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sábado, 9 de abril de 2011

UNIÃO EUROPEIA, DE FALÊNCIA EM FALÊNCIA, ATÉ À FALÊNCIA FINAL




Durante dois ou três dias, Portugal tem aparecido nos telejornais, claro que pelas piores razões. Mas, esse protagonismo mediático não vai durar muito tempo.


É que nos próximos meses e pelas mesmas razões que agora nos tocam, caberá a vez a outros países, Espanha, Itália, Bélgica, França, on verra bien. Não falemos sequer dos países de leste da UE, não vale a pena. A guerra financeira europeia ainda vai conhecer muitos episódios.


Por curiosa coincidência, foi a partir da Hungria, que é um dos países mais problemáticos e falidos da União Europeia, que o mundo assistiu ao veredicto sobre Portugal, o veredicto emitido pelos senhores que mandam na dita união.


A mensagem desses senhores foi clara, os portugueses tiveram o descaramento de chumbar o PEC 4. Então, agora vão ter que aguentar outro pec que será muito mais pec. Pergunto eu, será que pec é abreviatura de pecado, abreviatura de castigo?


Falou o comissário da economia, falaram alguns ministros europeus. Humilhante ritual, diria mesmo chocante, se bem que nesta história já nada me choque. Ouvindo todos aqueles falantes com direito de antena, houve um momento em que não pude evitar odiar, foi o momento de despudorada arrogância do ministro finlandês quando ele se referiu ao que Portugal tinha a obrigação de fazer.


Parecia a rainha Vitória enviando o seu ultimato a Portugal em 1890.


Odiei instantaneamente aquele tipo apresentado como ministro. Odiei a Finlândia, não comprem Nokia, não façam férias nesse tal país dos mil lagos. Mandem a Finlândia para o reino dos pecs.


Finlândia, país sem história, país que só há pouco tempo é um país, antes disso provavelmente já era uma nação, mas uma nação durante muito tempo colonizada pela Suécia, nação que depois foi anexada pela Rússia e esteve sob protectorado da União Soviética, provavelmente em retribuição por ter acolhido Lenin quando este conspirava e redigia as teses de Abril.


A Finlândia de Sibelius, sim gosto do Sibelius e do seu poema sinfónico Finlândia, grito pela liberdade.


Então, o que é que nós fizémos, o que é que nós fomos incapazes de fazer para termos chegado ao ponto de ficarmos de repente dependentes da sentença desse país gelado e sem história?


Nós, país-nação mais antigo da Europa, nós que baptizámos o cabo da boa esperança, nós que fomos os primeiros europeus a chegar ao Japão, nós país meridional amado pelo Sol, astro-rei, país sem gelo e sem inverno?


Odiei a arrogância desse pequeno e desconhecido ministro finlandês, mas também odiei os responsáveis que levaram Portugal a mais esta falência.


Mas, odiar, odiar a Finlândia, isso não resolve nada. Está prometido, nunca irei à Finlândia, está resolvido, nunca comprarei nada que tenha o selo desse país. Qu’ils aillent se faire foutre. Voilà!


Não resolve nada odiar a Finlândia em particular, porque o problema é que a UE não passa duma abstracção criminosa, essa é a raiz.


Abstracção criminosa, porque a UE, a que existe, é a Europa dos banqueiros e dos políticos comprometidos com superiores interesses, os interesses de multinacionais, de especuladores e de máfias, a Europa germânica.


Uma Europa contra as nações e contra os povos europeus.


Uma Europa burocrática de grandes tratados assinados à margem da vontade dos eleitores, por cima dos povos, por cima dos que não têm poder se bem que votem nos seus países.


Uma Europa dominada pelos directórios políticos da direita conservadora que sempre que decide jura pela cartilha neo-liberal.


Uma Europa política que só fala de Estado Social quando faz contas sobre o que custa a Segurança Social.


Uma Europa reduzida a uma espécie de esquerda-caviar com o seu pessoal, os seus dirigentes, os seus deputados bem instalados nas benfeitorias que os protegem da precariedade, do desemprego e de não terem um sítio para dormir.


Naquele momento em que se exprimiu a arrogância desse pequeno país sem história que é a Finlândia eu odiei também a falência da esquerda que devia e não defende os povos europeus.


Odiei todos quantos se deixaram endrominar pela propaganda do “Europa connosco”, odiei os que, tendo começado por ser eurocépticos, depois comodamente, lentamente se foram instalando no sistema das viagens a Bruxelas e se conformaram silenciosamente perante a dominação dos países mais ricos.


Antigos eurocépticos que obedientemente aceitaram a ditadura dos tratados de Maastrich, de Nice, de Lisboa. E que obedientemente continuam a aceitar o veredicto dos senhores do eixo Berlim/Bruxelas em relação à Grécia, em relação à Irlanda e agora também em relação a Portugal.


Nesta história, muitas coisas já foram aqui ditas e repetidas, abreviemos.


A Europa tem uma longa história, séculos complicados, muitas guerras, muitas desgraças, muito sangue.


Uma história com muitos povos à mistura, muitas diferenças, muitas línguas, muitas religiões, muitos climas, muitos desentendimentos, muitas culturas.


Reconheçamos, muitas fronteiras mentais foram ultimamente abolidas entre europeus. Estou-me a referir às pessoas, aos povos. Também é verdade que, dentro das fronteiras da EU, não houve guerras com canhões, com mortos, com destruições.


Mas a guerra não acabou. La guerre n’est pas finie.


A guerra contra os povos europeus continua, o capital financeiro e sem pátria não precisa de canhões.


Tem os seus burocratas, os seus especuladores, os seus funcionários, os seus políticos bem comanditados.


Tem a sua arrogância sem limites.


Uma arrogância suicidária, cujas consequências, se essa arrogância sem limites não for travada, serão muito piores, comparação meramente simbólica entenda-se, do que o tsunami japonês de 11 de Março.


1 comentário:

raimundo lulio disse...

Também odiei o Ministro Finlandês. Aquela Finlândia que o "camarada" Sampaio tanto gosta.
Mas o meu ódio reservo-o todo para o "os bons alunos" que, a troco de uns pacatos que ofereceram aos amigos, destruiram, sem dó nem piedade, Portugal.