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quarta-feira, 21 de março de 2012

GREVE GERAL PARQUE MAYER


Mais uma greve geral está anunciada para amanhã, mais um episódio do velho ritual da impotência sindical.


Vai ser uma greve geral dos transportes, o que faz todo o sentido. É que o novo secretário–geral da CGTP fez a sua carreira sindical no sector dos transportes. Há anos que este homem organiza greves para chatear quem trabalha, gente sem defesa que precisa de ir para o emprego, levar os filhos à escola, ir às compras, visitar um parente ou ir ao médico. Ficam horas à espera de transporte e nada. Não andam a passear, não são turistas.


A imagem nua e crua que subsiste na nossa memória sobre o sindicalismo português é a do soberano desprezo que os sindicalistas “transportadores”da CGTP sempre têm manifestado por quem trabalha, ao longo destes muitos anos de cíclicas greves de transportes.


Greves que se repetem, greves cujo principal resultado acabou por ser a falência sem excepção de todas as empresas públicas de transporte. Essa é a triste realidade dos factos.


Sindicalistas que são do tipo castigadores dos mais fracos, mas que amocham diante dos gestores incompetentes e muito provavelmente corruptos das empresas públicas.


Não quero generalizar, mas a maior parte desses gestores públicos conduziram deliberadamente as empresas públicas ao actual estado de falência, cujas consequências caiem sobre os desgraçados contribuintes portugueses por muitos e desgraçados anos.


Nesta história das empresas públicas de transportes, estamos perante uma aliança típica entre o capital de Estado e o trabalho.


Os gestores capitalistas, protegidos pelos seus partidos-patrões, delapidam, usurpam, roubam a propriedade pública. Quanto aos sindicalistas, cabe-lhes castigar os desgraçados que não têm alternativa ao serviço público. Nesta aliança, ganham apenas os gestores em título das empresas públicas.


Afinal, para que servem os sindicatos? Boa questão.


Quanto ao Proença da UGT, estamos conversados, ele assinou o acordo com o governo da troika, está do lado do capital, do FMI, da Alemanha e dessa malta toda. Metamo-lo na gaveta, vai fazer companhia ao socialismo do Soares, essa gente não conta, não é alternativa.


Há uns anos, os militantes da CGTP, quando vinham para a rua manifestar, gritavam invariavelmente e isso aconteceu durante anos, “CGTP, unidade sindical!”.


Ò srs. sindicalistas cêgêtêpistas, supostamente comunistas, bloquistas, católicos progressistas, socialistas “de esquerda”, o que é que quer dizer isso de “unidade sindical”?


Unidade sindical para repetir indefinidamente o mesmo rol de disparates patrocinados desde há anos e anos pelos dirigentes do aparelho sindical?


Unidade sindical para alimentar a ilusão de que os sindicatos têm influência e capacidade, força e poder para porem o patronato, os capitalistas e os seus lacaios em sentido, que têm poder para influenciar e contrariar as leis e as práticas governamentais e patronais, cujo único objectivo é destruir todos os direitos que foram sendo conquistados e consagrados na constituição e nas leis da República?


Ò srs. sindicalistas, desculpem lá, não é por mal, nem por azedume que digo isto. Mas, se verdadeiramente estão apostados em cortar cerce o tsunami político posto em movimento, com o alibi da crise da dívida soberana, pela aliança entre governos e banqueiros portugueses contra o direito básico a um trabalho e a um salário dignos em Portugal, deixem-se de brincadeiras.


Inspirem-se da tradição do verdadeiro sindicalismo dos velhos tempos “classe contra classe” e tenham a coragem de convocar uma greve geral ilimitada.


Mas, antes desse passo sem retorno, preparem o país, preparem o povo, preparem os assalariados, os precários, os reformados, preparem todos os explorados para uma insurreição social a favor dum Estado baseado na justiça igual para todos, na solidariedade e na economia social.


Deixem-se de greves gerais para inglês ver.


Caminhamos para o abismo, já estamos acima de um milhão de desempregados, muita gente, muitas famílias com fome, muita gente trabalhando a qualquer preço, vergonhosamente explorados por patrões e lacaios patronais sem escrúpulos e pelo próprio Estado.


Greve geral é coisa séria, não é parque mayer.


Tenham juízo.

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