Merece Portugal os políticos que tem, as suas mentiras e as comédias que encenam? Será que os portugueses merecem os castigos que os políticos decidiram infligir-lhes?
Tivemos eleições há poucos meses, os eleitores elegeram o Sócrates para um novo mandato. Fizeram-no certamente porque estavam contentes, haverá muitos que andarão agora a queixar-se, mas de quem é a culpa?
É verdade que sempre poderão argumentar que não tinham escolha, que o resultado era inevitável. E talvez tenham razão. É que chegámos ao grau zero da política em Portugal: corrupção, políticos incompetentes e mentirosos, compadrios, promiscuidades de toda a espécie. Um inferno cheio de conformismos.
Continuamos com a mesma nomenklatura socialista no poder, a prestimosa nomenklatura que serve devotamente o seu querido líder, continuam os mesmos quase todos em funções, usufruindo das mesmas alcavalas e privilégios.
Continuamos com a mesma corte de políticos engravatados, ciosos dos seus privilégios e dos seus benefícios, convencidos de que são imprescindíveis e, por isso, investidos na suprema missão de “governar”, cheios da sua importância.
O que é que se agravou? É que agora estamos mesmo à beira de uma tremenda bancarrota social e sem perspectivas de dela sair.
Apesar de ter arrastado o país para a situação que conhecemos, apesar de todas as falcatruas e mentiras a que recorreu para ganhar as eleições, o Partido Socialista continua, pois, no poder. É que apoios não lhe faltam, mais à direita, mais à esquerda tanto faz. Apoios à direita é natural, a lógica das afinidades electivas, dos interesses tem sempre muito peso.
PS/PSD são partidos gémeos, ambos testemunham a mesma fraude, a de utilizarem uma designação que historicamente os situaria à esquerda. Só que na prática não passam de fiéis serventuários do torniquete neo-liberal inventado nos tempos do Nixon para melhor espremer quem trabalha e lhes retirar direitos.
Há muito que estes partidos perderam a vergonha na cara, vão alternando, ora um ora outro. E, assim, nada de novo aparece na frente ocidental deste jardim à beira mar plantado.
Apoios à esquerda, também não têm faltado. Último exemplo, o apoio do PCP e do BE às grandes obras – o velho mito da esquerda soviética – do TGV Madrid/Poceirão. Sem negociações, sem contrapartidas, sem garantias, esses partidos foram lestos no seu apoio. Também estão com o Sócrates, por mais que barafustem como é que poderão dizer o contrário?
Haverá ainda uma esquerda e uma direita em Portugal? Os banqueiros, os donos do capital dizem que não, que não há diferenças, sobre estas questões metafísicas não têm estados de alma e provavelmente terão razão. É que com os seus amigos políticos, todos partilham o mesmo barco dos interesses. Existe entre eles um fio inquebrável tecido por uma bela solidariedade de interesses.
Uma solidariedade que não parece ter fim à vista. Basta pensar no cenário que se pré-figura para as eleições presidenciais.
O que é que vai mudar com estas eleições? Será que vão mudar a pobreza, as desigualdades, os baixos salários, os sacrifícios de quem trabalha, de quem sofre em horas e horas de transportes, horas e horas de trabalho, horas para levar o filho ao infantário, quando se conseguiu arranjar um, ou à escola? Será que vão mudar as humilhações e o stress no emprego? Será que vão mudar as horas à procura de emprego, a suprema marginalização de não ter um lugar para trabalhar, um salário?
O Presidente-candidato da República não parece muito preocupado com tudo isso, aparentemente tudo lhe corre bem e, assim sendo, vai deixando andar.
Há muito que já devia ter demitido o governo Sócrates, tem poderes para isso. Um governo incompetente e mentiroso que nos desgoverna, um governo fantoche telecomandado por Berlim e por Bruxelas, incapaz de definir um rumo e uma estratégia para tirar a economia da recessão e estimular a criação de riqueza e combater a pobreza e as desigualdades sociais. Um governo que nos leva a cada dia que passa para mais perto do precipício.
O que é que isso interessa ao Presidente-candidato?
Cavaco arranja desculpas esfarrapadas para justificar a sua inércia e incapacidade, argumenta com a crise, não quer alienar o seu eleitorado mais conservador. Ora, é em tempos difíceis, em tempo de crise que se revela o verdadeiro estofo dos grandes políticos. Cavaco um grande político? Deixem-me rir.
O seu pensamento está todo concentrado no que vai acontecer em Janeiro do próximo ano, aparece na televisão, faz uns apelos aos empresários, invistam, criem riqueza. É o seu palco, o seu papel, não se está a sair muito mal.
Está sobretudo preocupado em assegurar mais cinco anos comodamente instalado no remanso do palácio de Belém, nas mordomias, nas vaidades do seu cargo. E nada preocupado pelo facto de continuar a ser uma nulidade, cujo nome será vagamente recordado em nota de rodapé dos futuros manuais de história.
Manuel Alegre? Que acrescentar ao que ficou dito atrás?
Candidato de esquerda, mas qual esquerda?
Alguém conhece o pensamento político deste candidato, alguém detém a informação privilegiada quanto à maneira como tenciona, se por acaso for eleito, intervir na vida política do país? Pelo que consegui perceber, não tenciona intervir activamente, o que significaria descer ao grau mínimo do presidente corta-fitas.
Que pensa Manuel Alegre quanto à redefinição do papel do Estado e do Presidente da República, quanto à Justiça, quanto a um modelo de desenvolvimento económico que assegure justiça social e condições de vida dignas para todos e preserve os recursos naturais?
O que pensa quanto à justiça fiscal e a uma regulação que submeta o capital, os capitalistas e os banqueiros às exigências da ética e da solidariedade sociais, da democracia e da igualdade perante a lei?
Qual o seu pensamento sobre o lugar e os interesses de Portugal na Comunidade Europeia? Haverá, para além desta, outras opções estratégicas, outros parceiros internacionais porventura mais vantajosos para Portugal, diga-nos, esclareça-nos sr. candidato de esquerda?
Candidato de esquerda, mas qual esquerda? Esquerda, direita, esquerda, direita, faz que anda mas não anda como dizem os brasileiros.
Uma esquerda a marcar passo é aquela que temos e que provavelmente continuaremos a ter, uma esquerda impotente e incapaz de tirar o país do pântano em que ele se atolou ao cabo de três décadas de neo-liberalismo arrogante e impiedoso.
Tem a palavra o povo. On verra bien.
3 comentários:
Acusar o BE e o PCP de estarem com o governo (ou o PS) por terem manifestado acordo com uma medida específica (por mais que se discorde da posição assumida) não é intelectualmente honesto. Pergunto-me porque terá o autor do texto optado por esta questão, em vez de referir, por exemplo, a convergência entre PS, PCP e BE na aprovação da lei dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Isso já não é "estar com o governo"?
Quanto ao pensamento político de Manuel Alegre, só o desconhecimento do que o mesmo tem escrito e dito em numerosas ocasiões recentes pode explicar as considerações feitas no texto. Seria razoável e construtivo que o autor criticasse as posições do candidato; pretender que elas não existem é descabido.
Texto "roubado" (a partir do Combate Social) e colocado em TRIBUNA SOCIALISTA. Obrigado!
João Pedro Freire
Já sabemos que Alegre abençoou a convergência PS/PSD, resultante da "cooperação estratégica" de Belém - ou não tenha sido Cavaco Silva o obreiro da santa aliança.
E não lhe ouvimos (na entrevista que deu a Judite de Sousa) uma única posição contra o PEC e as medidas anti-populares da aliança de direita PS/PSD.
E, assim, ficamos esclarecidos sobre a linha de campanha do "candidato das esquerdas"...
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