Nestas últimas semanas, ficámos a saber como vão ser os discursos políticos na próxima campanha eleitoral. Não pressagiam grandes esperanças.
Na frente periférico-ocidental europeia onde nos situamos não se anuncia nada de novo. É que os discursos que temos ouvido apenas denunciam a mediocridade do pessoal político que representa o povo e pensa e governa o país.
O PSD, que muda de retórica cada vez que muda de líder, converteu-se de vez ao neo-liberalismo internacional e, convencido que descobriu a pólvora, defende políticas mais radicais do que as que nos são impostas pelos senhores da troika.
Mais redução de impostos para o capital, mais impostos para o povo, mais privatizações pelo preço da uva mijona. Mais coisa, menos coisa, é esse o programa do sr. Catroga e do seu comanditário Passos. Esta gente faz-me pensar naquelas antigas seitas católicas cujo zelo apostólico as obrigava a ser mais papistas do que o papa e a santa inquisição.
Temos noutro quadrante e sob pano de fundo duma certa impotência e desmobilização, o discurso dos anti-capitalistas nostálgicos da criminosa utopia soviética, o PCP e o BE, cujos programas muito sinteticamente apostam na renegociação da dívida. Pouco mais do que isto, falta de imaginação?
O CDS fez algum caminho e muito provavelmente vai-se tornar o árbitro do pós-5 de Junho.
Tem uma nova geração de quadros e de protagonistas, gente nova, boas cabeças, há que reconhecê-lo.
Programaticamente falando, centrou-se em torno duma perspectiva democrata-cristã com preocupações sociais, anti-luta de classes e pela harmonia e convergência de interesses entre patrões honestos e trabalhadores que se esforçam.
Tudo muito bonito…
Quer castigar as fraudes fiscais, mas não se pronuncia sobre as fraudes, os abusos e os privilégios do sistema bancário e dos grandes grupos capitalistas.
Defende a agricultura mas não apresenta um modelo ou soluções para o desenvolvimento económico contra a desertificação de dois terços do país e o abandono dos campos. Não diz nada sobre a entrega das terras a quem as quer cultivar nem quanto às culturas intensivas que destroem o território e o que resta da sociedade rural do Alentejo, por exemplo.
Também é omisso sobre alternativas de desenvolvimento industrial.
No terreno rural como no industrial, aliás, estes neo-centristas convergem bastante com as preocupações do PCP, mas nenhum desses partidos apresenta alternativas novas. Ora, é de alternativas que a gente precisa.
Mas sejamos honestos: no deserto poluído de ideias que se anuncia, o CDS, não sei se é por ter sido o último a apresentar o seu programa, foi de todos os partidos aquele que apresentou propostas mais dignas de reflexão.
Quanto ao programa socrático-socialista, trata-se de um pseudo-programa, é um discurso de silêncios desonestos, um discurso de aldrabões. Isso não nos admira, já os conhecemos de ginjeira.
Tema único do socialismo que nos tem explorado e trazido à desgraça: a grande infâmia da oposição parlamentar que chumbou o PEC 4 e fez cair o governo socialista. Reclamando-se vítimas inocentes injustamente traídas, eis os socialistas portugueses neste ano da desgraça de 2011.
O fado socialista oficial é o fado camiliano “Maria, não me mates que sou a tua mãe”.
Como é um povo fadista, Portugal saberá certamente recompensar essa gente, e, em vez de os meter na cadeia, vai quase certamente levá-los em ombros para S. Bento.
Temos três partidos que concorrem entre si com vista à distribuição de jobs pelos seus apaniguados durante os próximos quatro anos.
Temos um país na falência. Teremos muita gente provavelmente a morrer à fome ou simplesmente por inanição, ou por ruptura mental.
Temos um país, que deixou de ser capaz de se sustentar, capaz de ter vida própria e de decidir o seu destino. Um país que depende, semana após semana, da “ajuda” externa, da “ajuda” do FMI e dos parceiros da união europeia para pagar salários, compromissos e dívida externa.
Um país dependente da agiotagem dos “parceiros” e “amigos” da união europeia, os quais nos emprestam dinheiro à taxa de quase 6%. Dinheiro que, sublinhe-se, lhes foi emprestado pelos bancos alemães à taxa de 2,5%. Uns amigalhaços.
Renegociar a dívida? Convençamos os irlandeses e os gregos, talvez juntos se consiga qualquer coisa. Não é coisa pouca. É que a relação de forças é-nos muito desfavorável, pensemos nisso.
Somos o único país em recessão no mundo, consolemo-nos, na quarta-feira teremos duas equipas portuguesas numa final europeia de futebol. Fado, Fátima, Futebol, onde é que eu já ouvi isto?
Tudo o que ganharmos nos próximos anos vai ser para pagar juros. Uma engrenagem diabólica, estamos nas mãos deles, banqueiros, CEE, BCE, FMI, Angela Merkel, populistas-fascistas europeus and so on.
Estamos nas mãos de toda essa gente. A não ser, a não ser que a política do próximo governo de Portugal consiga pôr em prática uma estratégia para afrontar os jogos bolsísticos dos banqueiros e as pulsões neo-fascistas europeias.
Mas, no jogo político que se trava actualmente com vista às eleições, não vejo nenhum partido que defenda um programa com uma prioridade destas, uma prioridade verdadeiramente estratégica, cujas armas estejam apontadas contra um alvo vital a atingir.
Na minha opinião, esse alvo, o alvo da nossa luta política tem que ser a ditadura da união europeia e do euro.
Sejamos claros, a união europeia destruiu a nossa capacidade para produzir os recursos alimentares de que necessitamos, destruiu o nosso aparelho produtivo, fez de nós um país consumista viciado no crédito fácil, um país vivendo acima das suas possibilidades, um país novo-rico e imprudente. Um país mais injusto e desigual.
Ficámos nas mãos da união europeia agiota, que nos leva os anéis e os dedos. Somos súbditos, servos, criados e eternos devedores dos países ricos da europa. Somos como aqueles portugueses que dantes emigravam para o Brasil e que ficavam para o resto da vida escravos das dívidas que tinham que pagar aos fazendeiros que os empregavam.
Algum desses partidos que se vão apresentar ao sufrágio dos eleitores pensou numa prioridade estratégica quanto à nossa relação com os governos europeus que nos “ajudam”? Algum, por exemplo, decidiu que tem que se negociar os juros da “ajuda”?
Grécia, Irlanda, Portugal, dívida externa, dívidas soberanas, maus governos, democracias incompletas, povos politicamente analfabetos, há um pouco de tudo isto do lado das vítimas.
E do lado dos carrascos? Ganância, abusos de poder, racismo, capitalismo selvagem.
No meio de tudo isto, onde é que paira a utopia da união europeia, comunidade de países iguais e solidários?
No meio de tudo, isso, o que é que estamos a fazer no euro?
Em 1975, Portugal teve a honra de concluir o ciclo da perigosa utopia da revolução socialista europeia.
Talvez estejamos fadados para outras proezas de fim de ciclo histórico.
Pelo caminho que tudo isto leva, não me admirava que em 2013, mais ano menos ano, se consumasse o colapso da união europeia e do euro que conhecemos.
Será um acontecimento histórico da mais relevante importância, claro.
Acontecimento com a marca made in Portugal, teremos ao menos essa consolação.
2013, pode ser o título dum romance estilo Georges Orwell, sobre o princípio do fim da união europeia.
Débâcle europeia, começando com o inevitável colapso financeiro e social de Portugal, falência filha da recessão e do milhão de desempregados que aí vêm, vítima da dívida externa e dos juros galopantes e astronómicos cobrados pelos “amigos” da onça europeus.
Portugal e a Europa no seu melhor. Wake up!
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