Já estou um bocado farto de ouvir falar desta
história do Relvas.
O Relvas é também o país que temos, é isso, já
estou farto do país que temos.
Mas o Relvas é um bom pretexto para se falar desse
país.
É um país de chicos espertos, mas isso já sabíamos,
pelo menos desde o tempo do Sócrates.
Mandaram esta luminária para Paris, o que ele
talvez agradeça, talvez agora esteja a aprender alguma coisa que valha a pena
saber. Mandaram a luminária embora, mas vieram outras bem piores.
Na história da Lusófona, ainda não se falou, ou têm-se
esquecido, certamente de propósito, coisas da maior importância.
O ensino superior privado foi uma invenção do
sistema Cavaco nos anos 90. Muita rapaziada queria entrar para a universidade,
ele fechou-se em copas, manteve a política do numerus clausus e isso foi um bom
pretexto para abrir as portas ao monstro das privadas, ao pessoal do business.
A pressão, aliás, já vinha de trás, as primeiras privadas que viram a luz do
dia foi ainda antes do Cavaco chegar ao poder, eram uns antigos ministros do
Salazar e do Marcelo que tinham sido postos a andar, estavam desempregados e
meteram-se no negócio.
O Cavaco foi muito esperto, já que havia uma
procura tão grande, então deixemos criar essas novas universidades privadas,
nem que sejam de vão de escada, vão criar óptimas oportunidades de emprego para
o pessoal que anda na política, mas que precisa de ganhar mais qualquer
coisinha. E depois logo se verá.
Aliás, a história do crescimento dos politécnicos
nessa época teve a mesma lógica. Eram públicos, mas quem é que foi para lá dar
aulas e mandar naquilo? A maioria era gente do partido cavaquista, o PPD/PSD.
Já são histórias antigas, a que nenhum governo
soube pôr cobro. É uma história comandada pelas alternâncias do bloco central.
Tem sido um fartar vilanagem, ajudado pelo famoso
protocolo de Bolonha.
Não tenho pachorra nem tempo para estar a falar
desse protocolo celerado.
Mas tem que ser citado, as equivalências do Relvas
foram concedidas sob a divina invocação do protocolo de Bolonha. Portanto, são
legais, esse é o argumento.
Argumento que torna Portugal um país de gabirus e
de oportunistas. Foste presidente duma sociedade filarmónica, mais duma
associação de bombeiros e duma secção da sociedade protectora de animais, tens
o direito de requeres a equivalência à licenciatura no que tu quiseres. Médico,
why not?
País de chicos espertos, país que glorifica a ignorância
e a eleva ao supremo critério da competência para se entrar nos fechados clubes
das elites que mandam - não governam, mandam - no país.
País de chicos espertos, cujo ministro da Educação
que criou a reputação de político severo, disciplinador e exigente, veio à
televisão com ar compungido desculpar-se que não ia pronunciar-se sobre um
colega de Governo. Deve-se sentir confortavelmente acompanhado na companhia de
malandros.
Lusófona, não conheço a história do monstro, deve
ser uma linda história, é um império, emigrou para além-mar, criou pequenas e
médias empresas de formação e outras coisas e, inclusivamente, apoiou
activamente o primeiro-ministro Passos Coelho nos tempos heróicos em que este
andava com o seu indefectível companheiro Relvas a fazer campanha para se
tornar presidente do partido laranjinha e putativo candidato a
primeiro-ministro. A sede da campanha do homem era na Lusófona.
Falam do Relvas, não falam do Coelho.
Está tudo sob controle, os serviços secretos devem
estar atentos, devem fazer as suas costumeiras ameaças, ninguém toque no nosso
chefe.
Não se toca no chefe, apenas no seu
sargento-ajudante, o Relvas.
Eu, por mim, sou de opinião que deixem lá estar o
Relvas.
Não me parece mais incompetente do que o ministro
da economia ou o ministro da educação ou outros, é certamente mais esperto do
que todos eles juntos e, por outro lado, quanto mais tempo ele lá ficar melhor,
não é só a careca dele que fica à mostra, a do primeiro de todos os ministros
também e, então, é provável que o governo não dure muito mais tempo, e é disso
que o país precisa. Urgentemente.
Se convocarem alguma manifestação para apoiar o Relvas,
eu lá estarei.
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