Tudo isto acaba por ser muito deprimente, quando me refiro a isto, refiro-me ao que aconteceu hoje neste dia 5 de Maio de 2011. Dia em que a troika internacional veio apresentar o seu ultimato ao decadente e triste país que é o nosso.
Mas consideremos outras hipóteses, talvez haja aqui aspectos positivos.
Estamos no auge da crise, à beira da bancarrota, mas temos a “ajuda” internacional. Vem aí muito dinheiro, 78 mil milhões, é muita massa. 12 mil milhões são para os bancos, já estamos habituados. Os bancos são sempre, seja qual for a situação, os reis dos animais, na selva são eles quem mais ordenha.
Perante o ultimato da troika, há quem conclua, finalmente, Portugal vai começar a ser governado, vai haver estratégia, vai haver objectivos.
Implicitamente isto quer dizer o quê? Quer dizer que antes do 5 de Maio nada disso existia, não havia estratégia, não havia governo, só havia gente a aproveitar-se do poder.
Esta grande Ideia segundo a qual finalmente Portugal vai começar a ser governado é transmitida pelos especialistas encartados que se agitam na comunicação social.
Mas o que é mais curioso é que a grande Ideia também é apoiada pelos dois “principais partidos”, considerados como o “arco da governação” porque são eles que, desde há 35 anos têm mandado nos governos que conduziram o país a esta situação de falência nacional.
Ou seja, governos cujos resultados são mais ou menos idênticos aos da monarquia constitucional em 1892.
Esta grande Ideia hoje largamente difundida pela comunicação social parece também ser, não percebi muito bem porquê, apoiada pelo terceiro partido do tal respeitável arco, o CDS/PP.
Os sacrificados, as vítimas do costume vão sofrer muito, tudo isso é confirmado pelos seus carrascos, os altos participantes nacionais ou estrangeiros no golpe de estado que foi hoje concretizado.
Exemplos rápidos.
Nos próximos dois anos a recessão vai ser de 4%. Querem melhor exemplo das desgraças que essa gente nos promete?
Muito menos riqueza produzida, muito mais falências, muito mais pobreza, muito mais desemprego. Esta é a síntese possível em poucas palavras.
Segundo o ministro das finanças que hoje misteriosamente reapareceu, em 2013 a taxa de desemprego vai atingir os 13%. O ministro teve a lata, teve o descaramento, teve a arrogância de pronunciar este número en passant, sem especial ênfase, sem mostrar qualquer sinal de preocupação, para ele é apenas mais um número, disse-o assim como quem diz, olha amanhã vou à ópera, vou ao S.Carlos ver a Madame Butterfly.
Ministro que ressuscitou ao fim de três semanas de silêncios e de rumores de kidnaping político.
Tinha-se feito ver na televisão há dois ou três dias, já não me lembro exactamente, ao lado do Sócrates, primeiro-ministro que, apesar de o seu governo ser apenas de gestão, não resistiu a vestir o seu habitual papel de político de sucesso sempre sorridente a despachar balelas.
O Teixeira ministro entrou nessa fotografia com cara de enterro, tive a sensação de que alguém lhe terá apontado uma pistola ou vens ou estás feito. E ele lá apareceu.
Hoje, 5 de Maio de 2011, dia particularmente triste e deprimente da história de Portugal, o homem, o ministro parecem ter ressuscitado.
Sabe-se lá, será um reality show ou uma história de suspense.
Dará talvez para se fazer um filme noir, que é um género que prezo muito e que anda desaparecido.
O ressuscitado ministro apareceu em conferência de imprensa, deu entrevistas, sempre a insistir nas más notícias com o ar natural de quem não é atingido pelas terríveis novidades e de quem não tem nada a ver nem com as origens nem com as consequências da intervenção estrangeira e das desgraças que ela vai provocar entre os mais fracos, entre as pessoas e as famílias com menores recursos, com menores qualificações, mais velhos, and so on.
Neste dia de 5 de Maio de 2011, que provavelmente a história recordará no futuro como dia particularmente nefasto, o pormenor mais interessante, o facto mais forte que talvez explique a ressurreição do ministro Teixeira dos Santos é que neste dia nefasto nem sombra do Sócrates.
O homem desapareceu, fez-se substituir pelo seu desaparecido ministro. Terá passado à clandestinidade?
Não acredito, esse tipo não tem estofo para passar à clandestinidade, essa é uma passagem demasiado grave que exige predicados morais que estão muito para além das suas capacidades.
Na minha opinião, trata-se apenas dum fait divers de pura cobardia política que o Sócrates justificará para si próprio em nome da eficácia política do marketing para ganhar as próximas eleições.
Resolveu desaparecer hoje porque, se aparecesse, os eleitores seriam tentados a identificá-lo e a apontá-lo como o principal responsável da tragédia em que o país mergulhou. Obviamente, isso não lhe interessa, assim sendo, resolveu fazer de morto.
Reaparecerá sorridente amanhã, com aquela tremenda confiança de quem acredita que o povo não tem grande cabeça, o povo tem a memória curta, as pessoas agora estão mais preocupadas em sobreviver. Mas não guardam rancor, é o que lhe dirão os seus conselheiros em marketing político.
Este tipo, José Pinto qualquer coisa Sócrates, que ainda ocupa as funções de primeiro-ministro, este chico-esperto como lhe chamou o comentador Marcelo, este diplomado fabricado num domingo ao fim duma tarde, este promotor de centros comerciais em zonas ecologicamente protegidas e desenhador de maisons, esse tipo, dizia eu, continua plenamente activo e prepara-se para continuar a praticar mais malfeitorias.
Não passou à clandestinidade, mas alguém terá que o obrigar a regressar ao anonimato que merece. Questão de sobrevivência nacional.
Muitos eleitores, porém, continuarão a acreditar no personagem. São conhecidas tantas histórias de crentes e charlatães. Em geral todas costumam acabar mal. Mas o povo é sereno, já dizia o Pinheiro de Azevedo.
No dia 5 de Junho se saberá que país é que temos.
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