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segunda-feira, 30 de maio de 2011

E DEPOIS DO 5 DE JUNHO?

O fim do capitalismo não está para breve, ainda não está na ordem do dia e não vai ser votado no 5 de Junho.





Sejamos objectivos, a história e o progresso da humanidade devem muito ao capitalismo.


O capital criou as fábricas e as indústrias, aumentou consideravelmente a riqueza e os bens materiais e, principalmente, criou uma nova forma de relação social chamada trabalho assalariado, que deu alguma liberdade e autonomia a muita gente.


Eu tenho uma fábrica ou fabriqueta, ou oficina, preciso do teu trabalho, tu não tens terras nem propriedades nem rendimentos, precisas de comer e de dar de comer à tua família, vem trabalhar para mim, eu pago-te um salário. Assinemos esse compromisso, tu trabalhas, eu pago-te um salário. Um contrato, isso nunca tinha existido.


Assina-se o contrato, depois logo se verá.


A vocação, a missão histórica do capital foi esta: criar riqueza, criar emprego, assumir compromissos sociais. Essas foram, mas duvido que continuem a ser, as suas principais finalidades e obrigações.


Mas, as condições em que o capitalismo foi levando a sua avante levantam sérias objecções morais e políticas. Mas não vamos falar disso agora. Fica para outra ocasião.


Os fundamentos para as origens do capitalismo terão sido lançados, a partir do séc. XV, pelas repúblicas italianas com as suas rotas do comércio para o oriente.


Mas as condições decisivas para o início dessa revolução foram criadas pelas rotas abertas pelos portugueses com a Índia e o extremo oriente.


Porém, o capitalismo constituiu-se a partir das riquezas acumuladas pelos piratas ingleses e holandeses no séc. XVI. Riquezas pilhadas aos barcos portugueses e espanhóis nas rotas do Atlântico.





Tais riquezas multiplicaram-se rapidamente em grande parte graças ao génio dos judeus que Portugal e a Espanha tiveram a inteligência de expulsar para o norte da Europa. Mais uma coincidência.


Foi aí no norte da Europa que nasceu o capitalismo e é aí que o capitalismo continua hoje na sua rota histórica, capaz não apenas de criar riqueza e empregos, mas também de impor a sua hegemonia aos outros países mais pobres.


Não é exagero afirmar isto, mas factos são factos, Portugal nunca teve e continua a não ter capitalismo no verdadeiro sentido histórico da palavra.


Aquele capitalismo que Marx admirava porque era o motor de uma nova sociedade, uma sociedade avançada cujo desenvolvimento levaria inevitavelmente a uma sociedade muito mais avançada que era, na sua ideia, a sociedade comunista.


A sociedade do futuro sonhada, entre outros, pelo Dr. Álvaro Cunhal. Sonho que nunca se concretizará, mas que muitos continuarão a sonhar.


Mas esses sonhos, como diria o Marx, são uma espécie de ópio do povo.


A história do “capitalismo” português pode ser condensada em poucos parágrafos.


Portugal teve um grande capitão de indústria chamado Alfredo da Silva. Começou em Alcântara a fabricar velas e sabões, prosperou, criou muitos empregos, transferiu-se para o Barreiro onde construiu um grande complexo industrial. Meteu-se na navegação, nos tabacos, na banca, nos seguros, criou a partir de tudo isso um dos 100 grupos económicos e financeiros mais importantes do mundo no início dos anos 1960.


Segundo parágrafo, pode haver algumas honrosas excepções, mas os capitalistas portugueses, aqueles que hoje passam por tal, não produzem, não têm fábricas, quase não têm empresas, não têm muitos trabalhadores assalariados, mas têm centros comerciais, têm hospitais, têm companhias de seguro, têm bancos, têm auto-estradas, pontes e portagens, têm acções em muitas bolsas internacionais e muito dinheiro em off-shores, têm muitos trabalhadores com contratos a prazo ou a recibos verdes. Dominam a economia, as finanças e principalmente a política e os políticos em Portugal. São estes os “nossos” capitalistas.



Em linguagem cinematográfica, são uma espécie de piratas das Caraíbas, rapinam, usufruem, exploram, mandam em tudo e em todos aqueles em quem vale a pena mandar.


Fim de parágrafo: estes capitalistas são considerados capitalistas porque ganham muito dinheiro. Mas, a origem desse dinheiro é, na hipótese mais favorável e tolerante, mais do que duvidosa.


Donde vem todo dinheiro e esse poder?


A maior parte vem do Estado e dos favores do Estado.


Uma grande parte vem das Parcerias Público-Privados, em linguagem técnica as PPP.


Muitos milhares de milhões vêm das obras públicas, das auto-estradas, das scuts, das obras sem concurso, dos free-ports, dos negócios com contentores, das Estradas de Portugal, dos negócios da saúde, dos hiper-mercados, da gasolina, da electricidade, das eólicas. A lista não tem fim, não sou o Tribunal de Contas. Também sei que, mesmo que fosse eu a mandar nesse tribunal, ou na chamada alta autoridade da concorrência, isso não iria servir de nada.


Estes capitalistas e os seus inúmeros empregados distribuídos pelo aparelho do estado, pela imprensa e televisão e pelos partidos do arco do poder reconhecem-se na quinta-essência do pensamento “neo-liberal”.


Defendem a iniciativa privada, mas principalmente a liberdade de despedir livremente e com o mínimo de indemnizações todos aqueles que para eles têm trabalhado, defendem a liberdade de deslocalizar as empresas que foram subsidiadas pelo Estado para outros países que oferecem salários mais baixos e menos direitos para quem trabalha.


Defendem a privatização das empresas públicas que dão lucro, defendem que o Estado deve financiar o ensino privado, defendem o fim do serviço público de saúde.


Haverá entre esta gente alguém capaz de um mínimo de respeito por obrigações tão elementares e óbvias como sejam as do serviço público, do bem comum, do respeito por quem trabalha? Haverá aí nesse grupo de grandes interesses gente para quem o interesse nacional deva estar acima de quaisquer outros interesses e de rapinas pessoais?


Salteadores de beira de estrada, com os seus capangas, os seus funcionários, os seus políticos.


Salteadores, cujas quadrilhas há décadas se mantêm bem instaladas aos comandos do Estado.


Salteadores que recolhem as migalhas deixadas por outros salteadores bem maiores e mais competentes e mais poderosos.


Salteadores ao serviço dos verdadeiros capitalistas, aqueles do norte que estão aos comandos da união europeia.


As eleições do 5 de Junho não vão mudar nada em relação a tudo isto.


É que as causas já são antigas.


A hora continuará a ser da direita, a hora dos capitalistas portugueses de meia tigela e dos seus políticos. Capitalistas e políticos sem uma ideia digna e ambiciosa para um grande país. Capitalistas que se contentam em prosperar graças aos baixos salários, à pobreza e à precariedade.


Capitalistas que se alimentam da teta do Estado e dos favores e negócios providenciados pelos governos dos partidos da direita que estão comodamente sentados no poder há mais de 35 anos.


Estou a falar do PS, do PSD e do CDS-PP, os partidos agora chamados do arco do poder. Arco do poder, direita dos interesses, direita dos capitalistas ferro-velho que dominam os bancos e os negócios, que despedem gente, que pagam salários miseráveis, que cortam nas pensões. Gente sem vergonha, uma espécie de mladics jugoslavos que deveriam ser enviados para o TPI.



Continuará tudo na mesma, então qual é o problema, já estamos habituados…
O problema é óbvio: é que tudo isto vai ter que ter um fim.




Pensemos então, concentremo-nos no pós-5 de Junho.

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