Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena (em alemão: Caroline Josepha Leopoldine Franziska Ferdinanda von Habsburg-Lothringen) (Viena, 22 de Janeiro de 1797 — Rio de Janeiro, 11 de Dezembro de 1826) que, no Brasil, passou a assinar Maria Leopoldina e Leopoldina, foi arquiduquesa da Áustria, primeira imperatriz-consorte do Brasil, regente do Brasil em setembro de 1821, e, durante oito dias, em 1826, rainha-consorte de Portugal.
Retirei estas informações da Wikipédia, confesso que nunca tinha ouvido falar desta senhora, fiquei curioso e logicamente fui a correr informar-me. Não dei o meu tempo por mal empregado. Descobri que Dona Leopoldina e Leopoldina foi uma mulher de muitos méritos e que, infelizmente, sofreu um destino muito difícil e trágico. Uma mulher mártir, mais uma entre muitas e muitas, paz à sua alma.
Obrigado, dr. Miguel Sousa Tavares.
É que, na passada segunda-feira, deixem-me fazer as contas, foi no dia 7 de Março de 2009, tive o extraordinário privilégio de ouvir este comentador residente dos telejornais da segunda feira da SIC afirmar com a mais íntima convicção, por volta das 20,30 mais minuto menos minuto, que se não tivesse sido a imperatriz Maria Leopoldina, não teria havido abolição da escravatura no Brasil.
Este comentário em tom absolutamente categórico caiu do alto do pensamento do distinto comentador em resposta a uma pergunta da jornalista ali sentada ao lado sobre assuntos de actualidade, ela queria saber o que é que ele, comentador oficial da SIC, pensava sobre essa história dos homens da luta que ganharam o festival da RTP (há quantos anos é que não ouvia falar desta coisa?) e também o que é que ele achava sobre a manifestação da chamada geração à rasca, marcada para o próximo dia 12 de Março, Sábado.. Havia um nexo óbvio entre essas duas questões.
São de facto assuntos de actualidade e não só (ou seja, são de actualidade mas também podem ser assuntos de futuro).
Pelo tom do distinto comentador deduzi que, para além dele, muitas outras cabeças bem-pensantes deste país, cabeças pensantes que, com a arrogância própria de quem está na crista da onda, se manifestam deveras preocupadas com o que ele, Dr. Tavares, designou de demagogia popular e suas nefastas consequências. Referia-se, claro, à Alemanha, aos mercados, às agências de rating, finanças, negócios, bancos, e, deduzo eu, a viagens a sítios muito especiais, talvez ilhas Maurícias, Antártida, Patagónia, Chamonix, sei lá, nunca fui a esses sítios e também não tenciono ir. Trípoli?
A propósito dos homens da luta e da manifestação do dia 12, o Dr. Tavares, depois de referir a imperatriz, acrescentou demagogia popular, onde é que ele quereria chegar?
Demagogia popular, democracia popular, lapsus linguae?
Por mim e esta é a minha interpretação pessoal, depreendi que o que ele, comentador encartado, queria dizer é que quando o povo se manifesta ou vem para a rua isso é contra a democracia. Porque a democracia é assunto sério, é coisa reservada, exclusiva, é para profissionais da política, para gente do parlamento, do governo, do Estado, gente com autoridade.
Se o povo vem para a rua gritar, se protesta, se levanta a voz, isso é pura demagogia, demagogia popular, claro, mas demagogia e isso não é aceitável, é mesmo muito perigoso.
Ò Dr. Tavares sabia que a primeira abolição oficial da dita escravatura no Brasil foi aprovada ainda no tempo do Marquês de Pombal mas que infelizmente para muitos milhões de desgraçados a escravatura só foi efectivamente abolida nesse país em 1888 com a assinatura da chamada Lei Áurea? Sabia que nessa altura, o Brasil era o único país ocidental onde a escravatura ainda era legal?
Sabia, Dr. Tavares, que entre a regência da Dona Leopoldina em 1826 e a Lei Áurea de 1888, muitos políticos “demagogos” e abolicionistas deram o corpo ao manifesto lutando por essa causa, sabia que muitos escravos tiveram a demagógica ousadia de desafiar o seu destino, lutando, revoltando-se ou fugindo, assassinando os seus torcionários ou suicidando-se?
Todos os dias somos bombardeados pelos discursos de distintas cabeças bem-pensantes inspiradas por inefáveis sentimento apenas ao alcance de quem foi destinado aos altos desígnios da hegemonia ideológica, ao alcance de inefáveis e bem protegidas cabeças que nos pretendem cloroformizar nas suas redes de mentiras e meias verdades. Entre a espada e a parede, entre o discurso do nós ou o caos.
Discursos hegemónicos muito antigos, há muitos anos que os ouço.
Ou te calas, ou…
Fica em casa, tem juízo, vê lá o que fazes.
Inefáveis cabeças que felizmente acabam sempre varridas pelos ventos da história, nunca mais aprendem. Adeus Salazar, adeus Caetano, adeus Mubarak, adeus Ben Ali. Adeus esclavagistas.
Inefáveis cabeças, que fareis quando a demagogia popular se sentar na rua?
Adeus Merkel, adeus Cavaco, adeus Sócrates, adeus Kadhafi?
Adeus profiteurs, adeus banqueiros, adeus capitalistas?
Dr. Tavares, presumo que não terá surpresas no seu caminho, está bem instalado, bem rodeado, não me parece que algum dia alguma coisa o venha a espantar. Lamento-o por si, mais je n’y peux rien.
Felizmente existem muitos caminhos diferentes, há muitos anos que os homens andam por estas terras, haverá sempre muitos caminhos incertos certamente.
É certo que nunca se saberá antecipadamente quem terá a última, diria antes a penúltima das penúltimas palavras nos caminhos do que classificou como “demagogia popular”.
Corrijo, se me permite e para terminar, nunca se saberá antecipadamente o que poderá acontecer nos caminhos da democracia e da liberdade, igualdade e fraternidade.
Mais de duzentos anos depois da Grande Revolução, tudo isto continua subversivo. Longo caminho!
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