos ter que emagrecer, empobrecer, desaparecer, emigrar.

Venham então os alemães, talvez eles consigam endireitar o país. Até lhe podemos alugar isto tudo, se bem que já não haja muito para alugar, a não ser as auto-estradas.

Depois, logo se verá. Talvez guerrilha contra os ocupantes, sabe-se lá! Mas, por enquanto, no espírito do bom povo português, tudo está em ordem, o povo é paciente, Passos Coelho dixit. O futebol é quem mais ordena.