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domingo, 13 de junho de 2010

AINDA A FALÊNCIA DO EURO

Um leitor deste blogue, que se deu ao trabalho de me enviar um comentário certeiro ao meu texto sobre o euro, que muito agradeço, tocou no pronto nevrálgico da cacofonia que se vive actualmente na UE.

Diz o autor do cabalas.blogspot.com, cujo nome desconheço:
“O Euro foi o enterro da União Europeia pois veio trazer para a linha da frente diferenças culturais que impedem que a integração prossiga.”
E acrescentou:“Além de que a defesa desesperada do Euro e da própria UE feita pelos seus apoiantes está a enterrar a democracia”.

É a esse ponto nevrálgico que chegámos, não vale a pena assobiar para o lado.



Chegámos ao ponto em que o desespero dos euro-militantes - e são muitos, pois há muitos jobs e interesses em jogo – os levou a passar ao ataque com a velha táctica estalinista da amálgama.

Perante a falência iminente do edifício transnacional que têm andado há anos a congeminar nos confortáveis gabinetes de Bruxelas, como é que estão a reagir? Quem não está com eles, está contra eles, decretaram que não há vida para além da sua União Europeia.

Mas a realidade revela-se todos os dias muito mais complicada do que o maravilhoso mundo novo imaginado por esses senhores burocratas: manifestações, eleições com resultados desastrosos na Holanda e na Bélgica. Onde é que isto vai parar?

Na chamada "União" Europeia, com todos os seus tratados e manigâncias, chegou-se a um ponto bastante claro em que, salvo as devidas diferenças históricas, políticas e culturais, a União Europeia faz pensar na extinta União Soviética.

União Europeia e União Soviética, ambas foram engendradas por minorias pretensamente esclarecidas - ou iluminadas, eles lá saberiam -, em nome de utopias teoricamente generosas e progressistas.

Mas o resultado, como se pôde constatar em relação à defunda URSS, não correspondeu às expectativas. E quanto à UE, é hoje visível que todos quantos seguiram e acreditaram piamente nesta utopia estão no direito de se sentirem defraudados.

O que vemos hoje da UE revela-nos uma realidade iluminada por uma luz completamente nova. É a realidade dos cidadãos europeus utilizados como cobaias. Cobaias, como o próprio nome quer dizer, condicionadas e involuntárias e, que, como todas as cobaias, ficaram totalmente e inteiramente à mercê do poder dos seus criadores.

Fez-se de conta que as cobaias estavam de acordo, enterrou-se a democracia.

O que é que a UE tem a ver com a democracia, o Parlamento Europeu?...Quanto custa e para que serve esse simulacro de democracia?

O que é que Portugal tem a ver com a Alemanha, estou a falar de afinidades culturais, políticas, históricas? Não há muito a dizer. Há o Bach, o Beethoven, o Goethe, o Marx, o Thomas Mann, não são afinidades menores, mas aí estamos no domínio da transcendência de valores universais.

Combatemos os Alemães em La Lys, na Bélgica em 1918, eles aliás deram cabo de nós. Combatemo-los no Sul de Angola, o Roçadas aí teve mais sorte. Com o Hitler, o Salazar manteve-se neutro, mas amigável.

Temos a Volkswagen em Palmela, há por aí muitos outros interesses económicos alemães.

Mandámos muitos emigrantes para a Alemanha, provavelmente alguns casaram-se com mulheres ou homens de nacionalidade alemã. Tudo isso faz parte do “comércio” natural entre povos, isso é bom, é importante.

Mas, e as diferenças de mentalidade, os valores, as referências, as diferenças entre os povos do sul da Europa maioritariamente católicos e os povos do Norte maioritariamente luteranos, patrimónios, distâncias culturais de séculos que não se apagam assim de um dia para o outro?

Essas diferenças não contam? Alguém pensou nisso?

Os burocratas europeus acham que não. Sentem-se poderosos no seu papel, no seu estatuto de burocratas-pigmaliões.

Não me parece exagerado concluir: esses senhores não são muito diferentes dos antigos burocratas da nomenklatura “soviética”. Também eles desconfiam da democracia, gostam de planos quinquenais, de programas de estabilidade e crescimento, os famigerados PEC’s.

As pessoas, os desempregados, os pobres são pormenores tal como no tempo do Breshnev, trata-se apenas de pequenos acidentes, pequenas variações estatísticas.

Não estão preocupados com as consequências da crise que vitima milhões de cidadãos por essa Europa fora. Estão preocupados apenas com a sobrevivência do seu Império.

Dormem descansados, não se dão ao trabalho de reflectir sobre as causas da falência do modelo da União Europeia, sobre as suas ambiguidades e concessões ao poder dos países mais poderosos.

Não se dão conta, ou fazem como se ignorassem, que a criação da moeda única serviu exclusivamente esses países mais poderosos e a ganância do capital financeiro espalhado pelos quatro cantos da dita “União” Europeia.


Abençoados euros, abençoados bancos que tanto se preocupam e se sacrificam pelo bem comum (a este propósito, vale a pena ler o contundente artigo de Rita Ferro, escritora e neta do António Ferro, no Expresso. Ela sabe bem do que fala).

A todos estes senhores, burocratas de Bruxelas e de Estrasburgo, militantes europeístas, militantes federalistas, apetece-me dizer-lhes em bom francês – peço desculpa por ser meio afrancesado, mas tenho uma dívida pessoal com a França – je vous emmerde!


1 comentário:

Anónimo disse...

Quanto mais tempo se perder com esta UE pior será o seu fim. Podemos mesmo estar a engendrar aqui uma nova guerra, já sem Estados na disputa, mas com grupos de mercenários, pagos pelos financeiros cegos pelo brilho do Euro.