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sexta-feira, 27 de maio de 2011

RELER MARX




Vivemos as incertezas e o pânico da crise, a campanha eleitoral é patética, não se vislumbram saídas. Mas nada impede que procuremos ajuda. Reflectir é preciso, apeteceu-me, pois, reler alguns clássicos da economia política.


E comecei pelo Marx de 1844, o Marx criativo e sublime cuja genial máquina de pensar não lhe dava sossego. Tempos heróicos esses, os resultados práticos não foram brilhantes é verdade, mas a culpa não é de quem consagrou toda a sua vida a estudar e a combater o capitalismo!


(Textos retirados da edição da Pléiade, Marx, Oeuvres, Économie, II, traduzi o melhor possível)



I


Para que o ponto de vista da economia nacional não passe duma abstracção, o capitalista e o proprietário – que são, como qualquer operário, membros da nação – deveriam chegar à seguinte conclusão: o que me interessa não é que eu consiga ter um lucro maior; o que importa é que o meu benefício aproveite a todos; por outras palavras, o capitalista deveria abolir o ponto de vista do seu interesse particular e, caso se recusasse a fazê-lo, deveria haver quem tivesse o direito de decidir por ele (p. 14).



II
Em caso de crise, (…) os operários deverão reduzir as suas despesas e, para aumentar a sua produtividade, terão que trabalhar mais horas ou produzir mais por cada hora. (…)
Em todas as crises há sempre um movimento cíclico que atinge os operários. Não conseguindo vender os seus produtos, o empregador não consegue empregar trabalhadores. Ele não pode vender os seus produtos, porque não tem compradores. Não tem compradores porque os operários apenas têm par dar em troca o seu trabalho e não podem dar em troca aquilo que não têm.


(…)
Um salário que baixou, mesmo que volte a subir de seguida, nunca volta a atingir o seu nível anterior (p. 155-156).

III
Eis as consequências do aumento das forças produtivas em geral:



a) A situação dos operários piora em relação à dos capitalistas, na medida em que o valor das vantagens que cada um retira é relativo. Em qualquer relação, o gozo de cada um é sempre de natureza social.



b) O operário torna-se uma força produtiva cada vez mais unilateral, que produz o mais possível no mínimo de tempo possível. O trabalho qualificado muda cada vez mais para trabalho simples.



c) O salário depende cada vez mais do mercado mundial; a condição operária torna-se cada vez mais dependente do acaso.



d) No capital produtivo, a parte destinada às máquinas e às matérias-primas cresce mais rapidamente do que a destinada às subsistências. O aumento do capital produtivo não é, pois, necessariamente acompanhado dum aumento da procura de trabalho (p.152-153).

IV



“Suponhamos”, diz H. Merrivale, que foi professor de economia política na Universidade de Oxford, empregado do ministério das colónias inglesas e também um pouco historiador, “suponhamos que, por ocasião duma crise, a nação seja obrigada a um grande esforço para se livrar de algumas centenas de milhar de braços supérfluos, qual seria a consequência disso? Na volta, quando houvesse uma procura mais viva de trabalho, seríamos confrontados com um défice. Por mais rápida que possa ser a reprodução humana, ela precisa sempre do intervalo duma geração para substituir os trabalhadores adultos. Ora, os lucros dos nossos fabricantes dependem sobretudo da sua faculdade para explorar o momento favorável duma forte procura e, desse modo, serem indemnizados pelo período de estagnação. Mas esta faculdade só lhes está assegurada se tiverem à sua disposição máquinas e braços; é preciso que possam estender ou distender as suas actividades consoante os caprichos do mercado, senão serão completamente incapazes de se aguentar na luta desenfreada da concorrência (…)” (p. 462).




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