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terça-feira, 22 de março de 2011

FANTASIA SOBRE O POS-SÓCRATES



Não é um psicodrama, não é uma farsa, será uma tragédia?

Tudo isso, tudo isso, esses qualificativos só dependem do ponto de vista, dependem dos interesses que estão em acção nos bastidores do business, dos gabinetes ministeriais, de quem manipula as bolsas, os mercados, as obrigações, a dívida soberana…

Ao ponto a que a política chegou aqui neste pequeno país, que já não é bem um país, neste protectorado de chapéu na mão, ao ponto a que isto chegou, há gente a esfregar as mãos de contente, há muita gente a ganhar muito dinheiro, uns quantos a ganhar ainda mais poder.

E depois há outros que estão a perder talvez muito dinheiro e outros que vão perder poder, provavelmente todo o poder que os corrompeu para a eternidade, se é que existe isso de eternidade, a memória humana é bem curta.

Em tudo isto, a maioria, aquilo a que por vezes ainda se chama povo, esse pessoal anónimo, pais de família, jovens perdidos, mães aflitas, velhotes que se vão agarrando a bóias de salvação no meio do naufrágio, sem remédios e sem pão para comer, todos os peões inocentes e impotentes deste jogo estão tramados. Que isto caia para um lado ou para o outro, não haverá geração à rasca que lhes valha.

Porque se julgam deuses, os políticos vivem na arrogância saloia de quem acha que põem e dispõem sobre tudo o que lhes aparece à frente. Têm alta opinião de si próprios.

Pura ilusão, quanto mais alto sobem, mais alto será o trambolhão, isso é sabido desde sempre.
Na narrativa política destes seis anos e tal, acho que é a esse ponto do trambolhão a que chegámos, o fim do Sócrates e do seu bando parecem à vista.

Farsa e tragédia. A farsa dos que se acham Luís XIV e que afinal não passam duns parvenus patéticos, duns chicos espertos que andaram a brincar com coisas demasiado importantes e sérias para o seu arcaboiço.

Tragédia, porque outros, muitos outros lhes serviram de capacho ou fizeram de conta que não se estava a passar nada, andavam na sua vidinha, a política aos políticos, a gente cá se há-se de arranjar.


Haverá inocentes no meio disto tudo.

As criancinhas, mesmo e apesar da sua crueldade natural, elas são inocentes.
São inocentes mas não nos ensinam nada.

O que é que se vai passar a seguir no novo acto da farsa-tragédia?


O PEC IV vai para a gaveta, os senhores germânicos ficam zangados, os mercados cortam os empréstimos, o FMI entra aí com a tropa fandanga toda dos abutres da finança, acabam com as pensões de reforma, cortam mais 50% dos salários, aumentam mais 50% do passe social, do preço do pão, do leite, do leite com chocolate, põem a gente a pão e a água, fecham as poucas fábricas que ainda existem por aí não se sabe muito bem onde, confiscam as terras… Não é science fiction.

Estamos nessa borda do precipício.


Quem é que nos vai, não digo salvar, quem é que nos vai ser de alguma utilidade?
O Ricardo Salgado, o Jardim Gonçalves? O Marcelo Rebelo de Sousa, o Sousa Tavares Filho? Aqueles tipos da Sonae, do Jerónimo Martins, da Cimpor…O Cavaco, o Jaime Gama, o Miguel Relvas, o Passos Coelho, o Louçã?


O PEC IV e o Sócrates vão à vida, PSD, CDS, PC e BE vão votar contra. É o que diz a televisão e os jornais confirmam.


Lamento que todos estes partidos que agora vão votar contra o Sócrates e a patroa Merkel não tenham votado contra, todos juntos, mas há mais tempo, contra o PEC I, o PEC II e o PEC III. Afinal, é suposto que esses partidos, uns mais à direita, outros mais à esquerda, confesso que tenho cada vez mais dificuldade em distinguir o que é que verdadeiramente os distingue, esses partidos têm estado na oposição durante todos estes anos de desgraça.


Vamos lá, então, vamos imaginar, eles votam contra, mandam o PS e o seu bando de socráticos para uma inadiável e longa cura de oposição. Mas será que se vão entender quanto ao que é preciso fazer a seguir?


Continuemos a imaginar. Mandam os germânicos de volta ao ouro do Reno, entendem-se com os povos meridionais da Europa e do Mediterrâneo, entendem-se com África e com a América Latina.


Pedem sacrifícios que são de facto necessários, mas respeitam a dignidade do povo, são verdadeiros, são credíveis, pensam no interesse comum, pensam nos fracos, nos pobres, nos mais vulneráveis. Corajosos, fazem frente aos interesses dos poderosos do costume. Apostam na economia social, na solidariedade, abrem oportunidades aos jovens, valorizam o mérito e a honestidade, combatem a corrupção, põem a justiça ao serviço do bem comum, apostam na indústria, nas pescas, na agricultura, apostam no interior do país, apostam na economia, combatem a recessão e ignoram o ultimato germânico contra o espectro do deficit…


A minha mente transvia, será farsa, será Gil Vicente?

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