PEDALAR É PRECISO!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TASERS, ORÇAMENTO, ORDEM SOCIAL


Imagino que o governo português terá no meio daquelas rubricas todas do orçamento que fez aprovar com a ajuda preciosa do PSD/PPD, imagino que ele terá introduzido nesse famigerado documento aprovado na assembleia dita da República muitos segredos, muitas rasteiras que passaram despercebidos, coisas que não dão nas vistas.

É que, no meio de tanto papel, quem o lê tem mais que fazer, temos que ser indulgentes para com esses leitores. Por mim nunca li esse tipo de literatura, não sou candidato, prefiro ler o Dostoiewsky ou o Bukowsky ou outros menos respeitáveis.

Pequena digressão, quando pronuncio o nome deste partido o PSD/PPD nunca sei se devo dizer popular, o que para mim tem conotações preocupantes, se bem que o Dom Luigi Sturzo que inventou o Partito Popolare italiano antecessor da Democracia Cristã fosse uma pessoa muito respeitável, ou se deva dizer social-democrata sendo que, nesta hipótese, não tenho dúvidas quanto ao seu significado porque vejo nessa designação qualquer coisa que é completamente exótica quando a confronto com a história da social-democracia desde os tempos do Marx, do Kautsky and so on. Em frente, basta de divagações.

Orçamento, despesas do Estado, dinheiros, muitos dinheiros é o que andamos todos a pagar à custa de muitas privações, uns mais do que outros, é claro.



O que me perguntei para mim mesmo naquele instante em que, graças à liberdade de expressão e principalmente à coragem de alguém que teve a desfaçatez, elogiemo-la assim, de divulgar aquele vídeo, vejo aquela cena da prisão de Paços Ferreira com uma tropa de polícias altamente treinada, uma tropa motivada e equipada a disparar, na ocasião sobre um preso da prisão de Paços de Ferreira, em aparte cidade mais conhecida por ser a capital do móvel, sobre aquele preso dizia eu que aparentava sem qualquer margem para dúvidas uma atitude passiva, uma atitude pacífica com os braços atrás das costas, não se percebe o que é que o homem estava a fazer de mal, provavelmente tem problemas existenciais graves disse para mim próprio, quem é nunca os teve, pergunto eu mais uma vez, a vida é um caminho cheio de imprevistos, só que a polícia altamente treinada e condicionada não foi treinada para saber dessas coisas não é conveniente, o homem no vídeo vê-se que está em posição inerte não sei se é esse o termo técnico do ponto de vista policial, o que me pergunto é quantos milhões é que o governo chefiado pelo senhor Sócrates, governante e comandante da chamada esquerda popular que, confesso humildemente não sei o que é isso quer dizer, o senhor Sócrates comandante dessa esquerda dita popular, pergunto-me eu mais outra vez com meus humildes e perplexos botões quantos milhões é que ele reservou para comprar aquelas armas Kaser, armas oficialmente catalogadas como armas não letais, armas aparentemente simpáticas concebidas apenas para imobilizar, talvez apenas para acalmar, uma espécie de super-genéricos Xanax, pergunto quanto dinheiro é que ele reservou para pagar esses instrumentos inócuos mas eficientes, mas que justamente porque são eficientes valem todo o dinheirinho que nelas se pode investir.


Armas, que tanto quanto percebi pelas minhas leituras desde há algum tempo já mataram e já invalidaram várias, não se sabe exactamente quantas, pessoas, inclusive polícias-cobaias.
Sabemos que o senhor Sócrates faz questão de se apresentar como um homem da eficiência, por isso, aliás, tem protegido, financiado e apoiado sem quaisquer restrições mentais ou financeiras aqueles senhores dos bancos, o Salgado e os outros. Este tem sido o seu ideal, gosta de se fazer passar por eficiente. Donc, se os taser são eficientes, nem que eles custassem tanto quanto o troço do TGV entre o Caia e o Poceirão, o senhor Sócrates nunca hesitaria, o Estado tem que avançar, o Estado tem que dar o dinheirinho para se comprarem essas armas miraculosas.
É que as razões para um tal investimento são cada vez mais imperiosas e é preciso pensar no futuro.

Ver longe, pensar no futuro, assim se distinguem os grandes homens de Estado dos pequenos carreiristas da política sem alma e sem pedigree.

Sobre o ideal do senhor Socrates manifesto o meu desacordo total e completo. É que quando ouço o velho argumento da eficiência, voilà un mot que me põe sempre com o ninho detrás da orelha. Confesso, todos temos as nossas fraquezas e o som dessa palavra faz-me sempre desconfiar que alguma coisa de pas clair está a ser preparada. Por isso, a história da taser de Paços de Ferreira não pode ser coisa boa, é o que me diz a minha experiência.

Nos últimos anos, li algumas coisas sobre esta famosa arma e fiquei deveras preocupado.
A taser parece-me ser, antes de mais, uma arma de humilhação e de destruição psicológica. Ora, se pensarmos nas depressões psicológicas, nos desenraizados, nos disfuncionais, nos desempregados, na gente com fome, nos excluídos e marginalizados and so on, todos em crescimento exponencial, a taser deve ser catalogada como uma arma de destruição maciça.
Ela parece muito pior, os seus efeitos parecem ser muito mais devastadores do que o daquelas armas que era suposto estarem guardadas no frigorífico do Saddam Hussein. Invasão do Iraque, Bush, Rumsfeld, Powell, Abu Grahib, conhecem a história. Passemos à frente.
Taser, arma de destruição maciça, arma de humilhação nas mãos duns grupos que andam a ser treinados para intervir. Para intervir, mas onde?


Os candidatos devem estar na lista do orçamento do senhor Sócrates e do PSD/PPD.

Desempregados, donas de casa, pais de famílias desesperados, jovens, menos jovens e mais velhos sem meios e sozinhos, gente sem dinheiro para comprar o passe social ou o bilhete do metro, gente com fome que tenta subtrair um pão ou um macdonald, faltam os candidatos?
Quanta da gente desta lista infindável será candidata a cair naquela situação terrível e mortal em que se perde a cabeça num certo momento, quando a esperança acabou, quando faltou uma mão amiga, quando nem sequer alguém abriu um simples sorriso, um simples sinal de encorajamento. Um mundo sem esperança, sem qualquer solidariedade.

E venham então os profissionais dos taser, quem manda pode. É que acima de tudo, para além de todos os interesses, dificuldades, ansiedades, desorientações, pânicos, problemas enfim, acima dos destinos e da sorte de seja quem for, deve sempre, mas sempre prevalecer a ordem suprema que é a ordem que emana e é imposta pelo Estado, a ordem dos poderosos. Não é, senhor Sócrates?



Estado é Estado, mas, pergunto eu, que sociedade é esta em que vivemos?

Que raio de Estado é este, pergunta que me vem à memória e espero que mais alguém ainda se lembre dela quando aquele sindicalista, cujo nome esqueci, interpelou a memória do Estado Novo definitivamente enterrado, espero eu, no 1ºde Maio de 1974.

1 comentário:

Anónimo disse...

A TV mostra algo que, em princípio, não deveria mostrar. Um pouco contraditório, não é?
Será uma forma de intimidação? Seria verdadeira a filmagem? quem a filmou dentro da prisão? como passou a camâra. Então, foi um colega que filmou outro colega? Uma história mal contada.
Parece-me uma notícia encomendada. Na verdade, nem os jornalistas, nem a própria direcção da TV têm a liberdade de passar este tipo notícias e, ainda por cima, com filmagens de lugares muito restrictos e vigiados. Sem autorização do Grande Líder não é possível tal coisa. É estranho, não é? Não é estranho se o objectivo for a intimidação dos presos e dos cidadãos "livres".

Ao terrorismo económico segue-se, quase sempre o terrorismo social e o informativo não andará muito longe. No fundo, trata-se da divulgação do terrorismo de estado, tal como as compras dos blindados (que afinal eram e não eram para a cimeira da NATO) servem, apenas, para divulgar o terror de estado, para manter na ordem psicológica, através do medo, os cidadãos "livres". No fundo, a precaverem-se do que aí vem.

Depois de tantos anos, verifico, com agrado, que as tuas ideias não mudaram muito.

Um abraço