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segunda-feira, 11 de abril de 2011

APELO À SUBMISSÃO NACIONAL



Na passada semana, sábado 9 de Abril, o Expresso publicou um apelo de 47 “personalidades”, é assim que são designados os seus subscritores.

Para quem não sabe ou tem a memória curta, 9 de Abril é o dia do aniversário do início da batalha de La Lys, batalha de triste memória esta, memória que desapareceu da nossa memória contemporânea.

Ninguém nos pode impedir, recordemos esta batalha onde as tropas portuguesas foram dizimadas pelo exército alemão em 1918 e em que perdemos então pelo menos sete mil e quinhentos soldados, o que correspondia a praticamente metade do contingente que foi enviado para a carnificina.

A propósito deste apelo fica aqui assinalada a coincidência.

Exactamente, 93 anos depois daquele terrível desastre face às tropas alemãs, e na semana em que Portugal falido e desgovernado se submeteu completamente derrotado e sem qualquer capacidade negocial face ao eixo Berlim/Bruxelas, um grupo de personalidades de primeira água decidiu subscrever um apelo para um compromisso nacional “que permita assegurar a credibilidade externa” de Portugal, por outras palavras, um compromisso nacional para cumprir as ordens do tal eixo, dito da maneira que se impõe, um compromisso para a submissão.

Esta não é uma pequena coincidência de datas e admito que os seus subscritores talvez nem sequer se tenham dado conta dela. São personalidades, têm andado por aí pelas mais variadas razões, puseram-lhes o texto à frente, não vou comentar porquê uns e por que não outros, todos assinaram.

São 47 personalidades, podiam ser 48, mas nada mudava.

Entre os signatários do tal apelo, na primeira fila lá estão os três antigos presidentes da República Portuguesa, eleitos por sufrágio universal. Todos foram eleitos duas vezes. Mas, se lhes acrescentarmos o nome do quarto presidente, que é o actual inquilino de Belém, teríamos então 48 signatários. Faria todo o sentido.

Todos juntos, estes quatro presidentes, dois dos quais foram também primeiros-ministros, os seus nomes sintetizam e dão também legitimidade aos 35 anos do regime democrático pós-25 de Abril, 35 anos contados a partir da primeira eleição de Ramalho Eanes.

Dão legitimidade a tudo o que correu bem, e houve coisas que correram bem, mas também dão legitimidade a tudo o que correu mal.

Nesta semana do apelo, que é a semana da desgraça em que caímos, teremos principalmente tendência para pensar no que correu mal. Pela minha parte, gostava de perceber o que é que moveu os nossos antigos três presidentes.

Se quisesse recorrer a um calão filosófico, diria que o apelo que subscreveram é um apelo “tautológico”, diz uma coisa e, a seguir, exactamente a mesma coisa.

Alínea a) os apelantes apelam a um compromisso nacional “entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos”, alínea b) apelam a “um compromisso entre os principais partidos, com o apoio do Presidente da República”.

Não sou crítico literário, nem psiquiatra, nem linguista, confesso, porém, que muito gostaria de conhecer a mente brilhante, a luminária que foi encarregada de redigir este pressupostamente histórico documento subscrito por tantas e tão importantes personalidades.

Não sendo perito em nenhuma dessas ciências, consigo no entanto deduzir que para os distintos subscritores de tão pungente e dramática mensagem, as palavras-chave são apenas duas: Presidente da República e “Principais Partidos”.

Presidente da República, sei do que se trata.

“Principais Partidos”, do que é que estamos a falar, de que é que estão a falar os antigos presidentes?

Deduz-se, não vejo outra resposta, que se estão a referir aos dois únicos partidos que têm alternado durante os últimos trinta e tal anos no poder.

Estão a nomear aqueles dois partidos que, mais uma coincidência interessante, são irmãos-gémeos não apenas no nome, um é socialista, o outro é social-democrata, mas também na doutrina e na prática, ambos são de direita.

Dois partidos que, ao longo dos anos, concentraram o essencial das suas energias principalmente na criação de mafiosas teias de solidariedades e de cumplicidades que puseram o país a saque, que o empobreceram, que destruíram a agricultura, a indústria e as pescas, que nos entregaram às ilusões do eldorado do consumo e da riqueza fácil e dos fundos europeus reservados às clientelas dos dois partidos, dois partidos gémeos que conduziram o país a esta falsa democracia onde mandam gauleiters e caciques sem honra, sem honestidade e sem valores.

Partidos, cujos governos que, com graus de responsabilidade variável, entregaram o país a essa gente das redes e do tráfico de influências e à bancarrota.

Perguntemos, então, aos senhores antigos presidentes, é a essa gente, àquilo a que chamam de “principais partidos” que lançam o vosso apelo do 9 de Abril?

Senhores presidentes, metam lá a mão na consciência, será que não se sentem responsáveis pelo monstro que ajudaram a criar e a prosperar?

Não se sentem responsáveis pelo novo regime a que chegámos agora, este regime em que a República portuguesa passou a estar às ordens do eixo Berlim/Bruxelas? Um regime para o qual as eleições do próximo dia 5 de Junho, se bem entendo o vosso pensamento, vão ser apenas um mero pró-forma?

Mero pró-forma, sim, é o que se depreende do vosso apelo. Já não é o povo quem mais ordena. O que nos dizem no tal apelo é que o povo tem que votar direito, o povo não tem escolha, ou vota num, ou vota no outro dos dois “principais partidos”.

É uma mensagem clara, a “democracia” portuguesa tem que decidir o que tiverem decidido os dois partidos-gémeos, os dois “principais partidos”.

É um apelo sem recurso, não é susceptível de segundas interpretações. Qualquer que seja o resultado das próximas eleições, já está tudo decidido, a UE já decidiu tudo, o próximo governo português terá que assinar por baixo o que o eixo Berlim/Bruxelas lhe puser à frente da caneta.

Este é o vosso legado, senhores antigos presidentes, o legado que assinala a perversão da antiga ideia democrática de 1974.

Legado agora legitimado pelos principais subscritores do apelo de 9 de Abril de 2001, subscritores que não são apenas “personalidades”.

Eles são os principais e supremos representantes vivos de 35 anos de democracia pós-Estado Novo. Não ouso pensar que sejam os seus coveiros, não me parece que essa tarefa ainda esteja ao seu alcance.

Aconteça o que acontecer, seja qual venha a ser a partir daqui o vosso papel, obrigadinho pela ajuda, senhores antigos presidentes.

Alguém vos há-de perdoar.


1 comentário:

Anónimo disse...

Pode haver perdão para aqueles que ludibriam o seu próprio povo e vendem o seu país?

josé António