A iliteracia demográfica
em Portugal é secular. Esta noite, mais uma vez, fui confrontado com essa
ignorância.
No numeramento de D. João III, mandado
fazer em 1527, o qual é, aliás, uma das primeiras operações, de contagem da
população que se pode considerar muito próxima da lógica que levou à
progressiva generalização dos recenseamentos em países europeus a partir do
séc. XIX, Portugal tinha uma população de cerca de 1.1100.000 habitantes. Muito
pouca gente.
Informação preciosa.
Tão preciosa que a elite que governava o país não se deu conta que o país
estava por um fio. Estava exausto, não tinha gente. Depois do D. João e do
Cardeal-Rei D. Henrique, veio o jovem D. Sebastião que decidiu, inspirado por
um sonho de adolescente com o mundo a seus pés, mandar não sei quantos milhares
e ele próprio serem massacrados em Alcácer-Quibir.
Acrescentemos a Alcácer-Quibir
a expulsão de milhares de Judeus decidida
por D. Manuel I, o Venturoso e cá estamos nós com o mesmo tipo de elites, esmagados
pela União Europeia e a moeda única, com um país, sem indústria, sem
agricultura, sem pescas, sem universidades, sem ciência, sem emprego. Sem
futuro. Um país, mais do que envelhecido, com a fecundidade mais baixa do
mundo. Um país à medida de D. Sebastião. Sem futuro, uma colónia alemã.
Colónia alemã, vem
mesmo a propósito.
Acabei de ouvir na
TVI, a comentadora Constança Cunha e Sá. É uma das poucas vozes que aparecem na
televisão que aprecio, é uma jornalista combativa, muito lúcida, consegue por
vezes ser corrosiva quanto baste em relação ao governo que nos desgraça. Mas,
desta vez, oh Constança, cuidado com as palavras, a Alemanha não tem um problema
demográfico?
Iliteracia
demográfica, Constança, iliteracia!
A Alemanha é o
segundo país mais envelhecido do mundo, logo a seguir ao Japão. A Alemanha só
não é o país mais envelhecido do mundo graças aos imigrantes que tem,
principalmente os turcos, mas também muitos portugueses. Os imigrantes na
Alemanha têm mais filhos do que as alemãs e os alemães. A Alemanha, desde os
princípios dos anos 70, é o único país europeu que não tem conseguido chegar
sequer a 1,3 filhos por mulher.
Em 2012, Portugal
atingiu o limiar mínimo da sua história: 1,27 filhos por mulher e é o sexto país
mais envelhecido do mundo. Aqui para nós: é mais do que provável que, dentro de
vinte anos, as mulheres portuguesas, em média, terão na melhor das hipóteses, 1
filho por mulher. Cerca de 30%% da nossa população será constituída por seniores
com mais de 65 anos. Pensem nisso.
A Alemanha,
acrescentou a nossa amiga Constança, diminuiu a idade da reforma para 63 anos.
Não é verdade, ou seja, essa medida só abrange cerca de 200.000 pessoas, as
quais merecem essa benesse porque trabalharam pelo menos… 45 anos. São uma
minoria. O sr. Goebbels não seria capaz
de ir tão longe na manipulação.
A Alemanha não tem um
problema demográfico?
A Alemanha,
Constança, ao contrário do que afirmou esta noite perante muitos milhares de
pessoas, tem um grave problema demográfico.
Tem o mais grave problema demográfico de todos os países da União
Europeia: população muito envelhecida, fecundidade no limiar do desaparecimento
desde há quarenta anos, população jovem insuficiente para as necessidades do
Estado e da economia, crescimento negativo da população (dentro de poucos anos,
a população alemã será inferior não apenas às populações do Reino Unido e da
França, mas também da Polónia). Um verdadeiro calcanhar de Aquiles.
Como é que a Alemanha
resolve actualmente o seu “problema demográfico”, problema que a nossa amiga
Constança diz que não existe?
A Alemanha da srª Merkel importa mão de obra qualificada, a
Alemanha pilha principalmente os país do Sul, que levou à ruína com as suas
políticas “europeias” de austeridade favoráveis à economia e ao capital alemães.
Pirataria, sim,
pirataria. Os alemães vão aos países do sul, capturam jovens qualificados que
estão desempregados, portugueses por exemplo, cuja formação custou muito dinheiro
aos países que são pilhados. Chama-se a isto brain drain. A eles, os que pilham, não custa nada, a nós custa-nos
o nosso futuro.
Oh Constança, a
Alemanha parece não ter um problema demográfico, porque rouba os recursos dos
países aos quais impõe a sua ditadura. E, assim, lá vai a Germania de vento em
popa. Até que um dia aconteça qualquer coisa, o futuro é sempre uma incógnita, on verra bien.
Talvez a doutora Merkel
seja uma espécie de D. Sebastião. Talvez,
nos seus sonos agitados, tenha sonhado o sonho do Hitler, que queria conquistar
tudo e mais alguma coisa. Talvez ela não seja tão ariana como isso. Não faço
processos de intenção, nem sou adepto de amálgamas.
Mas o D. Sebastião
não tinha gente suficiente para sustentar os seus devaneios de príncipe talhado
para um grande destino. O sonho sebastiânico de um grande destino foi a nossa
desgraça.
A Alemanha já perdeu duas
guerras mundiais. Destruiu meia Europa. Era saudável que quem por lá manda
pense muito nisso tudo e trate de resolver, por vias aceitáveis e razoáveis, o problema demográfico a que a Alemanha, passe
o tempo que passar, nunca conseguirá escapar.
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