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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

D. DUARTE A PRESIDENTE



Os reis de Portugal, tenho deles uma boa recordação dos tempos de escola, da escola primária.

Sabíamos a cronologia completa dos reis de todas as dinastias, sabíamos pormenores disto e daquilo, havia muita manipulação, claro.

Tinha os meus reis preferidos, D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I, D. Pedro V.

Mas o D. Afonso VI, o 2º rei da dinastia de Bragança era o que despertava mais a minha curiosidade, não percebia muito bem aquela história de ele ter perdido o trono e a mulher para o próprio irmão, chocava-me que o rei tivesse acabado tristemente os seus dias naquele palácio de Sintra preso no seu quarto, enquanto o irmão se regalava. Uma história de família provavelmente como muitas outras, entre os senhores das monarquias devia ser mais ou menos assim, era a justificação que dava a mim próprio.


Da República, a escola primária não me deixou propriamente recordações.

Presidentes da República? Havia alguns nomes, mas referências, histórias, nada disso, vazio total. As Repúblicas não têm história, pelos vistos.

Na primeira República, os presidentes eram eleitos por uns comités que mandavam no parlamento.

Na República do Salazar, o presidente passou a ser eleito, não sei desde quando nem por que razões, por sufrágio universal. O povo passou a ser chamado a votar, inovação extraordinária para uma ditadura, estava muito segura dos seus apoios, deve ser o caso.

Mas, depois das eleições em que o Delgado foi vencido pela trafulhice geral, comandada pela pide e pelos lacaios da união nacional, o partido do Salazar, este decidiu acabar com essa história do sufrágio universal. Acabou-se, o Américo Tomás passou a ser eleito por um colégio reservado ao pessoal da assembleia nacional salazarista.

Percebe-se que, depois de 1974, a Constituição do novo regime tenha decidido que a eleição do Presidente da República passaria de novo a ser feita por sufrágio universal. Era a revolução, donc, passemos a palavra ao povo.

Mas foi uma mudança cheia de ambiguidades. De revisão em revisão constitucional, foi-se passando de um regime semi-presidencialista para um regime semi-regime, ou seja, confuso à boa maneira portuguesa. Ou seja, racionalidade, clareza, transparência, responsabilidade, nada disso tem a ver com a nossa Weltanschauung como gostam de dizer os alemães.

Assim, passámos a eleger, nós, o povo, um tipo que é suposto ser o vértice, o dirigente mais importante do Estado, aquele que toma as grandes decisões, aquele de que toda a gente espera principalmente nos momentos mais difíceis que tome as grandes, as complicadas e decisivas decisões. Era isto que se esperava, mas num regime semi-regime, a lógica diz-nos niente, nada, tenham juízo.

Oh, Cavaco, o que é que tens andado a fazer durante todos estes anos de presidente? Andaste a preparar o teu segundo mandato, não foi?

Grande economista, onde é que estavas em Setembro de 2008, quando já toda a gente via a maldita da crise a cair-nos em cima com as garras afiadas?



Andavas a divertir-te com as escutas lá no teu pequeno palácio ali em Belém, tens-te sentido na pele dum reizinho ameaçado pelas intrigas dos teus cortesãos? Divertido, pas vrai?

Divertiste-te mais com aquela história do estatuto dos Açores ou com história das escutas?

E o que é que vais fazer agora, quais são os teus planos para o novo mandato?

Será que tens mesmo planos, ou será que estás apenas à espera que talvez a certa altura alguém te reconheça e tu próprio te sintas finalmente como uma pessoa importante na história deste pequeno país?

Vais ser eleito, o povo é quem mais ordenha, é seguro, o povo é sereno já dizia o Pinheiro de Azevedo no Terreiro do Paço.

Bendita serenidade, por mim ficava mais sereno se o povo resolvesse acampar no Terreiro do Paço e só de lá saísse quando tu te fosses embora, tu e os teus amigos, que são inúmeros, nem sequer vale a pena pronunciar os seus nomes.

Todos os políticos são iguais na sua insignificante vaidade e mediocridade?

Ontem ouvi o companheiro Duarte de Bragança na televisão. Gostei de ouvir o homem, é-me simpático, se calhar isso terá a ver com alguma nostalgia infantil pelos antigos reis de Portugal.

É também verdade que me reconheço no discurso dele.

Defendeu o cooperativismo, falou do António Sérgio, não parece que goste muito nem do mercado nem do PPM, foi expulso de Angola pela pide e agora quer obter a cidadania timorense.

Em alternativa à união europeia de má memória, defende uma aproximação ao Brasil e aos outros países lusófonos, ou seja, quer que a CPLP passe a ser a nossa UE.

Por mim, não tenho nada contra, tudo pelo contrário. Angela Merkel, Durão Barroso, Sarkosy, Berlusconi, o que é que eu tenho a ver com essa gente?

Oh! Duarte de Bragança candidata-te a rei-presidente, prometo que votarei em ti, companheiro!

2 comentários:

afag43 disse...

Gostei muito da sua análise. Perante a mediocridade geral, tive gosto em ouvir o Chefe da Casa Real Portuguesa. Era um Português a falar.
A.F.

Anónimo disse...

Infelizmente as aparências iludem, e se a Monarquia é uma alternativa que se não pode descartar, D. Duarte nada mais seria do que a reinvenção de D. João VI. Quem se tiver debruçado sobre o que foi esse desastre humano, produto da consanguinidade dos Braganças (que só foram normais quando misturados com os genes Saxe Coburgo), perceberá do que estou a falar...