Portugal é um país
que se está a apagar. Está-se a apagar de muitas maneiras e as mais graves não
são as mais óbvias.
Nascem cada vez menos
crianças, a população envelhece. Dentro de cinquenta anos, na melhor das
hipóteses, por cada cem habitantes, trinta terão mais de 65 anos. É o que dizem
as projecções.
O envelhecimento
demográfico tornou-se um alibi político que passou a ser utilizado como arma de
arremesso contra o Estado social e os direitos que lhe estão associados.
Quando estava na
oposição, o CDS, que se diz democrata-cristão, defendia políticas a favor da
natalidade, das famílias e dos reformados. Alcandorado ao poder, automaticamente
emudeceu sobre tão gratas matérias.
O PSD não sei bem o que é que defendia. O PSD,
já todos sabemos há muito tempo, a única coisa que defende com unhas e dentes é
estar sentado na cadeira do poder. Adiante. Este partido auto-intitulado
social-democrata, que nasceu mudo, não pára de nos surpreender
A queda
da natalidade, o envelhecimento demográfico e o aumento da esperança de vida tornaram-se
a pedra de toque de um novo discurso político que acusa os mais velhos de porem
em causa a viabilidade da Segurança Social e da própria economia.
É o
discurso dito por Sócrates em Abril de 2006 diante do Parlamento para
justificar a decisão de “”ligar as pensões de reforma à evolução da esperança
de vida”.
« Há cada vez menos pessoas a
trabalhar, capazes de garantir o pagamento das pensões”. Por isso há que
aumentar a idade da reforma e cortar nas pensões. Este discurso socrático
apoiava-se numa lógica aparentemente imbatível, porém falaciosa: não é a “conspiração
grisalha” que põe em causa a viabilidade da Segurança Social, é o desemprego, é
a emigração dos jovens. São as gerações jovens que, ao esvaziarem-se, lhe
retiram sustentação.
Nos últimos quase três anos tudo piorou, passou-se a uma nova fase, uma
espécie de solução final que se perfila, orientada para um novo objectivo
estratégico: o extermínio do inimigo sénior. É o que consta dos orçamentos
psd/cds.
A destruição dos recursos e rendimentos da grande maioria dos seniores coloca-os
no centro do furação de uma crise financeira sobre a qual não têm qualquer
espécie de responsabilidade. Os responsáveis desta terrível crise são bem
conhecidos e pertencem ao capital financeiro português, europeu e internacional.
Mas os bodes expiatórios estão à mão de semear. Os seniores custam demasiado
dinheiro, é preciso, é fácil exterminá-los, eles não têm defesa.
Hoje, quando assistia à projecção do filme sobre Hannah Arendt, registei
uma coisa que ela disse e que produziu automaticamente na minha cabeça uma
associação de ideias.
Falando sobre Adolf Eichmann e os executores das políticas nazis de
extermínio dos judeus e de outras minorias, Arendt explicou que essas políticas
se baseavam no facto de os nazis entenderem que os judeus que eles mandavam
executar já não serviam para nada, tinham deixado de ter qualquer função que
justificasse a sua existência. Não podiam continuar a ser considerados humanos,
logo, tinham que ser exterminados.
Extermínio de antigos humanos que sobreviveram para além dos custos financeiramente
aceitáveis. Para lá caminhamos. Os mercados, as agências de rating, o goldman sachs,
os governos que mandam na chamada união euopeia, a sra. Lagarde do fmi, todos saberão
reconhecer o extraordinário mérito dessa nova engenharia.
Triste época.
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