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quinta-feira, 28 de maio de 2009

AS QUARENTONAS DE CANNES


No festival de Cannes, que acabou há poucos dias, o principal acontecimento mediático acabou por ser o espectáculo protagonizado por duas actrizes quarentonas, a francesa Sophie Marceau e a italiana Monica Bellucci, na famosa passadeira vermelha mediterrânica. Foram a Cannes promover o filme Ne te retournes pas de que são protagonistas e que, segundo parece, é um drama sobre troca de identidades, em que uma delas deixa de ser quem é e passa ser a outra. Não sei muito bem como é que isso funciona.

Passearam na passerelle de mão dada e quase se beijaram (na boca, claro), grande frisson para os fotógrafos. Estavam lindíssimas vestidas de vermelho. O filme não estava a concurso, mas mesmo assim elas tomaram conta do festival. E não apenas do festival. Na mesma altura causaram um frisson ainda maior, que não podia deixar de ser mundial, ao aparecerem na capa da revista parisiense Paris Match, nuas, serenamente e amigavelmente abraçadas uma à outra. Os jornais portugueses não ligaram à coisa. Já estamos habituados a estes desfasamentos, preferem falar do BPN e do BPP e do B de P, e sei lá mais o quê.

A imagem das duas mulheres na capa não é apenas extraordinária. Ela é principalmente um magnífico sinal dos tempos, que contrariam estes tempos em que só se fala de crise. Abaixo a crise e os que dela se aproveitam!

Vejamos a capa, olhemos para ela. A Mónica tem 45, a Sophie 42 anos. Estão no máximo esplendor da sua maturidade. São artistas, são mulheres, são mães. Mães tardias, como são cada vez mais as mães do nosso tempo. A Mónica teve um filho aos 40, fez-se fotografar nua quando estava grávida o que fez tremer as paredes – imaginem – do Vaticano. Não se esqueçam que a mulher é italiana. A Sophie teve uma filha aos 36 anos.

Não têm ar de estar a pedir autorização para aquilo que andam a fazer. São senhoras do seu nariz e do seu destino, não há padres, nem maridos, nem empresários, nem patrões a dar ordens. Estão divertidas, estão vivas e são um regalo para os olhos. Alguns falam de Weekend Lesbo Fantasy, mas o que é que isso tem a ver? Não percebem nada.

A verdade crua e extraordinária é que estas duas mulheres noutra altura teriam ido parar à cadeia, talvez acabassem estorricadas numa fogueira ou linchadas. Certo e seguro, nunca teriam conseguido chegar vivas aos 40 anos. E, quanto àquele esplendoroso e maravilhoso descaramento, mesmo sendo estrelas de cinema, o que é que acham que lhes teria acontecido?

Há cem anos, em Portugal, as pessoas viviam em média até aos 40 anos. A Sophie e a Mónica não só já lhes passaram à frente em matéria de anos de sobrevivência, como continuam frescas que nem uma alface. Aleluia!

Lembram-se da pobre balzaquiana, a mulher de trinta anos condenada ao celibato e à solidão. Lembram-se das mulheres que já nem sequer sabiam muito bem que idade tinham, com uma catrefa de filhos à volta a quem dar de comer? Triste fado o desses tempos que não são assim tão longínquos.




Infelizmente, o regozijo pela Humanidade, que da lei da morte se vai libertando em vida, tem mesmo os seus limites. Quando penso nas mulheres do Botswana que vivem, em média, apenas 33 anos e comparo essa média com a média das mulheres japonesas e os seus 86 anos, o que é que devo pensar?





1 comentário:

Anónimo disse...

As mulheres são, cada vez mais, a esperança de uma Humanidade perdida por homens sem ética, sem escrúpulos, com muito poder, transformado em instrumento de roubalheira. Elas também são a alegria dos nossos tempos, à medida que se vão libertando dos espartilhos que os homens e as religiões lhes teceram.

Meu caro, este seu texto é um hino à mulher e traz-me à memória um poeta que a cantou com particular emoção, devoção e amor, o Vinicius de Moraes. Só que as suas palavras não subentedem o "machismo" de Vinicius. VIVA A MULHER!!!