Vou seguindo com
atenção as peripécias da Ucrânia-Maidam e da Crimeia-Pátria Russa e não sei se
deva rir ou se deva chorar. Farsa ou tragédia?
É impossível não
evocar alguns factos, situações trágicas e personagens absurdos que pontuaram o
cortejo mundial de guerras, e destruições, de genocídios e de toda a espécie de
crimes que vitimaram milhões de inocentes durante os últimos 150 anos.
Não me vou estender
sobre as duas guerras chamadas mundiais, nem sobre a guerra oitocentista da Crimeia
entre Otomanos, Ingleses, Russos e Franceses. Neste momento, tudo isso é
demasiado para a minha cabeça.
Penso na Ucrânia e,
automaticamente, penso nos pogroms russos e ucranianos que perseguiram e
mataram milhares de judeus. É uma história interminável que terá começado no
séc. XVII.
Pode ter começado na
Ucrânia, alastrando por toda a Rússia czarista e para outros países mais ou
menos vizinhos, Polónia e, principalmente, Alemanha.
Lembro os sucessivos massacres
cometidos contra os judeus da cidade de Odessa ao longo do séc. XIX, lembro os
pogroms organizados durante a guerra civil russa. Lembro o terrível genocídio executado
em toda a Ucrânia e nas repúblicas soviéticas ocupadas, pelas tropas nazis,
muitas vezes apoiadas por gente dali.
Serão os pogroms uma
especialidade nacional ucraniana? A palavra é russa, mas como distinguir um ucraniano
dum russo, dum tártaro, ou dum cossaco?
Como classificar um
tipo que mata, que viola, que rouba alguém, apenas porque ele ou ela são judeus, ciganos ou
homossexuais? Como distinguir esse criminoso não apenas dos tipos que o
mandaram matar, violar e roubar, mas também dos tipos que sabiam o que é que
estava a acontecer e não fizeram nada para o evitar?
No século passado, no
final da 2ª guerra, o Churchill inventou a “cortina de ferro”, os americanos
começaram a “caça às bruxas”, ou seja, perseguições a tudo e a todos que
cheirassem a comunismo, e decretaram uma guerra sem quartel em defesa do “mundo
livre”.
Criaram a NATO,
organizaram golpes de estado em toda a América Latina, era a chamada teoria
Monroe. Governaram o mundo pelo terror em nome da luta pelo “mundo livre”,
contra o comunismo. Invadiram a ilha de Cuba, lixaram-se na baía dos porcos.
Lugar perfeito, designação perfeita, humilhação super-justa. Mas os esforçados
defensores americanos do tal mundo livre não desarmaram. Em represália,
instituíram um bloqueio total à ilha castrista. Até hoje.
Invadiram o Vietnam, provocaram
uma guerra terrível. Quando o Kennedy mandou avançar as tropas, tudo parecia
fácil. O final da história é conhecido: os viets, pequeno povo aparentemente
negligenciável, impuseram uma derrota humilhante à maior potência militar da
história. Fiasco irreparável para os defensores do chamado mundo livre.
Vale a pena perguntar
a propósito de todas estas exacções americanas se alguma vez, antes, durante ou
no final dos crimes cometidos, foi invocada, como parece estar a sê-lo agora a
propósito da Ucrânia e da Crimeia, a pertinência, a força, a legitimidade das
leis e dos tratados internacionais? Alguma vez, foram os EUA julgados pelos
seus crimes contra a Humanidade?
Vão os americanos
passar agora a uma nova fase de defesa do “mundo livre”, envolvendo-se num
conflito com a Rússia em solidariedade com a soberania e o povo da Ucrânia? Vão
pôr em marcha um bloqueio total à Rússia ocupante da Crimeia, um bloqueio
idêntico ao bloqueio com que cercaram Cuba? Vão os europeus, em particular a
grande potência europeia chamada Alemanha, colaborar nessa meritória tarefa?
Leio nos jornais que
os russos da Crimeia saíram festivamente à rua para comemorar antecipadamente o
seu “regresso” à mãe-pátria russa. Manifestação tipicamente nostálgica. De
duvidoso futuro.
Nostalgia dos “gloriosos”
tempos da União Soviética, nostalgia do Zé Estaline e dos goulags. Nostalgia do
socialismo real que continua a existir na Rússia apesar da perestroika, às
ordens de Putin, das suas polícias, dos seus oligarcas e das suas máfias.
A Crimeia parece-me
um lugar muito solitário e patético. Amam a Rússia de Putin, será este amor um problema
apenas deles?
O que farão os
americanos e os seus amigos alemães para travar Putin e os seus sonhos de
ressurreição soviética? Guerra fria, guerra quente? Sanções económicas? Bloqueio
cubano??
Penso nos tremendos fiascos
americanos na sua luta fundamentalista e paranóica contra o comunismo a favor
duma criminosa ficção chamada “mundo livre”, lembro a recente invasão russa da
Geórgia e, a propósito de tudo isto, evoco o filme do Alain Resnais sobre a
guerra civil espanhola. Naturalmente, concluo: “La guerre est finie”.
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