Nesta ressaca de férias, há uma coisa que me intriga: o que é que estará por detrás da apatia sonolenta em que parece ter caído este pequeno país à beira mar plantado?
Será porque, tendo a maioria das pessoas atingido um nível superior de auto-desenvolvimento, isso lhes conferiu um extraordinário sangue frio e nervos de aço, o que os torna capazes de serenamente aguardarem por dias melhores?
Será apenas porque a maior parte está simplesmente preocupada em sobreviver de qualquer maneira?
Ou será que, por detrás de tudo isso, está aquele velho medo cobarde perante os poderosos?
Todos os dias temos os telejornais, sempre o mesmo teatro com as suas prima-donas, o Sócrates, o Passos e os seus ajudantes, ouvimos os comentadores do costume concordando em coro sobre as mesmas coisas.
É inevitável, vêm aí mais impostos, mais PECS, mais sacrifícios, mais desgraças, mais desemprego. Se não for Bruxelas e os alemães, será o FMI, não há outra saída.
Tivemos o PEC I, tivemos o PEC II, agora vamos ter o PEC III e a seguir o PEC IV, o PEC V... Procuro imaginar onde é que tudo isto vai acabar, mas não me parece que pelo rumo que as coisas levam haja um happy end.
E pergunto-me ingenuamente: terá sido o Deus Nosso Senhor que, para nos castigar pelos nossos pecados, nos enviou os trastes que nos governam? Resposta para mim óbvia: mesmo que Deus exista, certamente não tem nada a ver com isto. Então, quem é responsável?
A maioria dos cidadãos deste país são cidadãos trabalhadores, são cidadãos que pagam os seus impostos, cidadãos que não andam a roubar, muito pelo contrário, muitos são roubados, muitos abusados pelo patrão. A maioria votou no Sócrates e no partido do Passos. Serão eles os responsáveis?
Há poucos dias, os sindicatos de polícias estiveram acampados no Terreiro do Paço. O acampamento durou pouco tempo e ainda bem, ao que parece os polícias conseguiram o que queriam, o Governo assustou-se.
Ora aí está um bom exemplo de falta de apatia. Costuma dizer-se que quem não manduca não trabuca, ou seja, quem não luta fica a ver navios. Bravo aos polícias combatentes!
Para abreviar, talvez esteja então na altura de começarmos todos a acampar no Terreiro do Paço. O espaço é grande, o ar do Tejo estimulante, é um sítio prometedor.
Talvez esteja na altura de começarmos a vir para a rua e falar, discutir, inventar. Ou seja, criar solidariedades e cumplicidades de futuro. Acho que já chega de apatias. É que, em geral, são as apatias que fazem os salazares deste mundo.
Ocupemos então o Terreiro do Paço, mesmo que seja apenas para fazer um Hyde Park. Tem que se começar por algum lado, não é?
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