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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

SERÁ QUE A ALEMANHA NÃO TEM UM PROBLEMA DEMOGRÁFICO?


A iliteracia demográfica em Portugal é secular. Esta noite, mais uma vez, fui confrontado com essa ignorância.

No numeramento de D. João III, mandado fazer em 1527, o qual é, aliás, uma das primeiras operações, de contagem da população que se pode considerar muito próxima da lógica que levou à progressiva generalização dos recenseamentos em países europeus a partir do séc. XIX, Portugal tinha uma população de cerca de 1.1100.000 habitantes. Muito pouca gente.

Informação preciosa. Tão preciosa que a elite que governava o país não se deu conta que o país estava por um fio. Estava exausto, não tinha gente. Depois do D. João e do Cardeal-Rei D. Henrique, veio o jovem D. Sebastião que decidiu, inspirado por um sonho de adolescente com o mundo a seus pés, mandar não sei quantos milhares e ele próprio serem massacrados em Alcácer-Quibir.

Acrescentemos a Alcácer-Quibir  a expulsão de milhares de Judeus decidida por D. Manuel I, o Venturoso e cá estamos nós com o mesmo tipo de elites, esmagados pela União Europeia e a moeda única, com um país, sem indústria, sem agricultura, sem pescas, sem universidades, sem ciência, sem emprego. Sem futuro. Um país, mais do que envelhecido, com a fecundidade mais baixa do mundo. Um país à medida de D. Sebastião. Sem futuro, uma colónia alemã.

Colónia alemã, vem mesmo a propósito.

Acabei de ouvir na TVI, a comentadora Constança Cunha e Sá. É uma das poucas vozes que aparecem na televisão que aprecio, é uma jornalista combativa, muito lúcida, consegue por vezes ser corrosiva quanto baste em relação ao governo que nos desgraça. Mas, desta vez, oh Constança, cuidado com as palavras, a Alemanha não tem um problema demográfico?

Iliteracia demográfica, Constança, iliteracia!

A Alemanha é o segundo país mais envelhecido do mundo, logo a seguir ao Japão. A Alemanha só não é o país mais envelhecido do mundo graças aos imigrantes que tem, principalmente os turcos, mas também muitos portugueses. Os imigrantes na Alemanha têm mais filhos do que as alemãs e os alemães. A Alemanha, desde os princípios dos anos 70, é o único país europeu que não tem conseguido chegar sequer a 1,3 filhos por mulher.

Em 2012, Portugal atingiu o limiar mínimo da sua história: 1,27 filhos por mulher e é o sexto país mais envelhecido do mundo. Aqui para nós: é mais do que provável que, dentro de vinte anos, as mulheres portuguesas, em média, terão na melhor das hipóteses, 1 filho por mulher. Cerca de 30%% da nossa população será constituída por seniores com mais de 65 anos. Pensem nisso.

A Alemanha, acrescentou a nossa amiga Constança, diminuiu a idade da reforma para 63 anos. Não é verdade, ou seja, essa medida só abrange cerca de 200.000 pessoas, as quais merecem essa benesse porque  trabalharam pelo menos… 45 anos. São uma minoria. O  sr. Goebbels não seria capaz de ir tão longe na manipulação.

A Alemanha não tem um problema demográfico?

A Alemanha, Constança, ao contrário do que afirmou esta noite perante muitos milhares de pessoas, tem um grave problema demográfico.

Tem o  mais grave  problema demográfico de todos os países da União Europeia: população muito envelhecida, fecundidade no limiar do desaparecimento desde há quarenta anos, população jovem insuficiente para as necessidades do Estado e da economia, crescimento negativo da população (dentro de poucos anos, a população alemã será inferior não apenas às populações do Reino Unido e da França, mas também da Polónia). Um verdadeiro calcanhar de Aquiles.

Como é que a Alemanha resolve actualmente o seu “problema demográfico”, problema que a nossa amiga Constança diz que não existe?

A Alemanha da srª  Merkel importa mão de obra qualificada, a Alemanha pilha principalmente os país do Sul, que levou à ruína com as suas políticas “europeias” de austeridade favoráveis à economia e ao capital alemães.

Pirataria, sim, pirataria. Os alemães vão aos países do sul, capturam jovens qualificados que estão desempregados, portugueses por exemplo, cuja formação custou muito dinheiro aos países que são pilhados. Chama-se a isto brain drain. A eles, os que pilham, não custa nada, a nós custa-nos o nosso futuro.

Oh Constança, a Alemanha parece não ter um problema demográfico, porque rouba os recursos dos países aos quais impõe a sua ditadura. E, assim, lá vai a Germania de vento em popa. Até que um dia aconteça qualquer coisa, o futuro é sempre uma incógnita,  on verra bien.

Talvez a doutora Merkel seja uma espécie de  D. Sebastião. Talvez, nos seus sonos agitados, tenha sonhado o sonho do Hitler, que queria conquistar tudo e mais alguma coisa. Talvez ela não seja tão ariana como isso. Não faço processos de intenção, nem sou adepto de amálgamas.

Mas o D. Sebastião não tinha gente suficiente para sustentar os seus devaneios de príncipe talhado para um grande destino. O sonho sebastiânico de um grande destino foi a nossa desgraça.
A Alemanha já perdeu duas guerras mundiais. Destruiu meia Europa. Era saudável que quem por lá manda pense muito nisso tudo e trate de resolver, por vias aceitáveis e  razoáveis,  o problema demográfico a que a Alemanha, passe o tempo que passar, nunca conseguirá escapar.

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