PEDALAR É PRECISO!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

BANCARROTAS

A palavra mais soletrada ultimamente tem tido a antiga palavra bancarrota.


Palavra soletrada todos os dias a propósito da Grécia, considerada a ovelha mais ranhosa duma coisa que não existe e que se chama união europeia.


Fala-se na bancarrota grega, mas pensa-se sobretudo noutras bancarrotas principalmente mais a sul.


Estas lengalengas mediáticas quotidianas são curiosas e muito sintomáticas do racismo que criou a fronteira entre países do norte e do sul deste problemático continente europeu a que pertencemos.


Não se fala da Bélgica, que está em colapso político e que, muito provavelmente será o primeiro país da CEE a entrar realmente em bancarrota, nem da Irlanda que é o país apontado desde há muitos séculos na Europa como o protótipo do país europeu pobre e sem hipóteses.


Estas duas raridades sócio-histórico-geográficas têm a seu favor o facto de serem países do norte e, assim, são protegidas pelo preconceito dos outros países nortistas actualmente dominantes com a sua soberba de países supostamente ricos ou muito ricos, imunes a essa conversa de bancarrotas.


Pura vigarice nórdica xenófoba e racista.


É que a história das bancarrotas dá para escrever vários livros e dessa história não escapa ninguém. Não vou pormenorizar.


Apenas olhar um pouco para trás.


Na Europa, as bancarrotas de Estado foram frequentes e quase normais durante os últimos séculos.


A França, por exemplo, entre os séculos XIV e XVIII, faliu por oito vezes. No séc. XIX, a Espanha faliu sete vezes. A Grécia também não se portou muito bem. Desde que se tornou independente em 1830, a maior parte do tempo esteve falida, influências otomanas. O Reino Unido entrou em falência não sei quantas vezes, perdi-lhes a conta.


Na época da Grande Depressão, entre os numerosos estados europeus que mergulharam no abismo, o recordista foi de longe a Alemanha.


Concentremo-nos em pormenores que nos interessam agora.


Os Estados podem falir e, muitas vezes isso é óptimo para eles. “Falecem” e não pagam. Quem paga o prejuízo? Há a considerar dois tipos de pagantes.


O mais dramático é o dos desgraçados que entram no desemprego ou perdem as suas pequenas economias.


Há o outro caso, evidentemente muito mais influente, que é o dos credores.


Credores, credores é a quinta coluna dos gajos que especulam com a dívida pública, que financiam a compra de aviões, de submarinos, de mísseis, de armas, gente que empresta milhões para negócios mafiosos, essa gente não gosta de falências.


O Estado falece e essa malta não recupera nem metade.


Apetece dizer que é justo.


Certeza, certeza é que na longa duração histórica, raramente, os Estados cumpriram os seus compromissos financeiros. Os banqueiros e outros prevaricadores tinham obrigação de saber isso, não são enfants de choeur.


No caso da bancarrota anunciada da Grécia, o cenário está à vista.


Dum lado, os desempregados ou futuros desempregados, que é o principal. No mesmo campo, os pequenos aforradores que vão perder grande parte das suas economias, no caso de a bancarrota se confirmar.


Do lado extremo, temos o capital, os capitalistas internacionais no seu melhor, que, ao contrário do que diz a imprensa, são principalmente alemães. Andaram durante estes anos todos a fazer grandes negócios e agora descobrem que, afinal de contas, talvez devessem ter controlado a sua ganância. Ora, capitalista, se há coisa que não consegue controlar é a ganância…


Em que é que ficamos?
Olhando a história, percebe-se que as falências sempre foram inevitáveis acidentes de percurso, a que ninguém escapou. Portugal, 1892, 1926, só para dar dois exemplos.


Erros de percurso político, mas com consequências sociais tremendas. Particularidade, os capitalistas foram sempre capazes de tirar a seu proveito as castanhas do lume.


O que há de novo na actual crise anunciada da bancarrota dos países mediterrânicos é que o capital financeiro elevou a fasquia, passou a um estádio superior. Tendo perdido o medo das bancarrotas, uma parte do capital internacional aposta agora na falência em cadeia dos Estados do euro. Pensa essa gente que têm muitos lucros em perspectiva.


Têm expectativas, a principal é que alguém há-de pagar. São mercenários sem escrúpulos. Gente perigosa, não se vê quem é que os pode travar.


A Europa, versão união europeia tornou-se um sítio muito perigoso, um sítio indefeso. Um sítio rodeado de ameaças. Consideremos alguns cenários.


O mais óbvio, a ameaça da intervenção da tropa.


A Grécia está a ser atacada por todos os lados, a Grécia que é um arquipélago, actualmente está reduzida a ser uma ilha no centro dum furacão conduzido pelo capital financeiro internacional.


Quem defende a ilha contra o furacão?


A Alemanha? Faut pas rigoler avec des choses sérieuses.


A França, Sarkozy?...
A Itália, a Espanha, Portugal?...


Temos dois cenários, sejamos claros.


Ou a Europa, cuja versão união europeia não se vislumbra, decide declarar nula a hipótese da falência dum país do euro, toma as decisões apropriadas e põe os mercados e os especuladores capitalistas na ordem.


Ou a Europa continua a política germânica do blá-blá, quanto pior melhor, com esses senhores alemães a mandarem pôr as bandeiras dos gajos do sul a meia haste em Bruxelas e logo se vê. Pensam eles que não têm nada a perder, antes pelo contrário.


Imaginemos que, depois de todas as misérias que o actual governo Coelho e o anterior nos impuseram, entramos na engrenagem duma inevitável falência idêntica à que se anuncia agora para a Grécia. O que é que poderá acontecer quer no caso da Grécia quer no nosso caso?


A minha hipótese, hipótese que penso ser a mais provável e consistente, é a seguinte: pela minha parte, preparo-me mentalmente e fico à espera que a tropa intervenha.


Não foi isso que o Louçã anunciou para Outubro, um novo 25 de Abril?


Esperemos que seja um 25 de Abril e não um 28 de Maio.


O clima de guerra inter-europeu está cada vez mais audível. Anda para aí muita gente a brincar com o fogo.


Não existe paz perpétua.



1 comentário:

Anónimo disse...

Qual tropa? Existe alguma tropa?