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terça-feira, 30 de junho de 2009

BEM-AVENTURADOS



Portugal é um país pacífico, parece. Tem uma longa tradição de aguenta aí. Aguenta até quando?

Segundo um estudo feito pelo Centro de Estudos Territoriais (CET), associado ao ISCTE -Instituto Universitário de Lisboa, os portugueses estão cada vez mais pobres e, como se isso não bastasse, estão também mais desmobilizados e desinteressados da política. Não se queixam. Em conclusão, segundo o estudo, estão mais felizes. Voltámos aos tempos do Dr. Salazar?

Os portugueses estão mais pobres porque afinal já não são apenas 18%, nem 20%, upa, upa! 33% da população, portanto um terço de portugueses juntamente com os imigrantes, vive num “contexto de precariedade” e luta pela “sua sobrevivência”, estou a citar uma das coordenadoras do estudo e mais de metade (57%) tem um orçamento familiar abaixo dos 900 euros.

Mas tudo isto não assusta os portugueses, porque pelos vistos vivem felizes.

No tempo do Dr. Salazar também era assim, a pobreza era uma virtude. Pobres mas honrados, pobres e conformados sem ambições, contentavam-se com pouco, eram felizes. Era assim, parece que era assim. Tinham umas hortas, auto-cultivo e assim contrariavam a fome. Parece que é isso que também está a dar agora nalgumas zonas mais pobres do interior. E provavelmente também nas chamadas hortas urbanas…

No dia desta notícia, duas outras que têm a ver com dinheiro e com honradez, fazem um contraponto interessante.

O sr. Madoff, ex-presidente do Nasdaq de New York e grande financeiro que se superou a si próprio nesses domínios ao conseguir a proeza de realizar a maior falcatrua, vigarice e ladroagem da história, apanhou 150 anos de prisão. Pena simbólica, está-se mesmo a ver, vai viver aconchegado num sítio qualquer e depois deixa-se de falar do assunto, nestas coisas a solidariedade entre ricos e poderosos fala sempre mais alto.

Será que os nossos senhores banqueiros que também se têm ilustrado na arte de bem enganar muita gente e encher os bolsos seguirão o destino do sr. Madoff? À escala portuguesa, não se comparam com Wall Street, são apenas mais uns banqueiros, mas, mesmo assim, citando o Vital Moreira, ilustre cabeça de lista do PS, que grande ladroagem!

Haverá alguém que acredite que estes ilustres homens de finanças da nossa praça receberão nem que seja uma pequena advertência simbólica?

Por enquanto, as perspectivas de que isso venha a acontecer são muito ténues e longínquas. Só um é que está por detrás das grades. Os outros continuam a divertir-se à grande, alguns com reformas de milhões, aviões particulares e exércitos de seguranças. Serão felizes?

O exemplo português trazido pelo estudo do CET confirma que não. Porque o velho ditado continua a ter razão: riqueza não dá felicidade, pobreza sim.


Pobres mas felizes, será o nosso país um sítio de pessoas maioritariamente bem-aventuradas?

Se assim fosse, isso seria um mal menor, porque bem vistas as coisas, bem-aventurados são os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus!

Porque, além de estar na Bíblia e de ser uma frase atribuída a Jesus Cristo, essa bem-aventurança justifica as famosas leis do mercado e em particular a liberdade que têm os mais fortes e aguerridos em explorarem em seu proveito os mais pacíficos e desmobilizados.

Desmobilizados têm estado, desmobilizados continuarão. Até quando?

1 comentário:

Anónimo disse...

A pobreza feliz mantém uma relação muito estreita com a pobreza envergonhada num país onde durante muito tempo nos contentámos com pouco e durante muito mais tempo ainda pedimos desculpa por sermos pobres portugueses.Quando não se encontram soluções diz-se que o problema está resolvido e aprende-se a viver com isso.O problema não está na ignorância, mas sim na inércia e o ter-se esquecido a palavra de ordem do poeta quando diz pelo sonho é que vamos...