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quarta-feira, 25 de maio de 2011

ALTERNÂNCIAS


Teoricamente, a questão essencial das democracias é a da alternância.


Sumariamente, alternância deveria significar que agora governa a direita, a seguir governa a esquerda, mudam os projectos, mudam as políticas, depois logo se vê. A ordem é arbitrária.


Porém, na prática, a alternância política não tem ido além de breves fogachos de mudança. Tem prevalecido uma clara linha de continuidade, a hegemonia da direita conservadora, banqueira e patronal nunca esteve minimamente ameaçada. E não falo apenas de Portugal.


Simples aparências de mudanças, muda o disco e toca o mesmo, sai a direita, e a seguir entre outra direita mais ou menos mascarada de esquerda.


Quando sai o PSD, entra o PS. Sai a direita Buenos Aires, os seus funcionários e os seus banqueiros, entra a direita do largo do Rato, os seus boys e os mesmos banqueiros. Manda esta lógica da alternância democrática à portuguesa que no próximo dia 5 de Junho à noite, os protagonistas do costume se limitem a trocar de papéis. Sai o PS, volta o PSD, simples troca de actores, mudam os figurantes.


Mas a previsível substituição na porta de armas do quartel que se anuncia parece que, desta vez, vai ser mais complicada. É que chegámos a um ponto em que, qualquer que seja a votação final no 5 de Junho, a guia de marcha do próximo governo já está aprovada e a direita que vai governar vai ter que respeitar as ordens da troika estrangeira. Simples questões de soberania, quem é que preocupa com isso, nos dias que correm?


Cómodo para a troika, complicado para o futuro governo. É que, enquanto a troika está espalhada entre Bruxelas, Frankfurt e Washington, o governo vai estar ali naquele que é um dos sítios mais feios de Lisboa, a praça Teixeira Gomes. Que se amanhem.


Até a estas eleições, havia ainda expectativas de uma aparência de mudança, uma aparência de sucessão, uma aparência de alternância política.


O próximo primeiro-ministro, qualquer que ele seja, vai ser apenas o representante obediente e obrigado da chanceler germânica e seus acólitos.


Vice-rei duma democracia fantasma, obrigado a conduzir o país para o abismo da interminável engrenagem da dívida externa e do défice.


Representante da troika, incapaz de dar um murro na mesa e dizer para toda a gente ouvir, acabou-se, custe o que custar, vamos mesmo ter que mudar de vida. Baixem os juros, pagamos quando pudermos, basta de absurdos sacrifícios, basta de austeridade, prioridade à economia e ao emprego!


Primeiro-ministro fantasma de um país fantasma de cidadãos resignados, eis o futuro, não antevejo outro cenário.


Daqui a um ano, ou seja, quando tivermos mais de um milhão de desempregados e muita gente a viver na rua, não estaremos melhor do que está hoje a Grécia. Simples consolação, provavelmente não estaremos sozinhos, haverá outros pigs caminhando para a mesma via sacra.


De quem é a culpa de termos chegado a este ponto? Boa questão.


Culpados, os políticos que nos têm governado e os que os têm deixado governar.


Culpados, os eleitores que têm elegido essa gente.


Culpados, os sindicatos que recolhem as quotas e que de vez em quando fazem umas greves e umas manifestações que não servem para nada.


Culpados, os partidos da esquerda arqueológica cuja influência social e capacidade de mobilização e de propor alternativas são nulas.


Culpados, todos aqueles que se divertem a dizer mal dos políticos e da política e que confundem tudo na sua ignorância. Que saem à rua, com ar divertido mas que não fazem nada de sério e consistente para dar dignidade e sentido à política, à democracia e a uma verdadeira alternância entre aquilo que são os interesses e a hegemonia do capital financeiro e políticas empenhadas em conciliar prosperidade com modernidade, com ecologia, com solidariedade e justiça social.


Infelizmente, o 5 de Junho não vai mudar a indigência colectiva em que mergulhámos. Mas a história não tem fim, chega sempre um dia em que alguém descobre que é tarde demais, que já basta e decide passar à acção.


On verra bien!



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