Guerras sempre houve, não me peçam que explique porquê, até poderá haver razões plausíveis, mas estou seguro que elas ultrapassam o meu entendimento.
No século passado houve duas guerras que ficaram conhecidas como guerras mundiais, uma espécie de medalha de ouro no pódio das guerras. A primeira dessas duas guerras ficou para a história conhecida como a grande guerra. Grande guerra europeia, entenda-se. Alemães e seus aliados dum lado, os outros europeus do outro, incluindo portugueses.
Alguns anos mais tarde, nem sequer foram precisos muitos para se rearmar a tropa fandanga, a mesma engrenagem recomeçou. De um lado, lá continuavam os alemães e em frente quem havia de estar, os mesmos da guerra anterior, Portugal não, valha-nos isso.
Mas desta segunda guerra pode-se dizer que ela foi de facto quase mundial, porque no jogo entrou um novo comparsa vindo de bem longe da Europa e que, em matéria de beligerância, não ficaria atrás dos nazis europeus da Alemanha. Lá vieram então os comparsas militaristas fascistas japoneses, marchando em ordem a partir do sol nascente.
Conquistaram praticamente toda a Ásia quase até à Oceânia. Conquistaram, ocuparam, com requintes terríveis, não quero falar disso.
Acabou essa guerra mundial e no dia seguinte tivemos direito a novo projecto de guerra também à escala mundial. Embora não passando de projecto, esta acabou por ser uma guerra mãe de muitas guerras. Guerra fria mas não frígida.
Para alimentar a guerra dita fria, falava-se muito do perigo de uma terceira guerra mundial, muitos europeus viviam nesse pânico. Mas na Europa, à parte os episódios da Polónia, da Hungria e da Checoslováquia, praticamente não aconteceu nada, caiu o muro de Berlim e aparentemente acabou a ameaça de terceira guerra.
Estamos agora noutro século, já não há a guerra fria, mas durante estes últimos anos, não têm faltado outras guerras, guerras com armas ultra-sofisticadas, armas que matam muita gente, principalmente civis. Iraque, Afeganistão, também não me apetece falar disso.
Apetece-me antes falar de uma nova guerra mundial, que já está no terreno mas cujos comparsas e inimigos ainda são mal conhecidos. Da primeira fase desta guerra, a qual está contida nas fronteiras da velha Europa, começam a ser conhecidas algumas das potenciais vítimas.
No rol dessas vítimas, plantados aqui neste pacífico rectângulo do litoral supostamente europeu, cá estão os portugueses. Lá está também outra gente periférica como nós, os nossos “compatriotas” gregos e irlandeses, que vivem em ilhas. Nós não somos diferentes, é que a península onde vivemos sempre foi uma ilha.
Esta nova guerra poderá vir a ser mundial, mas para já ela é apenas europeia. Mas, como provavelmente virá a ser mundial, ela não vai durar apenas quatro ou cinco anos. E, no meio da engrenagem já em marcha mas que nos escapa, nós pobres ilhéus, periféricos, pigmeus da grande união europeia estamos na primeira linha da infantaria que é mandada para a batalha, nós somos apenas carne para canhão. Paz às nossas almas.
Alguém nos designou para essa primeira linha desta guerra. Supostamente, são as agências de rating, rostos invisíveis que parecem ser os maus da fita. Desconfio desta versão.
Acredito que estamos no início duma guerra que não é propriamente mundial, ela é global, a escala é outra.
E, por detrás dessa guerra há como de costume estrategas nos seus gabinetes comandando os seus exércitos. Os empregados das agências de rating fazem parte desses exércitos.
Quem são os aliados e os inimigos nessa guerra?
Guerra entre ocidente e oriente, entre pacífico e atlântico? Poderá não ser uma guerra de fronteiras, uma guerra geográfica, não é provável que se trate duma coisa desse género.
O que sei é que a Alemanha está metida nisto.
Já lidera a Europa CEE, conseguiu anular o Sarkosy que é um inútil vaidoso, uma espécie de Daladier, e vai submetendo segundo um plano pré-estabelecido e por ordem de fraqueza, um a um, os países do euro. Depois, tratará dos outros.
As agências de rating estão a fazer um óptimo trabalho, nessa tarefa de arrumar os vassalos da Alemanha com os pecs, artilharia pesada.
A Alemanha prepara-se, assim, para a guerra global, está na fase Karajan, a orquestra tem que tocar afinada.
Mas, esquecer a própria história é sempre complicado e a velha Alemanha continua com dois velhos problemas e nos seus sonhos de glória wagneriana continuarão a pairar dois espectros, de nome Inglaterra e Rússia. Canal da Mancha mais estepes geladas, perguntem ao Napoleão e ao Hitler.
No rol das preocupações estratégicas alemãs, qual é então o inimigo? A China, obviamente. A China já esteve mais longe.
Imagino que todas as guerras nasçam sempre com um plano secreto, a coisa é demasiado séria, não pode ser deixada a amadores, a diletantes. Não percebo alguma coisa de guerras, nunca estive em nenhuma, nem dum lado nem do outro.
Li o Clausewitz, talvez tenha percebido algumas coisas.
Esta guerra que se perfila no horizonte e cujos conspiradores parecem ser as agências de rating de que nos fala a televisão, esta guerra está a chegar ao meu bairro mas ninguém se dá conta do que se está a passar. Entre surdas queixas, as pessoas vão-se esforçando por não dar demasiada importância ao que vão ouvindo aqui e ali.
Desconfio, no entanto, que muitos dos meus vizinhos estarão a tratar das coisas para se mudar para outro continente. Não se sentem seguros por aqui, estão muito desconfiados, a maior parte não acredita nem nos políticos nem nos banqueiros, nem nas tretas da televisão. Pressentem que não têm futuro, não há nada pior.
Penso que não têm razão, deveriam ficar, juntar-se, discutir, informar-se, a terra dos nossos pais, a terra dos nossos avós, a terra dos nossos filhos merece sempre que lutemos por ela. Não é porque sejamos melhores ou piores.
É por dever moral, por imperativo categórico, diria o Kant. Imperativo categórico contra os imperativos que fazem mover os senhores da guerra.
1 comentário:
Quem são os inimigos e os aliados?
temo que sejam mais do que as empresas de ratings. Sócrates, Passos e etc. aqueles que no colocaram neste buraco.
José António
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