PEDALAR É PRECISO!

terça-feira, 9 de junho de 2009

LES VERTS


Dos aspectos mais interessantes da ressaca das eleições europeias alguns estarão à vista outros não.

Está à vista que Manuela F. Leite mereceu o seu momento de glória, foi uma espécie de justiça poética para quem se manteve sempre firme nas suas convicções contra a imprensa bem pensante e os seus “amigos” de partido conspiradores. Ela mereceu esse momento e poder dizer, para toda a gente ouvir, que ganhou. Ganhou por pouco mas ganhou.

Aliás, o CDS também resistiu bem, porque têm feito um bom trabalho no Parlamento, uma direita que se tem modernizado, uma nova geração com futuro que se afirma, só os media é que não têm percebido isso.

Sócrates? Sócrates perdeu, de que é que ele estava à espera, tanta arrogância, tanta falta de seriedade e de visão política, com aquela colecção inacreditável de ministros, alguns freaks incompetentes, obstinados e inúteis. Agravante, toda esta gente obedientemente e entusiasticamente apoiada por um grupo, um partido de acólitos e de yes men tocando o tambor marchando – alegremente? - em direcção ao abismo. De que é que estavam à espera? O que é que vão esperar para Setembro?

Pergunta inevitável: ainda resta alguma coisa que tenha a ver com o chamado socialismo, em Portugal e na Europa? Só vejo destroços e isso é uma boa notícia. Sócrates, Martine Aubry, Gordon Brown passarão à história, pela porta pequena. Pensemos no futuro.

O Bloco de Esquerda tem muito trabalho pela frente, tem gente nova, ideias boas, mas que precisam de ser aprofundadas, precisam de se preparar seriamente para o poder. O BE já atingiu um grau notável de implantação e de adesão a nível nacional. Em termos eleitorais, foi aí que ultrapassou o PC, que voltou, pelo menos até Setembro, a ser o dono do Alentejo. Mas no resto do país é quase sempre ultrapassado pelo BE. Estes dois partidos no fundo são um bocado complementares e teoricamente poder-se-iam entender, mas o PC nunca conseguirá ultrapassar o seu complexo de grande partido da classe operária e lá vai resistindo. Marxismo, marxismo, União Soviética, Staline, Trotsky, y-en-a marre, não nos chateiem!

Tudo isto está à vista, mas o detalhe mais interessante das eleições europeias foi o score obtido pela Europe-Écologie, ou seja, os Verdes do Daniel Cohn-Bendit.


É verdade, o Danny Le Rouge de Maio 68 agora virou verde. Não é de agora, mas ontem foi o seu grande dia de glória desde há muito tempo. Conseguiu 16% dos votos, colado com o Partido Socialista francês de Martine Aubry que, por coincidência, é filha de Jacques Delors, o político mais prestigiado da história da Comunidade Europeia. Mas, como mostram os resultados, a filha não se saiu lá muito bem. A conclusão dela é que o seu PS sózinho não vai lá e vai ter que se entender, para começar, com os Verdes do Danny. Extraordinário!

Extraordinário, porquê?

É porque de todos os partidos que se apresentam situados à esquerda, estes Verdes são os únicos que têm um pensamento estratégico novo. Não se trata de ecologia pela ecologia, aquela espécie de vulgata que fervilha na cabeça duma série de gente chata e triste.

Na sua candidatura, os Verdes franceses apresentaram um compromisso programático para a Europa baseado em nove pilares: emprego, energia, agricultura, direitos sociais, saúde, biodiversidade, direitos humanos e luta contra as discriminações, conhecimento, solidariedade internacional.

Para eles, a recessão actual não resulta apenas das crises financeira e económica. Há outras componentes: crises climática, energética, dos recursos naturais e alimentar. É uma crise sócio-ecológica. A solução para tudo isto não consistirá em distribuir a fundo perdido milhares de milhões de euros para salvar indústrias obsoletas, poluidoras ou deslocalizáveis.

O sector automóvel, por exemplo, vai ter que ser reconvertido. É que a circulação automóvel vai-se reduzir, a sociedade pós-petróleo já começou. Reconverter o sector automóvel é, pois, uma medida de bom senso que tornará as cidades mais humanas e habitáveis. Mas, muitos outros sectores terão também que ser reconvertidos.

Esta gente verde diz muitas outras coisas, só estou a resumir: precisamos de uma aliança entre os assalariados, os artesãos, os agricultores, os pescadores e os consumidores a fim de se orientar a produção de bens e os modos de fabrico e adoptar soluções ecologicamente e socialmente responsáveis.

O que se perspectiva nesta nova linha política é a definição de um novo modelo de desenvolvimento, anti-consumista, anti-produtivista, alternativo à exploração desenfreada dos recursos naturais e da força de trabalho, à vertigem auto-destruidora do capitalismo. Por isso, o lema é pós-capitalista: “trabalho para todos, trabalhar menos e de maneira diferente”.

Partilhemos o trabalho, partilhemos os lazeres, partilhemos o conhecimento e a educação ao longo da vida, defendo eu. Vivamos de outra maneira.

Se a coisa pegar, a política e a Europa poderão ganhar sentido e mobilizar os cidadãos para as próximas eleições.


2 comentários:

Anónimo disse...

O problema para os portugueses é bem complicado. Aqui nada começa; uma parte assinalável da chamada classe política começou por tirar fotocópias nas sedes dos partidos, cujos aparelhos foi aprendendo a dominar.

Nada de ideias. O chefe manda e só ele pensa. O objectivo é sempre a conquista e a manutenção do poder. Assim: os verdes tiveram que se aliar ao PC e nunca foram a votos sózinhos, o BE dificilmente crescerá acima do nível que atingiu nestas eleições e o PS é um deserto de ideias...

Novas formas de fazer política, em Portugal? Só quando já forem velhas no resto da Europa.

Os portugueses estão destinados ao castigo de elites que apenas são um conjunto de "capitães de mato" à procura de tesouros escondidos nos cofres públicos.

Anónimo disse...

Meu caro, partilho do seu optimismo quanto ao socore obtido pelos verdes em França e por cá gostei que o partido socialista tivesse perdido para o PSD. Mas que os destroços do socialismo sejam uma boa notícia, como sugere no seu post, não vejo onde possa estar o bom da coisa. Os partidos conservadores reforçaram posições, mas muito mais inquietante foi o progresso dos partidos de extrema direita, veja-se o caso da Holanda, da Austria, da Finlândia. Tristes notícias.