Imagino que o governo português terá no meio daquelas rubricas todas do orçamento que fez aprovar com a ajuda preciosa do PSD/PPD, imagino que ele terá introduzido nesse famigerado documento aprovado na assembleia dita da República muitos segredos, muitas rasteiras que passaram despercebidos, coisas que não dão nas vistas.
É que, no meio de tanto papel, quem o lê tem mais que fazer, temos que ser indulgentes para com esses leitores. Por mim nunca li esse tipo de literatura, não sou candidato, prefiro ler o Dostoiewsky ou o Bukowsky ou outros menos respeitáveis.
Pequena digressão, quando pronuncio o nome deste partido o PSD/PPD nunca sei se devo dizer popular, o que para mim tem conotações preocupantes, se bem que o Dom Luigi Sturzo que inventou o Partito Popolare italiano antecessor da Democracia Cristã fosse uma pessoa muito respeitável, ou se deva dizer social-democrata sendo que, nesta hipótese, não tenho dúvidas quanto ao seu significado porque vejo nessa designação qualquer coisa que é completamente exótica quando a confronto com a história da social-democracia desde os tempos do Marx, do Kautsky and so on. Em frente, basta de divagações.
Orçamento, despesas do Estado, dinheiros, muitos dinheiros é o que andamos todos a pagar à custa de muitas privações, uns mais do que outros, é claro.
O que me perguntei para mim mesmo naquele instante em que, graças à liberdade de expressão e principalmente à coragem de alguém que teve a desfaçatez, elogiemo-la assim, de divulgar aquele vídeo, vejo aquela cena da prisão de Paços Ferreira com uma tropa de polícias altamente treinada, uma tropa motivada e equipada a disparar, na ocasião sobre um preso da prisão de Paços de Ferreira, em aparte cidade mais conhecida por ser a capital do móvel, sobre aquele preso dizia eu que aparentava sem qualquer margem para dúvidas uma atitude passiva, uma atitude pacífica com os braços atrás das costas, não se percebe o que é que o homem estava a fazer de mal, provavelmente tem problemas existenciais graves disse para mim próprio, quem é nunca os teve, pergunto eu mais uma vez, a vida é um caminho cheio de imprevistos, só que a polícia altamente treinada e condicionada não foi treinada para saber dessas coisas não é conveniente, o homem no vídeo vê-se que está em posição inerte não sei se é esse o termo técnico do ponto de vista policial, o que me pergunto é quantos milhões é que o governo chefiado pelo senhor Sócrates, governante e comandante da chamada esquerda popular que, confesso humildemente não sei o que é isso quer dizer, o senhor Sócrates comandante dessa esquerda dita popular, pergunto-me eu mais outra vez com meus humildes e perplexos botões quantos milhões é que ele reservou para comprar aquelas armas Kaser, armas oficialmente catalogadas como armas não letais, armas aparentemente simpáticas concebidas apenas para imobilizar, talvez apenas para acalmar, uma espécie de super-genéricos Xanax, pergunto quanto dinheiro é que ele reservou para pagar esses instrumentos inócuos mas eficientes, mas que justamente porque são eficientes valem todo o dinheirinho que nelas se pode investir.
Armas, que tanto quanto percebi pelas minhas leituras desde há algum tempo já mataram e já invalidaram várias, não se sabe exactamente quantas, pessoas, inclusive polícias-cobaias.
Sabemos que o senhor Sócrates faz questão de se apresentar como um homem da eficiência, por isso, aliás, tem protegido, financiado e apoiado sem quaisquer restrições mentais ou financeiras aqueles senhores dos bancos, o Salgado e os outros. Este tem sido o seu ideal, gosta de se fazer passar por eficiente. Donc, se os taser são eficientes, nem que eles custassem tanto quanto o troço do TGV entre o Caia e o Poceirão, o senhor Sócrates nunca hesitaria, o Estado tem que avançar, o Estado tem que dar o dinheirinho para se comprarem essas armas miraculosas.
É que as razões para um tal investimento são cada vez mais imperiosas e é preciso pensar no futuro.
Ver longe, pensar no futuro, assim se distinguem os grandes homens de Estado dos pequenos carreiristas da política sem alma e sem pedigree.
Sobre o ideal do senhor Socrates manifesto o meu desacordo total e completo. É que quando ouço o velho argumento da eficiência, voilà un mot que me põe sempre com o ninho detrás da orelha. Confesso, todos temos as nossas fraquezas e o som dessa palavra faz-me sempre desconfiar que alguma coisa de pas clair está a ser preparada. Por isso, a história da taser de Paços de Ferreira não pode ser coisa boa, é o que me diz a minha experiência.
Nos últimos anos, li algumas coisas sobre esta famosa arma e fiquei deveras preocupado.
A taser parece-me ser, antes de mais, uma arma de humilhação e de destruição psicológica. Ora, se pensarmos nas depressões psicológicas, nos desenraizados, nos disfuncionais, nos desempregados, na gente com fome, nos excluídos e marginalizados and so on, todos em crescimento exponencial, a taser deve ser catalogada como uma arma de destruição maciça.
Ela parece muito pior, os seus efeitos parecem ser muito mais devastadores do que o daquelas armas que era suposto estarem guardadas no frigorífico do Saddam Hussein. Invasão do Iraque, Bush, Rumsfeld, Powell, Abu Grahib, conhecem a história. Passemos à frente.
Taser, arma de destruição maciça, arma de humilhação nas mãos duns grupos que andam a ser treinados para intervir. Para intervir, mas onde?
Os candidatos devem estar na lista do orçamento do senhor Sócrates e do PSD/PPD.
Desempregados, donas de casa, pais de famílias desesperados, jovens, menos jovens e mais velhos sem meios e sozinhos, gente sem dinheiro para comprar o passe social ou o bilhete do metro, gente com fome que tenta subtrair um pão ou um macdonald, faltam os candidatos?
Quanta da gente desta lista infindável será candidata a cair naquela situação terrível e mortal em que se perde a cabeça num certo momento, quando a esperança acabou, quando faltou uma mão amiga, quando nem sequer alguém abriu um simples sorriso, um simples sinal de encorajamento. Um mundo sem esperança, sem qualquer solidariedade.
Quanta da gente desta lista infindável será candidata a cair naquela situação terrível e mortal em que se perde a cabeça num certo momento, quando a esperança acabou, quando faltou uma mão amiga, quando nem sequer alguém abriu um simples sorriso, um simples sinal de encorajamento. Um mundo sem esperança, sem qualquer solidariedade.
E venham então os profissionais dos taser, quem manda pode. É que acima de tudo, para além de todos os interesses, dificuldades, ansiedades, desorientações, pânicos, problemas enfim, acima dos destinos e da sorte de seja quem for, deve sempre, mas sempre prevalecer a ordem suprema que é a ordem que emana e é imposta pelo Estado, a ordem dos poderosos. Não é, senhor Sócrates?
Estado é Estado, mas, pergunto eu, que sociedade é esta em que vivemos?
Que raio de Estado é este, pergunta que me vem à memória e espero que mais alguém ainda se lembre dela quando aquele sindicalista, cujo nome esqueci, interpelou a memória do Estado Novo definitivamente enterrado, espero eu, no 1ºde Maio de 1974.
1 comentário:
A TV mostra algo que, em princípio, não deveria mostrar. Um pouco contraditório, não é?
Será uma forma de intimidação? Seria verdadeira a filmagem? quem a filmou dentro da prisão? como passou a camâra. Então, foi um colega que filmou outro colega? Uma história mal contada.
Parece-me uma notícia encomendada. Na verdade, nem os jornalistas, nem a própria direcção da TV têm a liberdade de passar este tipo notícias e, ainda por cima, com filmagens de lugares muito restrictos e vigiados. Sem autorização do Grande Líder não é possível tal coisa. É estranho, não é? Não é estranho se o objectivo for a intimidação dos presos e dos cidadãos "livres".
Ao terrorismo económico segue-se, quase sempre o terrorismo social e o informativo não andará muito longe. No fundo, trata-se da divulgação do terrorismo de estado, tal como as compras dos blindados (que afinal eram e não eram para a cimeira da NATO) servem, apenas, para divulgar o terror de estado, para manter na ordem psicológica, através do medo, os cidadãos "livres". No fundo, a precaverem-se do que aí vem.
Depois de tantos anos, verifico, com agrado, que as tuas ideias não mudaram muito.
Um abraço
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