Nos últimos dias, o Palácio de S. Bento e o Palácio de Belém desapareceram dos ecrãs da televisão. Finalmente, eis uma boa notícia.
Como neste momento não se passa naqueles palácios nada de singular, a máquina mediática indígena emigrou para outros sítios da capital. As atenções voltaram-se agora para o Terreiro do Paço.
É um regresso que não deixa de ser curioso porque acontece exactamente quando o dito terreiro deixou teoricamente de ser centro de poder e se está a transformar num haut lieu do consumo turístico de qualidade.
Voltámos, então, ao histórico Paço e à sua praça, a este sítio onde durante séculos se pavonearam muitas e muitas gerações e dinastias de senhores que mandavam as suas ordens para todo o país.
No novo ciclo histórico cheio de incertezas que estamos a inaugurar, graças aos troiko-emissários da potência ocupante que veio certificar a falência do regime neo-liberal PS/PSD, está de volta o brilho da grande praça do poder.
Aqui há tempos acamparam nesse sítio os polícias.
Agora, a ordem de acampar foi dada aos profissionais mediáticos encarregados de recolher as opiniões dos porta-vozes dos sindicatos e dos patrões que, após uma hora ou meia-hora de conversa lá dentro, se apresentam perante as câmaras com o ar sério de quem solenemente representa os seus representados e que foram ali chamados para uma suposta negociação com a dita potência ocupante.
Principal vantagem da mudança para este novo sítio mediáticos. Hoje, tanto quanto a minha memória alcança, o sr. Sócrates, pela primeira vez, não apareceu nos telejornais. Registe-se a data, 19 de Abril de 2011. Afinal, talvez isto de haver uma potência ocupante não seja assim tão mau.
Mas, quando olho os telejornais, o que eu gostaria de ouvir é o que os representantes da potência ocupante têm para nos dizer. Na minha opinião, como essa gente vem de fora e é gente informada, é natural que sejam mais objectivos e certeiros nas suas opiniões, e haveria toda a vantagem em conhecer as suas opiniões e conclusões.
Mas estes emissários não falam, eles são apenas emissários, quem vai falar no fim disto tudo vão ser a sra. Merkel e o sr. Staruss-Kahn, eles é que mandam. Mas, entre estes dois políticos, o problema vai ser como é que eles vão conseguir pôr-se de acordo sobre o que é vão dizer.
É que o futuro destes dois personagens está em rota de colisão e de divergência. A Merkel está em curva descendente em relação à Chanceleria e ao Bundestag, o Kahn lá vai subindo rumo ao Eliseu francês. Uma é de direita, o outro é suposto ser de esquerda, têm estratégias e rumos diferentes e quanto a todas essas diferenças ainda não é altura para as abordar.
Assim sendo, fico reduzido a tentar adivinhar algumas das opiniões dos tais intermediários, deduzindo, para isso, algumas coisas daquilo que os representantes patronais portugueses às supostas negociações conseguem dizer perante as ansiosas câmaras televisivas.
Confesso, é muito deprimente ouvir esta gente, faço a minha própria avaliação se bem que não seja psicólogo com baterias de testes à minha disposição, é mais uma impressão subjectiva minha, essa gente dirigente empresarial portuguesa tem um desenvolvimento cerebral e uma capacidade de raciocínio que não me parecem superiores às de um aluno que acabou de concluir o nono ano.
Fico chocado com tal indigência, com tal mediocridade mental tanto mais dramática quanto é esta gente que gere as chamadas confederações patronais, que move milhões e milhões, que faz de Deus na terra, que negocia com os governos, gente que manda gente para o desemprego.
Gente completamente incapaz duma ideia original. Como é que nos podemos espantar que o país tenha chegado ao ponto a que chegou? Eles lá vão recitando, lá vão falando de reformas, de flexibilidade e de todas essas tretas e, eu pergunto, quando é que reformam esta gente?
Mas acontecem sempre imprevistos. Nos testemunhos que ouvi hoje na televisão à saída das audiências com os representantes da ocupação estrangeira, houve um testemunho diferente, não percebi bem qual é que era a sua ideia, a verdadeira intenção, se é que havia intenção da parte do representante da confederação do Turismo.
O homem tinha um ar cool, estava ali a ter os seus minutos de atenção mediática e fez um relato circunstanciado quanto às perguntas e comentários dos troiko-emissários.
Segundo ele, os ditos emissários teriam manifestado o seu espanto pelo mau aspecto das casas, dos imóveis, dos prédios, das fachadas em Lisboa. Espanto tanto mais espantoso o desses senhores, acrescentou o sr. representante do turismo, quanto aqueles senhores estrangeiros achavam que Lisboa é uma cidade muito bonita, blá, blá.
Não sei se era intencional, mas o representante do turismo conseguiu transmitir uma mensagem certeira.
Temos bom clima, clima aliás excepcional, temos património histórico, aliás património excepcional.
Temos isso tudo, temos muitas outras coisas valiosas, mas está tudo em ruínas.
Ontem à noite justamente, passei em Campo de Ourique. Este bairro há muitos anos que é considerado como o supra-sumo da cidade de Lisboa.
Tenho ido ao Porto, zona histórica, caminho com o maior cuidado pelos passeios, é que a maior parte das casas ameaça ruína.
Apanho o comboio para a margem sul, passo pelas traseiras dos prédios que estão à vista. Vejo uma paisagem estarrecedora.
Terceiro Mundo, somos terceiro mundo, somos um país à imagem dos dirigentes, dos políticos, dos empresários, dos intelectuais, dos decisores e dos corruptos que o têm encaminhado para este estado de ruína.
Ruína que, sendo confrangedora, é também paradoxal, porque Portugal é um país de muita gente com talento, artistas, criadores, operários, fadistas, cientistas, arquitectos, padeiros, comerciantes, agricultores, enólogos, intelectuais, estudantes que estudam e se esforçam muito, jovens que se sacrificam para ter futuro.
Pensei em tudo isto quando ouvi o relato dos comentários da troika transmitidos pelo aquele representante do turismo.
Hás as aparências, há as fachadas, umas são boas outras são péssimas, e depois há o que está por detrás de tudo isso.
Por detrás, há sobretudo uma contradição muito pesada, um contradição aparentemente insolúvel entre o país velho dominado por chico-espertos incompetentes, medíocres e corruptos e o país novo com as suas novas gerações de uma nova época que não conseguem afirmar-se.
Concluo, esta contradição não se vai resolver com salamaleques.
Não sei se era intencional, mas o representante do turismo conseguiu transmitir uma mensagem certeira.
Temos bom clima, clima aliás excepcional, temos património histórico, aliás património excepcional.
Temos isso tudo, temos muitas outras coisas valiosas, mas está tudo em ruínas.
A maior parte dos bairros de Lisboa estão em ruínas, esses emissários da potência ocupante têm toda a razão. Mesmo alguns bairros que é suposto estarem num patamar mais elevado. Campo de Ourique, por exemplo.
Ontem à noite justamente, passei em Campo de Ourique. Este bairro há muitos anos que é considerado como o supra-sumo da cidade de Lisboa.
É verdade que é um verdadeiro bairro, com vida própria, comércios, gente nos cafés, bons restaurantes, é uma zona viva desde há muitos anos. Passei, olhei e vi, constatei, as casas de Campo de Ourique têm um aspecto desgraçado. A arquitectura é de péssima qualidade, a maior parte das casas estão boas para deitar abaixo.
Tenho ido ao Porto, zona histórica, caminho com o maior cuidado pelos passeios, é que a maior parte das casas ameaça ruína.
Apanho o comboio para a margem sul, passo pelas traseiras dos prédios que estão à vista. Vejo uma paisagem estarrecedora.
Terceiro Mundo, somos terceiro mundo, somos um país à imagem dos dirigentes, dos políticos, dos empresários, dos intelectuais, dos decisores e dos corruptos que o têm encaminhado para este estado de ruína.
Ruína que, sendo confrangedora, é também paradoxal, porque Portugal é um país de muita gente com talento, artistas, criadores, operários, fadistas, cientistas, arquitectos, padeiros, comerciantes, agricultores, enólogos, intelectuais, estudantes que estudam e se esforçam muito, jovens que se sacrificam para ter futuro.
Pensei em tudo isto quando ouvi o relato dos comentários da troika transmitidos pelo aquele representante do turismo.
Hás as aparências, há as fachadas, umas são boas outras são péssimas, e depois há o que está por detrás de tudo isso.
Por detrás, há sobretudo uma contradição muito pesada, um contradição aparentemente insolúvel entre o país velho dominado por chico-espertos incompetentes, medíocres e corruptos e o país novo com as suas novas gerações de uma nova época que não conseguem afirmar-se.
Concluo, esta contradição não se vai resolver com salamaleques.
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