PEDALAR É PRECISO!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

CONTRA A TROIKA GERMÂNICA, NÃO PAGUEMOS!




Há gente que, porque se acha mais forte do que nós, se arroga o direito de nos dar ordens. Nessas alturas, não podemos deixar de ser confrontados com a inevitável questão que é a de saber se nós, aqueles que parecem mais fracos, vão aceitar obedecer àqueles que parecem ser mais fortes.


Hoje ouvimos a chanceler Merkel exigir com ar soberano que Portugal deve diminuir o tempo de férias e aumentar a idade da reforma. Nada disto está previsto no compromisso de submissão à troika, patrocinado pela dita senhora.


Trata-se dum ultimato novo imposto pela lógica do mais forte, a Alemanha, para impor a sua ditadura aos mais fracos, os países falidos, grupo a que pertencemos por imposição alheia.


A reacção portuguesa a este ultimato deixou-me em estado de choque.


Toda a gente com mais ou menos responsabilidades em Portugal ouviu o que a chanceler tinha para dizer como uma coisa normal. A Alemanha é mais forte, por isso, nós obedecemos.


Nenhum líder político ou sindical deu à frau germânica a única resposta que se impunha: ó tia Merkel meta-se na sua vida, trate lá das férias e da idade da reforma na deutschland. Aqui, estamos em Portugal, temos o Tejo, aqui não passa o Reno.


As respostas desses “responsáveis” que ouvi na têvê são sintomáticas e sintomaticamente revoltantes. Foram todas coincidentes, à esquerda como à direita: em Portugal já se trabalha mais horas do que na Alemanha, em Portugal a idade da reforma já é mais tardia do que na Alemanha. Por isso, ó dona Merkel, reconsidere, olhe que não tem razão!


O que é que tudo isto dá como adquirido? C’est três simple: Portugal tem a obrigação de dar explicações à frau Merkel, porque é ela quem manda. Ela é a mais forte, nós somos seus dependentes, ou seja, somos seus criados para todo o serviço.


Chegámos a este ponto de terrível submissão ao poder germânico, chegámos, pois, a este ponto que o chanceler Hitler, apesar de toda a sua máquina de guerra, nunca conseguiu atingir. De quem é a culpa? Boa questão.


A frau Merkel vair emprestar dinheiro a Portugal, ou seja, vai sobretudo financiar os bancos portugueses e o pagamento das dívidas de Portugal aos bancos alemães e a outros por aí espalhados. Como garantia desse empréstimo a juros agiotas, obrigou o governo português socrático de gestão, que até ao último minuto sempre jurou a pés juntos que não era preciso pedir ajuda externa, e os partidos que a chanceler considera serem os únicos partidos de legítima oposição, a assinar um compromisso.


Nesse compromisso, na sua versão original e única em inglês, que como se sabe é a língua neo-liberal e imperialista, não consta qualquer espécie de cláusula sobre a redução do tempo de férias nem sobre o aumento da idade de reforma como contrapartida de Portugal ao empréstimo.


Os tais partidos do “arco do poder” nunca se referiram nem a uma coisa nem a outra. Mas nunca se sabe, porque com essa gente…


O que sabemos e sobre isso não restam quaisquer dúvidas, é que o compromisso com a troika está a ser assumido por esses partidos como o seu futuro programa de governo. Alguns até querem ir ainda muito mais além, fazem imenso zelo em serem mais papistas do que o papa.


Fiéis servidores de sua majestade germânica, disponíveis para servir a sua augusta vontade, prontos para tudo, eis os nossos partidos do “arco do poder”.


É uma triste história não apenas porque a frau Merkel, em vez de Angela, podia ser a Carla Bruni, sempre haveria algumas desculpas.

É uma triste história porque ela não tem fim à vista, a dívida, a submissão, as obrigações de Portugal para com a Alemanha e os seus parceiros euro-êuricos vão crescer em permanente espiral.


Não nos vamos livrar dessa engrenagem.

Em breve, teremos um milhão de desempregados e milhares de pessoas a estender a mão à caridade, em vãos de escada ou nos passeios.

Dívida e juros a acrescentar à dívida e aos juros.

Empresas falidas a acrescentar à interminável lista de empresas falidas.

Muita gente ainda acha que se vai safar ou que até vai ganhar muito dinheiro.
Tremendo egoísmo, terríveis ilusões.

Tremendo egoísmo, tremendas ilusões também da Alemanha com toda a prosápia e arrogância do seu PIB de quase 5%.

É que quando, depois de ter concluído a renegociação já em curso da dívida da Grécia, a Alemanha tiver que aceitar a renegociação da dívida da Irlanda e de Portugal, da Espanha e da Itália, quando for confrontada com o agravamento do declínio da economia americana e da explosão da sua dívida externa, a que santos se vai agarrar a Deutschland uber alles?

Aos países nórdicos fechados no egoísmo do seu aparente sucesso?

Aos ingleses, provavelmente mais perto da falência do que a Espanha?

A quem, Frau Merkel? A que é que se vai agarrar?

Aos chineses, a Singapura, ao Japão, à Austrália, ao Canadá?

Para onde é que vai exportar as maravilhas da deutsche technologie?

A história é como a vida, há os momentos bons, há os momentos maus, hoje estamos lá em cima, uma semana depois descemos cá para baixo. A vida é cruel, Frau Merkel, não se fie demasiado, pode acontecer que a força da sua ditadura se torne uma tremenda fraqueza.

No seu país, poderá acontecer um sobressalto social-democrata, já houve outros no passado. Poderá também nascer uma nova paisagem política mais verde.

Nos países do sul da Europa onde muita gente está a ser acossada e condenada à miséria e à humilhação, poderá haver um sobressalto cívico e político, movimentos fortes na luta pela equidade e pela justiça, movimentos que exijam taxas de juros de zero por cento e prazos mais prolongados em alternativa a não se pagarem as dívidas aos banqueiros alemães.

Uma dimensão inimaginável, como até há pouco tempo eram inimagináveis os movimentos sociais da Tunísia e da praça Trahir, uma espécie de rastilho de pólvora de solidariedade que se pode propagar entre os povos do sul da Europa contra a ditadura do norte e a incompetência e submissão dos seus governantes. Tudo pode acontecer!

Hosni Mubarak, Ben Ali estavam seguros no conforto dos seus palácios e das suas contas na Suiça. Estavam.

Na Europa do Sul, na Europa dos fracos face ao poder do norte europeu e germânico, as exigências de justiça e de dignidade, a vontade de um ajuste de contas vão crescer. Esperemos que sem nacionalismos e outros ismos.

Ajustes de contas moduláveis em diferentes versões. As mais pacíficas vão do pagamos o que pudermos e quando pudermos até ao não pagamos.

A engrenagem em que os países fortes fecharam os países fracos não tem outra saída. Senhores banqueiros, senhores socráticos, frau Merkel, pensem nisso.
Quanto à união europeia, no meio de tudo isto?


Na história como na vida nunca nada está escrito com antecedência de forma irrefutável. Sejamos, por isso, modestos nas nossas expectativas, sejamos realistas.



Para sobreviver, para ser a união de qualquer coisa, a Europa deve manter os pés assentes na terra, deve começar por mandar para casa a interminável casta de burocratas bruxelloise que tem devotamente servido os interesses da ditadura que tudo fez para impor à Europa, em nome dos mais fortes, uma utópica união política sem futuro.



Fiquem-se pela livre circulação de mercadorias e de pessoas. Se o conseguirem, já é um grande avanço.



Deixem a Europa sossegada nas suas diferenças, nas suas afinidades e contradições culturais, na sua solidariedade na defesa dos direitos humanos, do trabalho e da ecologia e da boa convivência entre vizinhos.



Não compliquem, deixem-nos viver a nossa vida em paz. Não nos chateiem!



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